Reino asiático existente desde o século VIII antes de Cristo, o Vietnã ocupa o litoral da península da Indochina voltado para o Mar do Sul da China, estendendo-se entre os deltas dos rios Vermelho e Mekong e espremido entre o oceano e cordilheiras, num terreno coberto pela floresta tropical.
A nação vietnamita – chamada pelo ocidente de “anamita” desde os primeiros contatos com europeus – organizou-se em vários reinos e clãs efêmeros, alternados com quatro períodos de ocupação pelos chineses. Além do império no norte, seus vizinhos (e, recorrentemente, adversários) a oeste eram os khmer (cambojanos), siameses (tailandeses) e birmaneses, povos aparentados dos tibetanos.
Os primeiros europeus a chegarem foram os portugueses, no século XVI, navegando na rota entre a Índia e a China. Com eles, chegaram os padres jesuítas, que introduziram o sistema de escrita em alfabeto latino, fazendo do Vietnã o único país na região a adotar a escrita ocidental.
Em 1802, o atual território vietnamita – até então chamado de Dao Viet – estava dividido entre a província chinesa de Tonquim, no delta do rio Vermelho (norte), o Reino de Anam, no centro, e a Cochinchina, sob influência khmer, no delta do rio Mekong (sul). O príncipe anamita Nguyen Anh (também chamado de Gia Long) conseguiu unificar as três partes, pela força, formando o Reino do Vietnã.
Os descendentes de Anh deram continuidade à dinastia Nguyen, que reinaria sobre o Vietnã até 1945 e batizaria o sobrenome mais comum entre a população. Os novos soberanos tiveram de lidar com a intromissão das potências europeias, cada vez mais próximas, como na Índia – onde os franceses estabeleceram a colônia de Pondicherry – e na China, onde os portugueses já tinham Macau e os ingleses conquistaram Hong Kong na Guerra do Ópio.
Nguyen Anh tinha enviado seu primogênito, príncipe Phuc Canh, à corte de Luís XVI, para ser educado como europeu e católico. O jovem passou dois anos na França e retornou ao Vietnã pouco antes do início da Revolução, mas nunca chegou a assumir o trono, morrendo antes do pai. Seu irmão mais novo, Minh Mang, ao contrário, foi criado na cultura tradicional anamita e desenvolveu grande repulsa pelos ocidentais. Ao ascender ao trono, em 1820, iniciou uma grande perseguição contra os católicos e a minoria europeia (na época, 0,5% da população), principalmente franceses.
A atitude belicosa dos reis do Vietnã serviu de pretexto para os franceses, já na expansão imperialista do final do século XIX, ocuparem o Vietnã e outros territórios do Sudeste Asiático gradualmente. Em 1864, tomaram o forte de Saigon, capital da Cochinchina. Em 1874, transformaram o Anam em protetorado, fazendo o mesmo com Tonquim dez anos depois. Finalmente, em 1887, anexaram o Laos e o Camboja (reino khmer), tomados do Reino do Sião (que permaneceu independente), e unificaram admnistrativamente as colônias com o nome de Indochina.
A Indochina Francesa sobreviveu das plantações de arroz e milho, coleta de borracha e minas de carvão. Os colonizadores dividiram o Vietnã economicamente, aplicando um modelo agroexportador no sul e instalando manufaturas e zonas de mineração no norte. A penetração francesa foi pequena, limitando-se às maiores cidades, onde foram instaladas as administrações coloniais. Nelas ocorreram greves e revoltas contra os colonizadores, mas o resto do território permanecia agrário, com população esparsa em aldeias e com a cultura nativa.
Na eclosão da Segunda Guerra Mundial, o Japão – que já ocupava a China desde a década de 1930 – expandiu sua ocupação militar para o Sudeste Asiático, enfrentando os ingleses na Birmânia e os franceses na Indochina. Como os japoneses confiscavam a produção agrícola, milhões de vietnamitas, cambojanos e laocianos morreram de fome. O Partido Comunista Indochinês, fundado em 1930 por Ho Chi Minh, organizou frentes de resistência, junto ao movimento nacionalista Viet Quoc. Os dois grupos derrotaram os invasores e, após os japoneses, voltaram-se contra os franceses, iniciando a luta pela independência, proclamada em 2 de setembro de 1945.
A Guerra da Indochina começou no vazio de poder deixado pela derrota do Japão, que tinha eliminado a administração colonial francesa. A tentativa dos Aliados em restaurar os colonizadores enfrentou a resistência tanto de monarquistas quanto de comunistas. Em 1947, os combates já se davam principalmente entre militares franceses (enfraquecidos no pós-guerra) e o Viet Minh. A Revolução Chinesa em 1949 levou Mao Tsé-tung ao poder, que enviou ajuda aos comunistas do Vietnã. A batalha decisiva se deu em Dien Bien Phu, quando o Viet Minh cercou e derrotou as tropas francesas.
A paz se deu por meio dos Acordos de Genebra, que dividiu o Vietnã em dois governos, separados na altura do paralelo 17 N. Um descendente dos reis Nguyen, Bao Dai, foi instalado como soberano do sul. A República Democrática do Vietnã foi proclamada no norte, tendo o Partido Comunista no poder e seu secretário-geral Ho Chi Minh como dirigente nacional.
A convivência entre sul e norte foi, desde o início, belicosa. O Partido Comunista do Vietnã engajou-se em uma campanha ativa pela reunificação. No sul, Bao Dai foi deposto por um político vietnamita católico e anticomunista, Ngo Dinh Diem, que implantou uma ditadura. Um movimento popular foi criado no sul, apelidado de “Vietcong” (originalmente, um termo pejorativo), com apoio do norte. Ngo pediu apoio aos Estados Unidos, que, já tendo feito o mesmo na Coreia, poucos anos antes, julgaram que seria uma operação fácil impedir uma invasão comunista pelo norte.
[Texto história de 1964 a 1975.]
Desde a reunificação, o Vietnã conseguiu reduzir as diferenças sociais, coletivizou a agricultura, estatizou e centralizou o planejamento da economia. O socialismo em estilo soviético, numa área tradicional de influência da China, incomodou Pequim, que sustentava o regime maoísta do Khmer Vermelho, de Pol Pot, no vizinho Camboja. Provocações mútuas eclodiram numa guerra em 1978, e o governo de Hanói iniciou uma campanha militar para derrubar Pol Pot. Em reação, no ano seguinte, a China iniciou uma invasão ao Vietnã pelo norte, contida rapidamente mas a um alto custo – foram mais de 20 mil baixas para cada lado.
Ao todo, em menos de meio século, os vietnamitas enfrentaram cinco guerras (contra japoneses, franceses, norte-americanos, cambojanos e chineses) e venceram todas.
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