“Se não fizer nada agora, vou me arrepender para o resto da vida.” Assim o comerciante alemão Harald Höppner explica a decisão de comprar um barco e deixar Berlim para auxiliar nas missões de salvamento dos refugiados da Líbia e de outros países do norte da África no mar Mediterrâneo.
Ao jornal italiano La Reppublica, Höppner disse que as imagens das pessoas sendo resgatadas após os naufrágios das últimas semanas o levaram a questionar o que ele poderia fazer para ajudar pessoas “que morrem porque não há meios suficientes para salvá-las”. O comerciante mobilizou amigos e conseguiu levantar os 100 mil euros iniciais para comprar um barco de 1917 que era utilizado como casa flutuante nos canais de Roterdã, na Holanda.
Reprodução Facebook
Harald Höppner em seu barco no pier em Hamburgo
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O barco foi reformado e preparado para a missão pretendida e zarpou na última quarta-feira (22/04) de Hamburgo, na Alemanha, em direção ao mar Mediterrâneo. A missão, batizada de Sea Watch, chega a Malta em duas semanas, prevê Höppner. A bordo estão cerca de 15 voluntários, entre marinheiros, médicos e enfermeiros.
“Queremos ser os olhos e os ouvidos para o que acontece no mar. Nosso barco não pode hospedar centenas de pessoas, mas podemos auxiliar as embarcações italianas a encontrar e se aproximar dos barcos em apuros”, explica o comerciante. “Queremos ajudar a salvar vidas. Diante dessas tragédias não podemos ficar sentados olhando.”
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Assim como Höppner, a italiana Regina Catambrone e o ítalo-americano Christopher Catambrone também decidiram agir no Mediterrâneo e auxiliar nos resgates de refugiados no mar. Mobilizados por outra tragédia nos arredores da ilha italiana de Lampedusa no fim de 2013, em que cerca de 400 refugiados morreram após um naufrágio, eles fundaram a ONG MOAS (sigla em inglês para Estação de Auxílio a Migrantes em Alto-Mar) e se equiparam com barco e botes salva-vidas e uma equipe de voluntários.
Reprodução MOAS
Regina Catambrone a bordo da Phoenix, a embarcação de resgate da MOAS
Entre agosto e outubro de 2014, na primeira operação privada de resgate no Mediterrâneo, o barco dos Catambrone resgatou quase 3.000 pessoas. Eles tiveram que suspender as operações no fim do ano passado devido à falta de financiamento, mas voltam a zarpar no próximo dia 02 de maio, em parceria com a ONG Médicos Sem Fronteiras.
Em entrevista à revista italiana L’Espresso, Regina criticou o plano europeu de bombardear os barcos dos contrabandistas de refugiados. “Não existe solução mágica para o problema. O que vemos no mar é resultado dos conflitos políticos em território africano. É lá que a Europa deveria agir. É um erro chamar quem escapa da guerra de ‘imigrante’. São refugiados políticos. Quantos deles conseguem asilo?”