Os protestos convocados pela oposição venezuelana no início de 2014 tiveram um saldo de 43 mortos, 878 pessoas feridas e 3.351 detidos. Um ano após o ato convocado em 12 de fevereiro, que, por ter deixado três mortos, deu início à onda de manifestações violentas — as chamadas guarimbas —, a oposição encontra-se dividida e o governo enfrenta uma crise de popularidade, agravada pela situação econômica que afeta a nação bolivariana.
Agência Efe
Oposição realizou protesto na última sexta (06/02) contra as filas para comprar alimentos, uma realidade que dura mais de um ano no país
Atualmente, 41 pessoas continuam detidas por conta dos protestos, sendo 27 civis e 14 agentes de segurança — tanto policiais, quanto membros da FANB (Força Armada Nacional Bolivariana) —, como informou a promotora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, durante uma coletiva de imprensa concedida no início da semana. Entre os mortos em protestos ao longo do ano, 33 eram civis e 10 policiais.
Leia também:
Povo fala: um ano depois, o chavismo sobreviveu à morte de Chávez?
Venezuela completa um ano sem Chávez com protestos e desafios na economia
O chavismo chegou para ficar na Venezuela, diz cientista político
Tais manifestações expuseram o racha na oposição reunida em torno da MUD (Mesa da Unidade Democrática), que hoje tenta se reagrupar para ter condições de fazer frente ao governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), que venceu as nove eleições que disputou desde que o ex-presidente Hugo Chávez chegou ao poder em 1999.
O governo, por sua vez, encontra-se em meio a uma crise de ordem político-econômica que se reflete na popularidade do presidente Nicolás Maduro, hoje em torno de 22%, de acordo com pesquisa do instituto Datanalisis, publicada em janeiro deste ano. A metodologia da pesquisa, entretanto, publiciza apenas a porcentagem de venezuelanos que apoiam o governo — deixando de lado tanto tanto os que o consideram “regular”, quanto os que o julgam como “ruim/péssimo”.
Agência Efe
Para tentar conter violência, Maduro ordenou a ida das forças de segurança para locais conflituosos
Fato é que a avaliação do mandatário vem caindo desde março de 2014, quando o mesmo instituto indicava que sua popularidade estava em 37%, índice também inferior aos 51% que aprovavam o governo em dezembro de 2013. Além da reprovação pelo uso de força por parte da polícia venezuelana para conter os protestos, o agravamento da situação econômica também contribuiu para este cenário.
NULL
NULL
Desde a morte do presidente Hugo Chávez em março de 2013 e a posterior convocação de eleições, iniciou-se um processo de deterioração da condição econômica no país com o chamado desabastecimento, que é a falta de produtos nas prateleiras de supermercados, ocasionada, de acordo com o governo, por uma “guerra econômica”. Soma-se a isso a baixa mundial dos preços do petróleo, que deixou o governo em uma situação econômica delicada, com menos recursos para investir em programas sociais e arcar com os compromissos financeiros internacionais, além de uma inflação na casa dos 60%.
Assista à aula pública sobre a política venezuelana:
Os protestos
Conhecido como “La Salida” (a saída), as manifestações convocadas pela ex-deputada María Corina Machado, Leopoldo López e Antonio Ledezma ocupavam vias públicas, colocando obstáculos — entulhos, galhos de árvore e pneus — para impedir a circulação de pessoas. O objetivo era pressionar Caracas e forçando Maduro a ver-se obrigado a renunciar. Duas vezes ex-candidato a presidente, Henrique Capriles, por sua vez, se posicionou contra o movimento, defendendo vias legais para chegar ao poder. O opositor participou, inclusive, do diálogo de paz convocado pelo mandatário para tentar pôr fim os protestos violentos.
A contradição segue na ordem do dia. No final de janeiro, Capriles participou da pacífica “marcha das panelas vazias” convocada por Machado. Sua presença no ato não indica, no entanto, que tenha mudado de opinião e sim que trabalha para conseguir uma unidade dentro da oposição e se fortalecer para as próximas eleições.
Os sinais vindos do outro lado opositor sinalizam que ainda não há consenso. Nesta quarta-feira (11/02), Machado, Ledezma e López divulgaram um “Acordo Nacional para a Transição para a Paz” na qual exigem, entre outras coisas, a “preparação e realização de eleições presidenciais livres e absolutamente transparentes”. Ao não indicar a data para tal pleito, dão margem à interpretação de que seguem defendendo a queda de Maduro, cujo mandato se encerra em 2019.
EUA
Na avaliação do governo norte-americano — a quem Maduro acusa reiteradamente de ingerência e conspiração contra o governo —, “o governo da Venezuela enfrentará protestos massivos nos meses que antecedem as eleições legislativas deste ano. (…) Tememos que isso poderia significar em termos de violência e violações de direitos humanos”, afirmou o diretor da Agência de Inteligência do Departamento de Defesa dos EUA, Vincent Stewart, em um informe apresentado à comissão sobre as ameaças mundiais enfrentadas pelos Estados Unidos no começo do mês.
As declarações foram rechaçadas pelo PSUV.