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Política e Economia

Movimento #FeesMustFall avança luta por educação superior gratuita na África do Sul

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Após vitória contra aumento de taxas nas universidades em 2015, estudantes sul-africanos retomam protestos e denunciam crise nas instituições de ensino do país

Amanda Lourenço

2016-02-13T09:00:00.000Z

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Em outubro do ano passado, universitários da África do Sul se organizaram no movimento #FeesMustFall (“as taxas devem cair”, em tradução livre), em protestos que se espalharam pelo país. O objetivo era impedir o aumento de até 11,5% no valor das inscrições das universidades públicas, projeto cancelado pelo próprio presidente sul-africano, Jacob Zuma, após negociação com a liderança do movimento. A vitória, no entanto, não foi suficiente para aplacar os estudantes, que agora exigem a gratuidade das taxas. Universidades tentam negociar soluções intermediárias, como a extensão do prazo de pagamento, mas os estudantes organizados não aceitaram a proposta e prometem renovar os protestos em 2016.

“Sou bolsista, simplesmente não tenho dinheiro para pagar por nenhuma taxa da faculdade”, disse em entrevista a Opera Mundi Mogabale Sello, aluno do segundo ano de Ciências Políticas na North-West University, uma das maiores universidades do país, e um dos integrantes do movimento. “Queremos educação gratuita de qualidade para todos. Há muitos estudantes com grande potencial que não podem estudar porque têm problemas financeiros”, argumenta o estudante de 23 anos.

Na África do Sul, as taxas das universidades dependem do curso e da instituição, podendo variar entre 30 e 50 mil randes, cerca de 7 e 10 mil reais por ano. Normalmente os cursos de graduação duram três anos, o que soma aproximadamente 120 mil randes ou 30 mil reais por um diploma. Não existe salário mínimo nacional e os trabalhadores negociam a base de acordo com a profissão, numa média mínima de cerca de 2 ou 3 mil randes mensais (440 ou 730 reais) no setor privado. Ou seja, sem o auxílio de bolsas de estudos, jovens de famílias mais pobres não podem frequentar as universidades.

Wikimedia Commons

Marcha do movimento #FeesMustFall na Universidade da Cidade do Cabo em outubro de 2015

O movimento estudantil insiste que é possível oferecer educação superior gratuita e a questão é debatida por especialistas na mídia nacional. O governo sul-africano investe 0,8% do PIB do país nas universidades, porcentagem abaixo da média mundial. Defensores da gratuidade das universidades argumentam que 2,5% seria uma parcela apropriada e dentro das possibilidades econômicas da África do Sul.

Enquanto isso, alguns alunos tentam driblar o problema pedindo doações para as matrículas. O Conselho Representativo Estudantil da Universidade de Witwatersrand (SRC) afirma que já foram arrecadados 4,4 milhões de randes, que equivalem a mais de 1 milhão de reais, para ajudar com as inscrições, mas argumenta que esta é apenas uma solução temporária: “A captação de recursos administra apenas o sintoma de um sistema estruturalmente excludente. A doação para os estudantes não é a solução definitiva para o problema. Precisamos questionar e desafiar o sistema em si”, afirmou em comunicado o SRC.

Enquanto as universidades de Pretória e Johannesburgo, as maiores cidades do país, continuam batendo de frente com o movimento estudantil, outras como a University of Western Cape, na Cidade do Cabo, já cederam, pelo menos por este ano. Alunos economicamente desfavorecidos e bolsistas não precisam pagar as taxas de 2016. “Nossa universidade garante que nenhum estudante será excluído da educação superior por dificuldades financeiras”, afirmou por e-mail um porta-voz da instituição.

Crise complexa na educação

No entanto, tudo indica que o pagamento das matrículas seja apenas a ponta do iceberg. Segundo análise do Departamento de Educação Superior e Formação da África do Sul, apenas 15% dos alunos inscritos nas 23 universidades públicas do país saem com um diploma na mão. Mais da metade dos estudantes abandonam o curso logo no primeiro ano. Uma das razões para tamanha evasão é a difícil situação financeira de muitos alunos, que não são capazes de se manter ao longo do ano e acabam desistindo do curso.
 

Rajendra Chetty, chefe do Departamento de Pesquisas da Faculdade de Educação e Ciências Sociais na Cape Peninsula University of Technology, afirma que os protestos estudantis são um sintoma de um problema social mais profundo: “O fato de serem os pobres e as classes trabalhadoras a origem do movimento é a indicação clara de uma luta de classes. Isto é ainda mais reforçado pelo fato da grande maioria dos manifestantes serem negros. Etnia e classe estão no centro do sistema universitário excludente atual da África do Sul”, denuncia o professor.

Wikimedia Commons

Estudantes levantam as mãos em sinal de paz durante protesto do #FeesMustFall em outubro de 2015

Os estudantes de origem mais pobre chegariam à universidade em desvantagem não apenas pela dificuldade em se manter financeiramente, mas também por terem uma base educacional menos sólida. Além do mais, os problemas sociais do país andam de mãos dadas com a questão racial – o apartheid acabou há apenas 25 anos, deixando uma pesada herança de segregação e desigualdade.

Ainda hoje existe uma concentração maior de negros em universidades de menos prestígio, enquanto os brancos ocupam os assentos das melhores instituições, que até 1994 eram reservadas exclusivamente para eles por lei. Não por coincidência, estas têm as taxas de inscrição mais elevadas. “O modo de funcionamento do sistema educacional sul-africano mantém a estrutura de classe da sociedade do apartheid. É apenas lógico que universidades com taxas maiores possam oferecer uma maior qualidade de educação para estudantes da classe média”, explica Chetty.

