Nesta quarta-feira (20/05), à noite será realizada no Uruguai a vigésima Marcha do Silêncio, protesto que reivindica a investigação do paradeiro dos detidos e desaparecidos do Uruguai durante o período da ditadura militar, que durou de 1973 a 1985. Para responder a essa demanda, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, criou, na noite desta terça (19/05), o chamado grupo de trabalho por verdade e justiça, espécie de Comissão da Verdade, para apurar os crimes de lesa humanidade cometidos a partir de 1968 dentro e fora do país.
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Agência Efe
Tabaré Vázquez e Guido Manini Ríos participam de celebração por ocasião do dia do Exército, celebrado na última segunda
O objetivo do grupo é “investigar os crimes de lesa humanidade cometidos por agentes do Estado ou quem, sem sê-lo, contou com autorização, apoio ou aquiescência deste, dentro ou fora das fronteiras, no marco da atuação ilegítima do Estado e o terrorismo de Estado”, diz o decreto presidencial.
O decreto afirma que o terrorismo de Estado “gerou nas vítimas, nos familiares e na sociedade em seu conjunto feridas profundas por violar de forma grave e sistemática a dignidade humana por meio da tortura, da prisão prolongada, execução e desaparecimento forçado, entre outras práticas” e reconhece que parte do dano causado é “irreparável”.
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A ideia é assim, “promover a Justiça no marco do Estado de Direito sobre a base das normas e padrões internacionais de Verdade, Justiça, Memória e garantias de não repetição”.
Flickr/CC/Nae
Marcha do Silêncio, realizada em Montevidéu em 2009; evento se repete todos os anos
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Durante o período de ditadura no país 37 pessoas detidas desapareceram, de acordo com os dados oficiais. Organizações de defesa dos direitos humanos, no entanto, falam que esse número ultrapassa 200.
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O ex-presidente José “Pepe” Mujica, que passou mais de 13 anos preso por ordem do regime militar, publicou, durante seu governo, uma lista com nomes de 465 vítimas do Estado de exceção, incluindo todas as denúncias apresentadas à Justiça sobre desaparecimentos ou assassinatos durante esse período.
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Exército
Dois dias antes da Marcha do Silêncio, que este ano tem como lema “Basta de impunidade! Verdade e Justiça”, o comandante em chefe, Guido Manini Ríos, pediu que os soldados “não sejam ultrajados por preconceitos do passado”.
Em um discurso realizado na segunda-feira (18/05), Ríos reivindicou o papel do Exército e aproveitou para deixar claro que “ninguém, absolutamente ninguém neste país, pode sequer duvidar da subordinação do Exército ao poder civil, de seu respeito às instituições democráticas e seu compromisso com as políticas do Estado”.