Com muito pouco você
apoia a mídia independente
Opera Mundi
Opera Mundi APOIE
  • Política e Economia
  • Diplomacia
  • Análise
  • Opinião
  • Coronavírus
  • Vídeos
  • Podcasts
Política e Economia

França: Com 75% da energia vinda de usinas nucleares, lei para reduzir uso é alterada e terá efeito contrário

Encaminhar Enviar por e-mail

Meta de utilização deveria cair dos 75% atuais para 50% em 2025, mas lei joga prazo para "horizontes de 2050" e aumenta teto de produção

Amanda Lourenço

2015-02-26T11:00:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

O plano francês de diminuição do uso de energia nuclear previa diminuir a utilização dessa matriz energética dos atuais 75% para 50% até 2025. No entanto, a Lei de Transição Energética, prestes a ser votada no Senado, já foi tão modificada que, agora, prevê exatamente o contrário: um aumento do uso das usinas termonucleares. Críticos afirmam que, do jeito que está, a norma é “absolutamente retrógrada”.

A termonuclear é o tipo de energia mais utilizado na França. Com a revisão do texto, não apenas o prazo foi empurrado para “horizontes de 2050”, como também incluiu o aumento do teto da produção de energia nuclear de 63,2 para 64,85 gigawatts. Na prática, o acréscimo vai permitir a inauguração de uma nova central em 2017 sem precisar fechar outras duas, como estava previsto.

Wikimedia Commons

Usina em Bugey, França: lei para reduzir dependência de energia nuclear terá efeito contrário

“É um grave recuo e uma visão absolutamente retrógrada. Se a lei continuar como está, de transição energética só vai ter o nome”, argumenta Charlotte Mijeon, porta-voz da associação Sortir du Nucléaire (Sair do Nuclear). “As propostas do governo francês são claramente insuficientes para uma real transição, são bem inferiores às iniciativas de países vizinhos como a Alemanha ou a Espanha favoráveis às energias renováveis”, completa Mijeon.

Críticos apontam que o projeto de lei não apresenta um calendário com prazos e medidas concretas para a transição, deixando o plano subjetivo demais. Por outro lado, se, em curto prazo, o texto permite um aumento da produção nuclear, en longo prazo não favoriza um real desenvolvimento do setor. “Prolongar as centrais nucleares já existentes por muitos anos custaria caro demais, algo entre € 55 bilhões e 250 bilhões de (R$ 180 bilhões e R$ 800 bilhões). Não seria realista lançar essas grandes obras fornecendo novos reatores”, reconhece Mijeon.

A França é o país mais dependente da energia nuclear do mundo e é o segundo maior produtor, atrás apenas dos Estados Unidos. Depois do acidente nuclear de Fukushima em 2011, no entanto, um debate sobre a segurança deste tipo de indústria foi inevitável. “Fukushima mostrou para o mundo que acidentes graves podem acontecer mesmo em países desenvolvidos, mesmo onde pensávamos estarmos seguros. Porque, se no caso de Chernobil ainda havia a argumentação de que era uma central soviética de segurança questionável e sem transparência, o Japão sempre foi considerado um país prudente e confiável”, explica Reiko Hasegawa, pesquisadora do programa Politiques de la Terre da universidade Sciences Po, especialista do caso Fukushima.

Após a catástrofe japonesa, países como Alemanha, Itália e Suíça, entre outros, adotaram políticas para diminuir a utilização de energia nuclear. Para a França, entretanto, não é tão simples assim. “A França é muito dependente da energia nuclear, é difícil mudar. Além da questão ideológica e do possível lobby, tem também o fator econômico com a perda de muitos empregos. Para o governo é complicado administrar isso”, analisa Hasegawa. O setor nuclear gera cerca de 100 mil empregos diretos e 400 mil indiretos, o que equivale a 2% do total de empregos do país.

Exportação do savoir-faire

Ao mesmo tempo em que a França começa a dar sinais (mesmo que contraditórios) de uma política de enfraquecimento da produção nuclear, ela vende sua tecnologia para fora como uma forma de capitalizar a experiência. A França é o líder mundial de exportação de serviços e equipamentos nucleares, um negócio que rende cerca de € 6 bilhões anuais, quase R$ 20 bilhões, segundo a PricewaterhouseCoopers France (PWC), sem contar a exportação da energia nuclear em si.

