“Olha essa vista. Preciso de mais o quê? Eu fico dias sem sair daqui”. É assim que o francês Anthony Vonizett define como é morar no morro do Vidigal, zona sul do Rio de Janeiro. Ele é um dos vários estrangeiros que decidiram viver na comunidade, situada em uma das regiões mais cobiçadas da cidade. “É o lugar mais lindo do Brasil”, diz.
Anthony chegou ao país para a Copa do Mundo em 2014 e decidiu ficar. Após meses vivendo em hostels, conseguiu emprego como garçom e alugou uma casa no morro. Esse caminho, afirma o francês, é feito pela maioria dos estrangeiros do Vidigal.
“São muitos gringos aqui. Após conseguir emprego, montamos repúblicas, alugamos casas, quartos. Muita gente veio para assistir ao Mundial e resolveu deixar tudo na Europa para morar aqui. Como o aluguel é mais barato e temos essa paisagem maravilhosa, o Vidigal foi a melhor opção”, afirma.
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Além da localização privilegiada, os estrangeiros apontam segurança e tranquilidade como pontos considerados essenciais para escolha do Vidigal. Desde o processo de pacificação em 2011 e a instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), o crescimento de estrangeiros na comunidade se acentuou. A última estimativa, realizada por moradores do bairro, indica que cerca de mil estrangeiros residam na favela.
“Deixei a França e vim para cá para buscar uma nova vida. E foi no Vidigal porque eu queria entender como é a vida em uma favela. É mais fácil morar no Vidigal do que morar em Ipanema, por exemplo, ou em outros bairros da zona sul do Rio. É mais barato”, diz a francesa Charlotte Ayache, que trabalha como gerente do hostel Alto Vidigal.
Moradores antigos
Considerado barato para os estrangeiros, os preços assustam antigos moradores do morro. De acordo com o presidente da Associação dos Moradores da Vila Vidigal, Marcelo da Silva, com a chegada dos 'gringos' e o ‘novo perfil da favela’, o custo de vida cresceu substancialmente, o que dificulta o acesso às classes populares.
“Para os estrangeiros quem vem de fora, pagar R$800 ou R$1.000 de aluguel é um excelente negócio. Mas para quem é daqui os preços encareceram demais. Agora, quem antes alugava uma casa para toda a família, precisa morar em uma quitinete apertada ou deixar a comunidade”, revela da Silva.
Dodô Calixto/Opera Mundi
Estrangeiros consideram Vidigal um dos melhores lugares para se viver no Rio de Janeiro
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Com a presença de estrangeiros e turistas no morro, prestadores de serviços e o comércio inflacionaram os preços. Até mesmo cariocas estão deixando outros bairros da zona sul para morar no Vidigal. Esse processo de reorganização das áreas pobres com a chegada de moradores com poder aquisitivo maior, afirma da Silva, preocupa quem mora na comunidade há anos.
“Queremos manter a nossa identidade. Existe uma boa interação com os estrangeiros. Eles vieram para somar e são bem-vindos. Muitos deles desenvolvem trabalhos sociais na comunidade. No entanto, as coisas começaram a encarecer: o mercado, o aluguel, os serviços. E o que nos preocupa é que muitas pessoas saíram do Vidigal porque não conseguiram pagar por isso”, explica da Silva.
Uma das evidências do contraste dos antigos moradores e o novo perfil da favela são as festas de luxo que acontecem no alto do morro. Casas de tijolo e ruas apertadas compõem o cenário para celebrações de empresários e celebridades, que chegam a gastar milhares de reais em uma noite.
Principal abrigo das festas de luxo, os hostels foram um dos empreendimentos que mais cresceram no Vidigal. Atualmente, já são mais de dez, construídos em meio as outras casas da favela.
“São festas com muito dinheiro. Muitas pessoas gostam de vir aqui e desfrutar desse clima maravilhoso que temos no Vidigal”, diz Anthony, que trabalha em dos hostels que recebe os eventos de luxo.