Primeiro secretário de Estado norte-americano a viajar para Cuba em 70 anos, John Kerry esteve nesta sexta-feira (14/08) na cerimônia de hasteamento da bandeira dos EUA em Havana. O ato simboliza a reabertura da embaixada e o consequente restabelecimento de relações diplomáticas, após 54 anos, entre as duas nações.
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Kerry ainda terá série de encontros nas dez horas em que permanecerá na ilha, antes de voltar para Washington
Em seu discurso, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos aproveitou a oportunidade para afirmar que o Executivo é “fortemente favorável ao fim do embargo” econômico contra a ilha, mas destacou que isso depende de uma aprovação do Congresso. Apesar disso, reforçou que o presidente de seu país, Barack Obama, está lutando para melhorar outros acordos comerciais e comércios bilaterais nesse intervalo.
“Estamos aqui, porque os nossos líderes [Obama e o chefe de Estado cubano, Raúl Castro] fizeram uma corajosa decisão de não serem prisioneiros do passado”, declarou Kerry. “Mas isso não significa que esqueceremos o passado: como esqueceríamos afinal?”, acrescentou.
Ao longo de seu discurso, ele relembrou momentos-chave das complexas relações entre os dois países, recordando a visita de Fidel Castro aos EUA após o triunfo da Revolução, em 1959, bem como a chamada Crise dos Mísseis, a fracassada invasão da Baía dos Porcos, entre outros episódios políticos marcantes ao longo da Guerra Fria.
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Bandeira dos EUA é içada por três veteranos da Marinha que foram responsáveis por retirá-la em 1961
Embora a cerimônia de reabertura da embaixada só tenha sido realizada hoje, a sede diplomática começou a funcionar formalmente em 20 de julho, cerca de oito meses depois do anúncio de Obama e Castro sobre a retomada de relações.
“É maravilhoso estar aqui. É um momento histórico para explorar novas possibilidades. Estamos confiantes e a hora é agora: não somos mais inimigos e rivais, mas vizinhos. E como vizinhos, temos sempre muito a conversar, afirmou Kerry. “Não a nada a temer com os benefícios que teremos quando permitiremos que nossos cidadãos se conheçam melhor”.
Em alguns momentos em seu discurso, o secretário de Estado norte-americano arriscou um espanhol e ainda citou uma frase de efeito de José Martí (1853-1895), líder da independência de Cuba contra os espanhóis: “Como diz José Martí, tudo que divide os homens é um pecado para a humanidade”, declarou Kerry.
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Após o discurso, a bandeira dos EUA foi hasteada ao som do hino nacional norte-americano. Os responsáveis por içá-la foram três veteranos da Marinha, que foram os responsáveis por retirá-la, mais de meio século atrás. “Promessa feita é promessa paga”, disse Kerry aos marinheiros.
Visita a Havana
Kerry chegou às 9h (10h em Brasília) a bordo de um avião do Departamento de Estado e foi recebido pelo encarregado de negócios da embaixada dos EUA em Havana, Jeffrey DeLaurentis, e funcionários da chancelaria cubana.
Durante as dez horas que passará em Havana, Kerry terá primeiro um encontro com seu colega suíço, Didier Burkhalter, convidado para a cerimônia em agradecimento à contribuição da Suíça como Estado protetor para a defesa dos interesses de Washington na ilha, após a ruptura bilateral e o fechamento das embaixadas em 1961.
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Simpatizantes do restabelecimento diplomático se uniram diante da embaixada cubana em Washington no mês passado
O secretário de Estado ainda se reunirá com o cardeal cubano Jaime Ortega, máxima autoridade católica na ilha, assim como com o chanceler cubano, Bruno Rodríguez Parilla, com quem dará uma entrevista coletiva. Ele voltará para Washington nesta noite.
Histórico
Em 20 de julho, a bandeira cubana foi hasteada na embaixada da ilha em Washington, o chanceler cubano. A reabertura das sedes diplomáticas é um dos passos fundamentais para a normalização das relações bilaterais, desde o histórico anúncio da reaproximação entre as duas nações, em 17 de dezembro de 2014.
Em 29 de maio de 2015, os EUA retiraram oficialmente a ilha da lista de países patrocinadores do terrorismo, uma demanda de longa data do governo cubano. A manutenção no rol legitimava a imposição de sanções, como a proibição da venda e exportação de armas, e impedia que o país tivesse acesso aos recursos do Banco Mundial e de outros órgãos internacionais.
Entretanto, em diversas ocasiões, Raúl Castro e outros líderes cubanos destacaram a importância do fim do embargo econômico contra ilha como exigência fundamental para retomar completamente as relações com Washington.