Ao menos 350 pessoas estiveram presentes no fim da tarde desta quinta-feira (21/05) em frente ao Escritório Regional da Presidência da República, em São Paulo, para pressionar o governo brasileiro pela repatriação do palestino-brasileiro Islam Hasan Jamil Hamed, preso desde 2010 na Cisjordânia.
Organizado pela família de Islam Hamed, pela Frente Palestina e pela Missão Humanitária a Gaza, o ato-vigília destaca que Hamed está há 40 dias em greve de fome e passa perigo de vida em meio à demora burocrática das negociações entre Brasil, Israel e a ANP (Autoridade Nacional Palestina) para sua libertação.
Fotos: Sérgio Silva/Opera Mundi
Ato-vigília dispôs velas para formar número '40' —Islam Hamed completou 40 dias de greve de fome
“Espero que o Brasil e Dilma Rousseff tragam o meu sobrinho pro Brasil. É a única chance de vida que ele tem”, disse, emocionada, Mariah Baker, tia de Hamed, em discurso durante o ato.
“Minha irmã está desesperada com o estado de saúde do filho. A aparência dele a deixou muito chocada”, relatou Mariah, sobre as últimas notícias que recebeu da mãe de Hamed, Nádia. “Ele está amarelado, mas o que mais a impressionou foram os olhos, que são de uma tristeza profunda. Às vezes, ele fica confiante de que virá ao Brasil. Mas outras vezes, não.”
A prima de Hamed, Aline Baker, também compareceu à manifestação. “É uma agonia tão grande saber que uma pessoa está há 40 dias em greve de fome, protestando por liberdade. Ele pode morrer a qualquer momento”, disse.
Ativistas acenderam velas e as dispuseram para formar o número '40', em referência à quantidade de dias que dura a greve de fome de Hamed. Os pedestres que passavam pelo local, na Avenida Paulista, recebiam panfletos dos manifestantes.
Uma das organizadoras do ato e amiga da família, Soraya Misleh, da Frente Palestina, cobra do governo brasileiro um posicionamento mais incisivo. “O Brasil, com sua posição de liderança, tem condições de encarar isso de forma mais firme”, disse. E completou: “A Nakba [catástrofe] palestina ainda não acabou. Islam Hamed passou a vida sofrendo por ter a sua terra ocupada pelos israelenses”.
Fotos: Sérgio Silva/Opera Mundi
Entenda o caso
Com cidadania brasileira, Hamed cresceu na Palestina ocupada e aos 17 anos de idade foi preso pelo Exército de Israel por atirar pedras em tanques das Forças Armadas. Após cinco anos, foi libertado, mas meses depois foi preso por mais três anos sob a acusação de que representava uma “ameaça à segurança” israelense.
Após um período em liberdade, Hamed voltou a ser preso em 2010, mas desta vez em um centro de detenção da ANP. Embora seja contrário às políticas do governo liderado por Mahmoud Abbas, não houve nenhuma acusação formal contra ele. Em 2013, foi elaborada uma ordem judicial de soltura, mas até agora ele permanece detido.
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Segundo a ANP, o cárcere se justifica para protegê-lo até mesmo de um eventual assassinato por parte do Estado de Israel. Tel Aviv, por sua vez, responsabiliza o governo palestino pela detenção, embora ocupe a Cisjordânia de modo ilegal de acordo com os tratados internacionais.
De seu lado, o ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota na terça-feira (19/05) em que destaca que nos últimos dias “foram reiteradas gestões junto às autoridades da Palestina e de Israel, em Brasília e naqueles países, para que o nacional brasileiro seja solto e tenha salvo-conduto concedido, com o objetivo de que seja repatriado ao Brasil”.
No comunicado, o Itamaraty ainda lamentou que os esforços diplomáticos ainda não foram suficientes para “sensibilizar” os governos locais e acrescentou que representantes de Brasília “têm realizado visitas regulares para prestar assistência consular ao brasileiro, bem como avaliar seu estado de saúde”.