Nos últimos anos, o país fechou contratos com a China, a Turquia, a Inglaterra, a Bélgica e o Brasil, entre outros. “O setor francês se caracteriza pela integração dos operadores a partir da concepção e pela participação dos fabricantes durante todo o processo. No contexto pós-Fukushima, onde a habilidade técnica é primordial, isso é uma vantagem sobre os concorrentes”, argumenta Hervé Machenaud, diretor executivo da francesa EDF, principal produtora de energia mundial, em entrevista à imprensa local.

Wikimedia Commons/Opera Mundi

Mapa da França mostra localização das usinas nucelares no país

No Brasil, a empresa francesa Areva assinou contrato há pouco mais de um ano para a construção da usina Angra 3, no estado do Rio de Janeiro. Este será o 103ª reator nuclear que o grupo constroi no mundo de um total de 430 ativos. A Areva vai oferecer serviços de engenharia e informática, assim como material e assistência na supervisão dos trabalhos de instalação e testes. O objetivo é terminar a obra em 2018.

A parceria, que contará também com a participação da Eletronuclear, que faz parte da Eletrobras, vai custar aos cofres brasileiros € 1,25 bilhão, cerca de R$ 4 bilhões. Angra 3 terá uma potência de 1.350 megawatts (MW), contra 1.270 MW de Angra 2 e 640 MW de Angra 1, as duas únicas centrais nucleares do Brasil até o momento.

A decisão de voltar a investir na energia nuclear foi tomada em 2008 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O acidente de Fukushima, três anos mais tarde, não mudou os planos. “A decisão de abraçar o nuclear acaba sendo exclusivamente do governo, pois ele é o único que pode arcar tanto com as demandas de uma obra tão imensa, quanto com as consequências caso algo dê errado”, afirma Hasegawa. “O custo de produção, a princípio, é bastante vantajoso para a indústria. Mas o barato pode sair caro em longo prazo para a sociedade, por causa dos resíduos tóxicos”, completa a pesquisadora.

A Electrobras pretende ainda construir outras quatro usinas em Minas Gerais e Pernambuco até meados de 2030, com o objetivo de produzir outros 5 MW de energia nuclear. Ainda assim, este tipo de energia forneceria apenas 5% de todo o consumo elétrico do país. Atualmente a energia hidroelétrica é responsável por 80% da eletricidade brasileira.

Você que chegou até aqui e que acredita em uma mídia autônoma e comprometida com a verdade: precisamos da sua contribuição. A informação deve ser livre e acessível para todos, mas produzi-la com qualidade tem um custo, que é bancado essencialmente por nossos assinantes solidários. Escolha a melhor forma de você contribuir com nosso projeto jornalístico, que olha ao mundo a partir da América Latina e do Brasil.

Contra as fake news, o jornalismo de qualidade é a melhor vacina!

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Política e Economia

Alemanha reduz imposto sobre o gás em meio a alta dos preços

Encaminhar Enviar por e-mail

Scholz afirma que imposto sobre valor agregado cairá temporariamente de 19% para 7% a fim de 'desafogar consumidores'. Governo alemão estava sob pressão após anunciar uma sobretaxa ao consumo de gás durante o inverno

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-18T22:00:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou nesta quinta-feira (18/08) que o governo vai reduzir temporariamente o imposto sobre valor agregado (IVA) do gás, de 19% para 7%, a fim de "desafogar os consumidores" em meio a alta dos preços.

Em coletiva de imprensa, o líder alemão disse esperar que as empresas de energia repassem a economia possibilitada pela medida de maneira proporcional aos consumidores, que usam o gás, por exemplo, para aquecer suas casas em meses mais frios.

A medida deve entrar em vigor em outubro e durar ao menos até o fim do ano que vem. A ideia é diminuir o peso de uma sobretaxa ao uso de gás anunciada pelo governo alemão no início desta semana.

Essa sobretaxa, que também entrará em vigor em outubro para residências e empresas alemãs, foi fixada em 2,4 centavos de euros por quilowatt-hora de gás utilizado durante o inverno europeu.

O anúncio levou a indústria e políticos da oposição a pressionarem o governo alemão a tomar alguma medida para suavizar o aumento dos preços.

"Com essa iniciativa, vamos desafogar os consumidores num nível muito maior do que o fardo que a sobretaxa vai criar", afirmou Scholz.

