O clima foi de surpresa em Buenos Aires. Nas proximidades da praça de Maio, , em cada roda de conversa, era possível ouvir comentários sobre o surpreendente desempenho de Mauricio Macri, candidato à presidência pela aliança Cambiemos (Mudemos). O atual prefeito da capital argentina empurrou a eleição para o segundo turno pela primeira vez na história do país.
Com diferença de apenas 2% de votos para o primeiro colocado, o kirchnerista e atual governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, Mauricio Macri chega ao segundo turno com a força de quem cresceu nas intenções de voto e elegeu a governadora da província de Buenos Aires, a maior do país com quase 12 milhões de eleitores. Sua aliada, María Eugenia Vidal, será a primeira mulher a governar o Estado que, desde 1987 é comandado por peronistas, como Scioli.
Agência Efe
Scioli (esq.) e Macri disputam, agora, voto massista para vencer a eleição
Voto a Massa
Cerca de 3 milhões de eleitores que não votaram nas PASO (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias) foram às urnas no domingo (25/10). O sociólogo Daniel Schteingart avalia que a aliança Cambiemos foi a que mais cresceu entre esses votantes, arrematando mais da metade deles.
Em compensação, Scioli foi o que menos cresceu com a maior participação popular nas eleições, em torno de 350 mil. O sociólogo crê que o que pode definir a eleição é justamente o destino dos cerca de 750 mil votos desse universo que foram para Sergio Massa, da aliança UNA (Unidos por uma Nova Argentina), que ficou em terceiro lugar, com 21% dos votos.
“A pergunta do milhão é se o voto a Massa é peronista ou antikirchnerista”, comenta. “As outras forças podem influir, mas é o voto massista que define essa eleição”.
Para Schteingart, o grande erro na província de Buenos Aires foi a apresentação da fórmula kirchnerista que saiu vitoriosa nas PASO, composta por Aníbal Fernández, chefe de gabinete de Cristina Kirchner, e Martín Sabatella, presidente da Afsca (Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual).
Agência Efe
“Pergunta do milhão é se voto a Massa [foto] é peronista ou antikirchnerista”, diz sociólogo
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Fernández, que tem grande rejeição entre os setores mais progressistas do kirchnerismo, se aliou a Sabatella, nome forte da Lei de Meios e que, sem ter origem peronista, tem rejeição entre os que poderiam eleger o chefe de gabinete.
Schteingart acredita que esse mau desempenho pode ter prejudicado a eleição de Scioli em nível nacional. No entanto, ele avalia que o maior impacto veio das províncias do Noroeste do país. “Apesar da FpV ter ganhado na região, Scioli ganhou com menor vantagem que nas PASO. Foi Massa quem teve maior crescimento aí, provavelmente porque os votos peronistas e dos indecisos foram para ele”.
Surpresa entre eleitores
A enfermeira Silvia Camus, de 50 anos, está feliz com o resultado. Ela conta a Opera Mundi que acompanhou a contagem de votos durante toda a madrugada e que tinha medo de que Macri não chegasse ao segundo turno. Sua principal expectativa é que o candidato ponha fim à corrupção, que ela crê ser o principal problema do atual governo.
Já Gastón Acea, funcionário de uma empresa privada, diz que seu medo é outro: de que a “mudança”, principal mote da campanha de Macri “seja para pior”, caso chegue à Casa Rosada. Ele defende o governo de Cristina Kirchner e diz que Scioli deverá continuar investimentos em políticas sociais “para aproximar as classes sociais”. “Acredito que, se Macri chegar a ganhar, vai acontecer o contrário e vamos ficar desamparados, como já aconteceu com esse país.”Alien
Aline Gatto Boueri/Opera Mundi
Gastón Acea teme que, com Macri no governo, mudança seja “para pior”
Rodrigo Simes, 44 anos, despachante alfandegário, diz que não imaginou jamais que o resultado seria o que se viu com o final da apuração. Ele acha que, independente de quem seja eleito, vai haver mudança. “Acho que a prioridade é destinar os recursos do Estado de maneira mais eficaz, principalmente a saúde e educação”.
Andrea, de 26 anos, prefere não dar o sobrenome porque é funcionária do Poder Judiciário da Capital Federal. Ela diz que esperava o segundo turno, mas acreditava que a diferença seria maior entre os candidatos. Sua expectativa é que o próximo governo “implemente um plano nacional que permita que todos os habitantes do país tenham acesso por igual ao sistema de saúde e educação”. A jovem também reclama uma “mudança radical” nas forças de segurança.