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Política e Economia

Ex-prisioneiros, libertos, organizam solidariedade a atuais detentos

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Disperso em comitês de apoio para cada preso político, movimento por direitos penais e indulto geral é estimulado por ativistas que saem das cadeias

Breno Altman

São Paulo (Brasil)
2016-08-09T09:00:00.000Z

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O pequeno sobrado entre as ruas Valencia e 16ª, em uma vizinhança predominantemente latina de São Francisco, na Califórnia, abriga o principal centro de memória e difusão da causa dos presos políticos norte-americanos.

Fundado no ano 2000, os Arquivos da Liberdade reúnem dez mil horas de áudio e vídeo, além de milhares de documentos e impressos, sobre movimentos de contestação nos últimos cinquenta anos, especialmente sobre a trajetória de militantes condenados ou assassinados por crime de rebelião. 

O principal dirigente desta organização sem fins lucrativos é Claude Daniel Marks, 66 anos, um radialista que faz parte da história narrada pelo material recolhido por sua entidade.


Clique no banner para ler todas as reportagens da série sobre presos políticos nos EUA

Seu semblante chegou a ser publicado em cartazes com os dez mais procurados foras da lei dos Estados Unidos, a célebre peça de caça do FBI a homens e mulheres classificados como criminosos de grande perigo.

"Os presos políticos não estão condenados apenas legalmente", diz Claude MarksMarks e Donna Jean Willmott, hoje com 66 anos, eram acusados de chefiar um complô para dar fuga, em 1985, a um líder independentista porto-riquenho chamado Oscar Lopez Rivera, desde 1981 cumprindo pena de 70 anos por conspiração sediciosa.

A dupla viveu na clandestinidade durante quase dez anos, até se entregar ao escritório do FBI em Chicago, no dia 7 de dezembro de 1994. Marks cumpriu quatro dos seis anos de sua sentença final. Donna saiu em liberdade depois de 27 meses.

“Os presos políticos não estão condenados apenas legalmente”, explica Marks ao justificar a criação dos Arquivos da Liberdade. “Sua imagem também é vítima de uma campanha negativa permanente, para que sirvam de exemplo a quem eventualmente deseje seguir seus passos e se constranja qualquer gesto de solidariedade. Por isso é tão importante recuperar sua história e produzir instrumentos que possam leva-la ao maior número possível de pessoas.”

English: Former prisoners organize solidarity towards current political detainees

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Os elogiados documentários Legacy of torture, Voices of three political prisoners, Charisse Shumate: fighting for our lives e Self respect, self defense e self determination são algumas das principais realizações de sua equipe.

São um tiro de estilingue se comparados com o poderio dos grandes estúdios de cinema e das televisões, mas iniciativas como estas permitem alguma pluralidade de abordagem em uma sociedade na qual a dissidência política antissistema é tratada como tabu.

Donna Jean Willmott: "Há muita ilusão sobre a propalada democracia norte-americana" “Há muita ilusão sobre a propalada democracia norte-americana”, ressalta Donna. “Os instrumentos de controle da informação são ferozes. Os mais jovens, por exemplo, pouco sabem sobre as lutas do passado, o peso do racismo na ordem social ou o papel colonialista – interno e externo – do Estado norte-americano.”

Marks reclama do abandono ao qual estariam relegados os presos até entre círculos de esquerda, “que se sentem desconfortáveis com a propaganda sobre a natureza violenta da ação política exercida pelos grupos mais radicais nos anos 60, 70 e 80.”

Nenhum dos dois, no entanto, vê com otimismo uma solução para o caso. 

“Não há saída única”, esmiúça o diretor dos Arquivos da Liberdade. “Os crimes federais dependem de perdão da Casa Branca, os estaduais de indulto dos governadores, além de situações que ainda dependem de desenlace judicial.” 

Para Donna, o que poderia ajudar seria a pressão internacional. 

“Se os Estados Unidos fossem denunciados em organismos mundiais, da mesma forma que fazem com governos adversários de seus interesses, seria mais fácil buscar algum acordo para esta tragédia humanitária”, defende.

