Em meio a um momento delicado na relação com os servidores do MRE (Ministério das Relações Exteriores) e de inúmeras críticas de que deixou a política externa de lado em seu governo, a presidente Dilma Rousseff fez um aceno ao setor no anúncio do chamado “ajuste fiscal”, na última sexta-feira (22/05). Dentre os R$ 69,9 bilhões cortados pelo governo no Orçamento de 2015, apenas R$ 40 milhões seriam retirados do Itamaraty.
Os servidores do MRE, que fizeram greve entre os dias 12 e 14 de maio devido ao atraso de pagamentos e que pedem reformas estruturais na pasta, viram o corte de apenas 3,3% como um gesto positivo da presidente. As áreas ministeriais mais prejudicadas pela medida foram as de Cidades (54,3%), Desenvolvimento Agrário (48,6%) e a Secretaria de Aviação Civil (40,5%).
Agência Efe
Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi principal artífice do 'ajuste fiscal' anunciado pelo governo Dilma Rousseff na última sexta-feira
“Uma análise preliminar dos dados nos mostra que o corte de apenas 3% nos pareceu razoável e permite que o ministério retome o seu orçamento natural. Ao mesmo tempo em que vemos que há outros ministérios em situação pior que a nossa, um corte mais profundo poderia sucatear o serviço oferecido pelo MRE. Reconhecemos o esforço em evitar o contingenciamento, mas queremos a normalização dos pagamentos”, argumenta Ricardo Mendes, conselheiro do Sinditamaraty (Sindicato Nacional dos Servidores do Itamaraty).
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Para a presidente do Sinditamaraty, Sandra Nepomuceno Malta, não é possível dizer que “o pior já passou”. “Não há previsão de novos protestos, mas os pagamentos estão atrasados novamente em um mês. Em alguns momentos, o governo só pagou depois que o atraso completou três meses. Esperamos que isso não se repita.”
Créditos para o chanceler
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães também viu o índice de 3% de cortes no valor do Orçamento como algo “positivo”, mas lembrou que 90% dos gastos do Itamaraty são fixos. “Não daria para fazer um corte de 50%, porque nossas despesas são fixas, como os aluguéis e manutenção das embaixadas. Não é como o Ministério do Transporte, que dá para adiar as obras”, exemplifica.
Pinheiro Guimarães, considerado um dos principais responsáveis pela política externa brasileira durante o governo Lula (2003-2010), ainda credita a manutenção do orçamento do Itamaraty ao trabalho do atual chanceler, Mauro Vieira, que assumiu a pasta em janeiro deste ano. “É uma vitória do ministro, que foi capaz de mostrar à presidenta a ação do ministério. No momento em que há preocupação do governo com a credibilidade do país no exterior, não poderíamos expor nossas dificuldades. Sem recursos não é possível melhorar a imagem internacional do país e o Itamaraty já passa por escassez de funcionários e de recursos”, analisa o embaixador.
A crise na relação entre o governo federal e os servidores do Itamaraty se agravou no segundo semestre do ano passado, quando os atrasos nos pagamentos se tornaram mais frequentes. De acordo com o Sinditamaraty, a greve de maio foi realizada após o acerto da maior parte das dívidas, para dar destaque à pauta por reformas estruturais na pasta.