O movimento estudantil tem consciência desta luta de classes e parece ter assumido a identidade negra em seus protestos. No manifesto oficial do #FeesMustFall de Johannesburgo, a organização se define “filosófica e politicamente como um movimento de consciência negra, que procura a compreensão da condição negra no espaço universitário”.

Por outro lado, grupos de supremacistas brancos também tornaram os protestos uma questão racial quando passaram a apoiar o movimento estudantil. Jornais locais denunciaram uma possível força branca por trás dos protestos, não em favor dos alunos, mas se apropriando de qualquer movimento que possa enfraquecer o presidente Zuma, a quem querem derrubar. Os estudantes não descartam a hipótese. “Tudo é política. Pode ser que isso seja verdade, mas não é o caso aqui na nossa universidade. Estamos apenas fazendo a nossa parte”, disse Mogabale.

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Política e Economia

Alemanha reduz imposto sobre o gás em meio a alta dos preços

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Scholz afirma que imposto sobre valor agregado cairá temporariamente de 19% para 7% a fim de 'desafogar consumidores'. Governo alemão estava sob pressão após anunciar uma sobretaxa ao consumo de gás durante o inverno

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-18T22:00:00.000Z

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O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou nesta quinta-feira (18/08) que o governo vai reduzir temporariamente o imposto sobre valor agregado (IVA) do gás, de 19% para 7%, a fim de "desafogar os consumidores" em meio a alta dos preços.

Em coletiva de imprensa, o líder alemão disse esperar que as empresas de energia repassem a economia possibilitada pela medida de maneira proporcional aos consumidores, que usam o gás, por exemplo, para aquecer suas casas em meses mais frios.

A medida deve entrar em vigor em outubro e durar ao menos até o fim do ano que vem. A ideia é diminuir o peso de uma sobretaxa ao uso de gás anunciada pelo governo alemão no início desta semana.

Essa sobretaxa, que também entrará em vigor em outubro para residências e empresas alemãs, foi fixada em 2,4 centavos de euros por quilowatt-hora de gás utilizado durante o inverno europeu.

O anúncio levou a indústria e políticos da oposição a pressionarem o governo alemão a tomar alguma medida para suavizar o aumento dos preços.

"Com essa iniciativa, vamos desafogar os consumidores num nível muito maior do que o fardo que a sobretaxa vai criar", afirmou Scholz.

Inicialmente, o governo alemão havia dito que esperava amenizar o golpe da sobretaxa ao gás tornando somente ela isenta do IVA. Mas, para isso, Berlim precisaria do aval da União Europeia (UE), que não aprovou a ideia.

Por outro lado, o que o governo de Scholz poderia fazer sem precisar consultar Bruxelas é alterar a taxa do IVA sobre o gás em geral. E foi o que ele fez.

O gás é o meio mais popular de aquecimento de residências na Alemanha, sendo usado em quase metade dos domicílios do país.

Alemanha corre para encher reservatórios

Além de planos para diminuir o uso de energia, a Alemanha também segue tentando encher suas reservas de gás natural liquefeito antes do início do inverno.

O vice-chanceler federal e ministro da Economia e da Proteção Climática, Robert Habeck, anunciou recentemente um plano para preencher os reservatórios com 95% da capacidade até 1º de novembro.

No momento do anúncio, as reservas estavam em 65% do total e, no fim de semana passado, chegaram a 75%, duas semanas antes do previsto.

Julian Stratenschulte/dpa/picture alliance
Redução no imposto sobre o gás ocorreu após pressão da indústria e de políticos da oposição

Ainda assim, o chefe da agência federal alemã responsável por diferentes redes, como redes de trens e de gás, disse nesta quinta-feira que tem dúvidas sobre o alcance da meta.

"Não acredito que vamos atingir nossas próximas metas de reserva tão rapidamente quanto as primeiras. Em todas as projeções ficamos abaixo de uma média de 95% até 1º de novembro. A chance de isso acontecer é baixa porque alguns locais de armazenamento começaram num nível muito baixo", disse Klaus Müller ao site de notícias t-online.

Ele também alertou que os consumidores provavelmente terão que se acostumar com as pressões no mercado de gás de médio ou longo prazo.

"Não se trata de apenas um inverno, mas de pelo menos dois. E o segundo inverno [a partir do final de 2023] pode ser ainda mais difícil. Temos que economizar muito gás por pelo menos mais um ano. Para ser bem direto: serão pelo menos dois invernos de muito estresse", afirmou Müller.

Plano de contingência

Em 26 de julho, a União Europeia aprovou um plano de redução do consumo de gás, com o objetivo de armazenar o combustível para ser usado durante o inverno e diminuir a dependência da Rússia no setor energético. O plano de contingência entrou em vigor no início de agosto.

Na Alemanha, o governo segue analisando maneiras de limitar o consumo de energia, antevendo a situação para o próximo inverno.

Prédios públicos, com exceção de hospitais, por exemplo, serão aquecidos somente a 19 ºC durante os meses frios. Além disso, diversas cidades na Alemanha passaram a reduzir a iluminação noturna de monumentos históricos e prédios públicos.

Em Berlim, cerca de 200 edifícios e marcos históricos, incluindo o prédio da prefeitura, a Ópera Estatal, a Coluna da Vitória e o Palácio de Charlottenburg, começaram a passar por um processo de desligamento gradual de seus holofotes no final de julho, em um processo que levaria quatro semanas.

Hannover, no norte do país, também anunciou seu plano para reduzir o consumo de energia em 15% e se tornou a primeira grande cidade europeia a desligar a água quente em prédios públicos, o que inclui oferecer apenas chuveiros frios em piscinas e centros esportivos.

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