Outro dos problemas é a falta de unidade entre os apoiadores dos presos políticos. Cada um deles possui seu próprio comitê de solidariedade, com agendas e ações que raramente se articulam com os demais, parcialmente reproduzindo as divergências político-ideológicas dos grupos e subgrupos aos quais pertenciam ao caírem presos. 

“O caso dos presos políticos é marginal em nosso país”, afirma Laura WhitehornMovimento Jericó

Importante iniciativa para romper esta divisão ocorreu em 1998, com uma marcha diante da Casa Branca que levou ao surgimento do Movimento Jericó. A iniciativa partiu de Jalil Muntaqim, um dos mais antigos condenados, que lançou manifesto propondo a união de todos os sentenciados políticos dos Estados Unidos.

A entidade ainda existe, mas jamais logrou ser guarda-chuva único para todas estas causas. Outras empreitadas foram aparecendo e operando com limitada harmonia.

Centenas de libertados das últimas décadas, de um modo ou outro, acabaram se associando ao esforço de tirar os demais do cativeiro. Mas a energia consumida por este empenho parece ter enormes dificuldades de gerar sinergia. 

A jornalista e editora Laura Jane Whitehorn, 71 anos, é uma das ativistas que, após cumprir seu período de cadeia, vem se dedicando a ajudar os demais.

Filha de uma família judaica do Brooklin, foi militante dos Weathermen Underground, a principal legenda da esquerda revolucionária branca. Pertenceu, depois, a um dos filhotes desta agremiação, a  Organização Comunista 19 de Maio, que se especializou – entre os anos 70 e 80 - na explosão de instalações militares, principalmente em Nova Iorque e Washington DC.

Aprisionada em maio de 1985, Laura acabou condenada a 20 anos, mas recebeu condicional com 14 cumpridos.


Entidade policial faz campanha contra livramento condicional de presos políticos

Pode voltar à atividade política a partir de 2005 e participa em várias associações de colaboração com os presos, além de atuar em publicações que tratam de temas direta ou indiretamente ligados a assuntos carcerários.

Suas ideias sobre o que fazer, contudo, são peculiares.

“O caso dos presos políticos é marginal em nosso país”, afirma. “Por mais que trabalhemos a seu favor, há um enorme muro de contenção na opinião pública. Somente romperemos esse isolamento se abordarmos o tema como parte da luta contra o encarceramento em massa, uma das faces mais brutais e explícitas da violência do Estado.”

O caminho que ela aponta passa por bandeiras como idade máxima para restrição prisional, liberação em caso de enfermidades graves, mecanismos mais generosos de progressão penal, eliminação de reclusão para delitos sem sangue.

Susan Rosemberg: "Nada do que fizemos foi em vão. Lutamos pelo que valia a pena lutar, por sonhos que continuam atuais."Sua ex-companheira de organização e colega de cárcere, Susan Lisa Rosemberg, 61 anos, encontrou outra forma de contribuir para a campanha libertária: dedicou boa parte do tempo, após sair da prisão, a escrever sua biografia, intitulada An american radical: a political prisoner in my own country, lançada em 2011.  

Vários antigos presos políticos têm optado por colocar no papel sua experiência. De fato, na última década, há uma pequena onda literária com publicações do gênero, que terminam por auxiliar na divulgação desse drama originário dos anos rebeldes.

Susan foi detida na posse de explosivos, em 1985, durante operativo policial. Engajada desde a escola secundária, foi o último capítulo de sua vida política antes de conhecer as piores masmorras do país. 

Condenada a 58 anos, beneficiou-se de um indulto do presidente Bill Clinton no último dia de mandato, que reduziu a pena para 23 anos e permitiu seu imediato livramento condicional.  

Para ela, a solidariedade aos presos vai além de uma questão humanitária, representa o resgate do compromisso de uma geração.