Inicialmente, o governo alemão havia dito que esperava amenizar o golpe da sobretaxa ao gás tornando somente ela isenta do IVA. Mas, para isso, Berlim precisaria do aval da União Europeia (UE), que não aprovou a ideia.

Por outro lado, o que o governo de Scholz poderia fazer sem precisar consultar Bruxelas é alterar a taxa do IVA sobre o gás em geral. E foi o que ele fez.

O gás é o meio mais popular de aquecimento de residências na Alemanha, sendo usado em quase metade dos domicílios do país.

Alemanha corre para encher reservatórios

Além de planos para diminuir o uso de energia, a Alemanha também segue tentando encher suas reservas de gás natural liquefeito antes do início do inverno.

O vice-chanceler federal e ministro da Economia e da Proteção Climática, Robert Habeck, anunciou recentemente um plano para preencher os reservatórios com 95% da capacidade até 1º de novembro.

No momento do anúncio, as reservas estavam em 65% do total e, no fim de semana passado, chegaram a 75%, duas semanas antes do previsto.

Julian Stratenschulte/dpa/picture alliance
Redução no imposto sobre o gás ocorreu após pressão da indústria e de políticos da oposição

Ainda assim, o chefe da agência federal alemã responsável por diferentes redes, como redes de trens e de gás, disse nesta quinta-feira que tem dúvidas sobre o alcance da meta.

"Não acredito que vamos atingir nossas próximas metas de reserva tão rapidamente quanto as primeiras. Em todas as projeções ficamos abaixo de uma média de 95% até 1º de novembro. A chance de isso acontecer é baixa porque alguns locais de armazenamento começaram num nível muito baixo", disse Klaus Müller ao site de notícias t-online.

Ele também alertou que os consumidores provavelmente terão que se acostumar com as pressões no mercado de gás de médio ou longo prazo.

"Não se trata de apenas um inverno, mas de pelo menos dois. E o segundo inverno [a partir do final de 2023] pode ser ainda mais difícil. Temos que economizar muito gás por pelo menos mais um ano. Para ser bem direto: serão pelo menos dois invernos de muito estresse", afirmou Müller.

Plano de contingência

Em 26 de julho, a União Europeia aprovou um plano de redução do consumo de gás, com o objetivo de armazenar o combustível para ser usado durante o inverno e diminuir a dependência da Rússia no setor energético. O plano de contingência entrou em vigor no início de agosto.

Na Alemanha, o governo segue analisando maneiras de limitar o consumo de energia, antevendo a situação para o próximo inverno.

Prédios públicos, com exceção de hospitais, por exemplo, serão aquecidos somente a 19 ºC durante os meses frios. Além disso, diversas cidades na Alemanha passaram a reduzir a iluminação noturna de monumentos históricos e prédios públicos.

Em Berlim, cerca de 200 edifícios e marcos históricos, incluindo o prédio da prefeitura, a Ópera Estatal, a Coluna da Vitória e o Palácio de Charlottenburg, começaram a passar por um processo de desligamento gradual de seus holofotes no final de julho, em um processo que levaria quatro semanas.

Hannover, no norte do país, também anunciou seu plano para reduzir o consumo de energia em 15% e se tornou a primeira grande cidade europeia a desligar a água quente em prédios públicos, o que inclui oferecer apenas chuveiros frios em piscinas e centros esportivos.

Você que chegou até aqui e que acredita em uma mídia autônoma e comprometida com a verdade: precisamos da sua contribuição. A informação deve ser livre e acessível para todos, mas produzi-la com qualidade tem um custo, que é bancado essencialmente por nossos assinantes solidários. Escolha a melhor forma de você contribuir com nosso projeto jornalístico, que olha ao mundo a partir da América Latina e do Brasil.

Contra as fake news, o jornalismo de qualidade é a melhor vacina!

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!
Opera Mundi

Endereço: Avenida Paulista, nº 1842, TORRE NORTE CONJ 155 – 15º andar São Paulo - SP
CNPJ: 07.041.081.0001-17
Telefone: (11) 4118-6591

  • Contato
  • Política e Economia
  • Diplomacia
  • Análise
  • Opinião
  • Coronavírus
  • Vídeos
  • Expediente
  • Política de privacidade
Siga-nos
  • YouTube
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Google News
  • RSS
Blogs
  • Breno Altman
  • Agora
  • Bidê
  • Blog do Piva
  • Quebrando Muros
Receba nossas publicações
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

© 2018 ArpaDesign | Todos os direitos reservados