No centro de Caracas soa alto em caixas de som, em looping, a canção “Chávez Corazón del Pueblo”, criada para a campanha presidencial de outubro de 2012. Ao mesmo tempo, centenas de militantes chavistas, uniformizados com camisetas vermelhas, algumas com a característica estampa com o olhar do líder venezuelano, caminham em direção à Avenida Bolívar – cenário nesta quinta-feira (03/12) do encerramento da campanha chavista. No domingo (06/12), o país vota para eleger 167 deputados à Assembleia Nacional, mas o clima é de eleições presidenciais. E o candidato é Chávez.
Marina Terra
“Votamos em 6 de dezembro com Maduro”, diz mensagem em grafitti no centro da capital venezuelana
Falecido em 5 de março de 2013, o presidente venezuelano é figura onipresente nos muros de Caracas e na fala daqueles que apoiam e sustentam o projeto revolucionário iniciado por ele. Defender o atual governo neste novo teste eleitoral significa, para muitos, garantir a continuidade da chamada Revolução Bolivariana, apesar das dificuldades pelas quais passa o país. Isso principalmente no plano econômico, onde uma dura crise fez disparar a inflação e proliferar as filas em supermercados, que quase não têm produtos para vender.
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“Não se trata somente de uma eleição legislativa, mas da defesa do legado do nosso comandante. A defesa da justiça social. Seis de dezembro ganha Chávez”, afirma a Opera Mundi Yaselin Quintero, de 43 anos. Moradora de Caracas, ela aposta que a conscientização política chavista será suficiente para manter a maioria governista na Assembleia, mas comenta qual seria o efeito de uma vitória opositora. “No caso hipotético de que a oposição ganhe, eles vão eliminar as missões. Vão se sentir poderosos e, como têm o apoio internacional das grandes oligarquias, dos poderes econômicos, vão querer tirar o presidente do poder”, opina.
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Para Quintero, é preciso se lembrar do que já foi conquistado “Não se brinca com a comida, com a saúde, com a moradia. Somos um povo consciente agora. Nosso comandante nos ensinou que temos direitos e deveres, a fazer política”, diz.
Mais à frente na multidão, Carlos Salinas, 32 anos, funcionário de uma papelaria em Parque Central, reforça a percepção de que, mesmo com a série de problemas pela qual passa a Venezuela, o mais importante para o chavismo hoje é se manter no poder. “Cada dia sinto que a cidade está mais insegura e perigosa. O comércio fecha cedo. Também há muita dificuldade para comprar as coisas. Mas eu confio no presidente Nicolás Maduro e sei a quantidade de pressões que ele sofre de dentro e de fora, principalmente dos Estados Unidos. Acima de tudo, sei do que a oposição seria capaz caso chegasse próximo do poder. Nos perseguiriam”, expressou.
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Salinas lembra da onda de protestos opositores em março de 2014 que se converteu em ações de extrema violência na capital e em outras cidades do país. Mais de 40 pessoas foram mortas de forma direta ou indiretamente relacionada à onda de agressões. “Chegaram a incendiar uma escola, com crianças dentro. Se são capazes de querer machucar cidadãos tão indefesos, imagine o que poderiam fazer uma vez que estejam no comando. No domingo votarei pela estabilidade do meu país”, finaliza.
Economia
Se a lógica de “castigar” uma administração com problemas nas urnas parece não ter eco entre os chavistas, se deve a uma ampla transformação da realidade política venezuelana desde a chegada de Chávez, analisa a Opera Mundi Luis Salas, economista. “À diferença de outras sociedades, a venezuelana entende que existe um conflito político no país. Que de um lado está o governo e do outro a oposição, apoiada pelos poderes econômicos principalmente”, observa.
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“A revolução não é traída nem condicionada”, afirma outra mensagem pixada em Caracas
Porém, como se observa especialmente entre aqueles que fazem filas de longas horas em supermercados, a paciência é cada vez menor. Também, não são poucos os que opinam que o governo não combate com tanta firmeza a corrupção, outro problema importante na atual gestão. “Sim, se admite que essa administração cometeu erros, mas ao mesmo tempo se valoriza tudo o que se ganhou com o chavismo e, também, o perigo que pode ser uma mudança na politica”, afirma.
“Muitos criticam e condenam a política de controle de preços, de câmbio, mas entendem que até certo ponto ela é necessária, para que não se beneficiem os especuladores”, explica o analista. “A única saída real para a crise econômica é uma intervenção mais ativa do Estado, acompanhada da promoção de outras atividades econômicas. Não podemos continuar tentando controlar o capitalismo, mas sim impulsar outros tipos de economia”, opina.
Em passagem por diversas cidades do país no encerramento da campanha pelas legislativas, o presidente Nicolás Maduro por diversas vezes sublinhou que dos resultados do próximo domingo depende a “estabilidade, a paz e a continuidade das missões” no país. Atualmente com maioria de 100 deputados (hoje a Assembleia tem 165 assentos), o chavismo precisa conquistar pelo menos 84 representantes no parlamento para manter a maioria simples.
“Não somos um governo perfeito, um povo perfeito, mas avançamos muito e precisamos seguir adiante. Temos muita responsabilidade, porque a Venezuela é a voz dos mais pobres daqui e de fora”, conclui Quintero, antes de se misturar à multidão de vermelho que tomava o centro de Caracas.