“Cometemos erros terríveis, acreditando em alternativas que não tinham qualquer chance de dar certo”, confessa. "Mas nada do que fizemos foi em vão. Lutamos pelo que valia a pena lutar, por sonhos que continuam atuais."

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Política e Economia

Mandato de Petro e Márquez inicia com altas expectativas do povo colombiano

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Com desejo de melhorias na área social e menos violência, primeiro governo de esquerda do país recebe legado desafiador

Redação

Brasil de Fato Brasil de Fato

São Paulo (Brasil)
2022-08-09T19:50:00.000Z

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Gustavo Petro e Francia Márquez começaram nesta segunda (08/08) seu mandato como líderes do novo governo colombiano. É a primeira vez que o país tem uma gestão com origens alternativas e populares. Durante a cerimônia de posse, na mítica Praça de Bolívar, localizada no centro de Bogotá, houve diversas manifestações culturais, que se replicaram por todo o país.

Em cerimônias de posse em todo o país, centenas de pessoas indígenas, afro-colombianas, jovens de bairros populares e famílias inteiras deixaram suas casas para abarrotar as principais praças e parques.

Na capital Bogotá, podia ser notada a expectativa que cerca o novo governo eleito. "Só tenho alegria e felicidade. estamos reunidos com os nossos colegas porque hoje é um dia de festa, dia de dizer 'sim' à paz", disse Robin Ortega.

Já a moradora da capital, Maria Cristina Muñoz, diz que, "para nós, colombianos, isto significa esperança. Nós sofremos, nossos jovens foram mortos. Estamos felizes por essa nova mudança."

De fato, o novo governo representa a esperança de milhões de colombianos, principalmente as classes marginalizadas, os chamados "ninguéns", as diversidades étnicas e sexuais, os excluídos.

Seja na melhora da área da saúde, como diz Hilda Urrea: "venho de Engativá, na localidade 10, venho para a posse do dr. Gustavo Petro, porque graças a ele temos a esperança de abrir o hospital San Juan de Dios e de fazer justiça." Seja na construção de um país menos desigual: "acho que significa devolver ao país a ideia de construir uma nação inclusiva, que represente a diversidade que a Colômbia tem e, sobretudo, a esperança de que o fortalecimento das instituições possa continuar ocorrendo de forma democrática", diz Ana Milena Molina.   

Petro, como representante do primeiro governo de esquerda a chegar ao poder na Colômbia nos mais de 200 anos de vida republicana, buscou abordar as expectativas do povo que lhe saudava.  

Reprodução/Francia Márquez Mina/Twitter
Gustavo Petro e Francia Márquez começaram nesta segunda-feira (08/08) seu mandato como líderes do novo governo colombiano

“Neste primeiro discurso como presidente da Colômbia, diante do Poder Legislativo e diante do meu povo, quero compartilhar meu decálogo de governo e meus compromissos. Trabalharei para alcançar a paz verdadeira e definitiva. Como ninguém, como nunca antes. Vamos cumprir o acordo de paz e seguir as recomendações do relatório da comissão da verdade. O ‘governo da vida’ é o ‘governo da paz’. A paz é o sentido da minha vida, é a esperança da Colômbia. Não podemos falhar com a sociedade colombiana. Os mortos merecem isso. Os vivos precisam disso. A vida deve ser a base da paz. Uma vida justa e segura. Uma vida para viver gostoso, para viver feliz, para que a felicidade e o progresso sejam a nossa identidade”, disse no domingo (07/08) o novo presidente.

Na posse, estavam a primeira-dama, Verónica Alcócer, e os filhos de Petro. Diante de delegações internacionais, dos presidentes do Chile, Argentina, Equador e Bolívia, e do rei da Espanha, o novo presidente prometeu que não permitirá que a desigualdade e a pobreza que dominam a Colômbia continuem sendo naturalizadas.

A cerimônia de posse foi marcada por simbolismos, como a exibição da espada de Simón Bolívar, representando a unidade dos povos da América Latina e a promessa de um governo popular que trabalhará pela unidade do país.

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