Seu Madruga, famoso por não pagar aluguel e dívidas com os vizinhos na série de televisão mexicana “Chaves”, se tornou a imagem de uma campanha contra a extorsão e o crime organizado em El Salvador. Em diversos pontos da capital, San Salvador, é possível ver cartazes com o rosto de Don Ramón, nome original do personagem e a frase: “Eu não me deixo ser extorquido”.
Roberto Escobar/Efe
Salvadorenhos se reuniram no monumento à Constituição, em San Salvador, para pedir o fim da criminalidade
Casos de extorsão são bastante comuns em El Salvador e a maioria dos crimes é cometida por gangues organizadas, as chamadas “maras”. Os dois principais grupos, Mara Salvatrucha e Mara 18, usam chantagem para conseguir dinheiro, financiar as atividades e manter o controle dos territórios. Dados oficiais indicam que no país existem 15 mil membros de gangues.
A promotoria geral da República de El Salvador registrou nos primeiros oito meses de 2009 um aumento de 55% nos casos de extorsão, se comparado com o mesmo período do ano anterior: 2.265, contra 1,7 mil.
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“Fartos de nossa impotência, adotamos a figura do Seu Madruga para mostrar que estamos dispostos a recuperar aquilo que nos pertence: os bairros, as comunidades e as escolas”, afirmou ao Opera Mundi Stanley Rodríguez, porta-voz do movimento, que reúne artistas, empresários e estudantes.
“Estamos cansados. Não podemos continuar de joelhos diante de um grupo minoritário”, disse Oscar García, estudante de 23 anos, após receber uma das camisetas que estavam sendo entregues pelos líderes do movimento em uma praça.
O movimento popular recorreu também a blogs, Twitter e Facebook para reunir apoiadores. No serviço de microblog, o usuário @SoyDonRamon convoca manifestações, assim como a página Don Ramón, na rede social. O endereço oficial da campanha na web é http://www.soydonramon.com/
Organizadores da campanha em San Salvador coletaram assinaturas
O governo do presidente Mauricio Funes, da esquerdista FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) começou em fevereiro do ano passado um Plano Nacional de Segurança, que tem como objetivo reduzir os altos níveis de homicídios e combater as gangues e o crime organizado. Para isso, deslocou centenas de militares e policiais para as regiões e cidades mais perigosas do país.
Além disso, o congresso aprovou recentemente uma lei de intervenção nas telecomunicações para reduzir o número de extorsões que, segundo os empresários, custa 2,1 bilhões de dólares por ano.
Relato
Proprietária de uma modesta pizzaria na capital, Aida é uma das vítimas da extorsão em El Salvador. Procurada com insistência há vários dias por membros de gangues, ela prefere se esconder a pagar a taxa ou denunciar a ação, pois teme represálias. “Se você paga a taxa, vão aumentando, e se não paga, logo te matam. É melhor se esconder”, contou a salvadorenha.
Aida disse que no identificador de chamadas de seu telefone aparecem números com um código internacional que, segundo ela, vem provavelmente do país vizinho, Guatemala. A exigência é por uma taxa de mil dólares, que deve ser paga imediatamente, quantia que ela assegura não ter. As “maras” têm tentáculos por toda a América Central, como Honduras e Guatemala.
A nova campanha em El Salvador, na opinião de Stanley Rodriguez, visa fortalecer as pessoas frente ao medo da violência. “Já não podemos permitir que o medo nos paralise”, disse, Rodríguez, que parece não se importar com possíveis problemas legais por utilizar a imagem de Seu Madruga sem autorização.
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