No final de março, o Chile divulgou dados de seu crescimento econômico – incremento no PIB (Produto Interno Bruno) de 2,1% em 2015, maior que boa parte dos países da América Latina – mas, ao mesmo tempo, revelou um dado preocupante: a mineração, principal atividade da região, registrou a primeira retração desde 2009 – queda de 0,2%. A extração e o trabalho do cobre respondem por 60% das atividades econômicas do país.
Entre as consequências nocivas que o cenário mundial apresenta para o Chile está a possibilidade de diminuição dos empregos no setor da mineração, possibilidade admitida pelo economista Óscar Landarretche, que é presidente da empresa Codelco (Companhia do Cobre, a estatal cuprífera chilena). Segundo ele, “é possível que o preço do cobre continue caindo este ano, e que termine dezembro de 2016 com um valor ainda menor que o de 2015”, e essa tendência “nos obrigaria a fazer sacrifícios maiores”.
Chancílleria del Equador / Flickr CC
Chuquicamata, mina de cobre e ouro no norte do Chile, responsável pela maior parte da extração de cobre no país
Perguntado diretamente sobre a possibilidade de haver cortes de pessoal, especialmente em setores terceirizados da empresa, Landarretche afirmou que “serão tomadas as medidas que sejam necessárias para o bem da empresa, mas sempre com responsabilidade e consequência, somos conscientes do papel que a Codelco e a mineração como um todo têm para a economia do país”.
Entre os seus sócios da Aliança do Pacífico, o Chile foi o que teve o menor crescimento – o México cresceu 2,5%; a Colômbia, 3,1%; e o Peru, 3,3%.
Por sua parte, o ministro da Fazenda do Chile, Rodrigo Valdés, justificou essa queda no setor da mineração devido ao baixo preço do cobre e de outras matérias-primas minerais no mercado, e pela menor demanda da China (principal comprador do cobre chileno), e considerou as cifras favoráveis, apesar de baixas. Em entrevista para meios locais, Valdés disse que “o país enfrenta um cenário internacional complexo, a menor demanda da China em 2015 era uma variável com a qual nós não contávamos quando fizemos as projeções, mas pudemos conter um pouco esses efeitos graças ao crescimento de quase todas as demais atividades”.
Segundo números do Ministério da Economia do Chile, além da mineração, somente a pesca registrou queda na produção em 2015, enquanto os ramos que demonstraram maior crescimento foram os das indústrias madeireira, vinícola e da produção de alimentos, além dos setores de serviços e telecomunicações.
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O ministro Valdés se mostrou pouco otimista com relação aos próximos anos. Apesar de destacar os resultados dos programas de incentivo a diversificação da economia e seus efeitos no PIB de 2014, o ministro assumiu que a economia chilena continua dependente da mineração. “A verdade é que precisaríamos de uma recuperação do preço do cobre, para poder incentivar maiores investimentos no setor e um crescimento como nos melhores anos deste século, e não contamos com essa possibilidade a médio prazo”, comentou.
Ajuste fiscal
O governo também atualizou para baixo as projeções de crescimento para 2016. Segundo Valdés, o Chile deve crescer algo entre 2% e 2,5% – a previsão anterior estava entre 2,5% e 3%.
As projeções econômicas do governo foram questionadas pelo economista e ex-candidato presidencial Andrés Velasco, líder do partido Ciudadanos (“cidadãos”, de oposição ao governo de Michelle Bachelet), que vê nas expectativas do governo um pessimismo injustificado. “Não precisamos voltar a crescer num ritmo como no começo do século, mas se a política econômica atua sobre os problemas que afetam o crescimento, se o governo é capaz de discutir os ajustes tributários e os incentivos ao investimento, podemos ao menos equiparar as cifras dos demais países da Aliança do Pacífico”, disse.
Nesse sentido, o governo chileno vem anunciando detalhes do plano de ajuste fiscal programado para o biênio 2016-2017, que prevê corte de gastos em quase todos os setores do Estado – exceto na saúde. Para Velasco, “o equilíbrio fiscal é uma necessidade e uma mostra de serenidade do governo, mas também é preciso zelar pela harmonia entre o mundo empresarial e o do trabalho, e nesse sentido é de se esperar que essa mesma cautela seja observada na reforma das leis do trabalho” – projeto que está tramitando atualmente no Senado chileno, e cujo sentido é o incentivo à sindicalização e às negociações coletivas.
O ajuste também despertou polêmica com entidades estudantis, que acusaram o governo de colocar em risco a promessa de Bachelet de alcançar a gratuidade para todos os estudantes de universidades públicas – segundo a reforma educacional, a gratuidade no ensino superior avançaria progressivamente, sendo que, em 2016, apenas os 50% mais pobres entre os universitários chilenos obtiveram o benefício.
Valdés garantiu que o corte de gastos não coloca em risco as metas definidas pela reforma educacional, e que haverá incentivos do Estado para apoiar a recuperação da mineração. “A mineração continuará sendo a principal fonte de riqueza do país, pelo menos nos próximos vinte ou trinta anos, e precisamos que ela seja mais dinâmica, para enfrentar os desafios do futuro”, afirmou o ministro, que citou a criação de uma nova política nacional para o lítio – metal cuja demanda tem crescido nos últimos anos, e que, assim como o cobre, também tem no Chile o seu maior produtor mundial – como exemplo das novas medidas que vem sendo estudadas.