O processo de impeachment que a presidente Dilma Rousseff enfrenta na Câmara dos Deputados tem mobilizado brasileiros que moram no exterior contra e favor da destituição da mandatária.
Na Argentina, a reportagem de Opera Mundi conversou com brasileiros que vivem em Buenos Aires. Julia Cavalcante, de 33 anos, se opõe ao possível de impeachment da presidente brasileira. “Sou contra por um motivo bem simples: não há crime de responsabilidade, logo, é golpe”, diz Cavalcante. Para ela, parlamentares que querem destituir Dilma têm interesse no engavetamento de investigações de casos de corrupção no poder público. “Com a saída de Dilma”, diz a musicista, “todos os processos serão engavetados. É ingenuidade achar que mesmo a Lava Jato terá continuidade.”
Já Daniela Damiani, que vive na capital argentina há sete anos, diz ser a favor do impedimento de Dilma “e de qualquer pessoa que cometa abuso de poder ao exercer cargo político e coloque sua ambição e interesses próprios acima de coisas básicas, como ética, moral e valores”. Para ela, a situação da saúde pública e da educação no país “já é motivo para justificar uma mudança”.
Leia a seguir os depoimentos de Julia, Daniela e de outros brasileiros que vivem na Argentina:
Julia Cavalcante, 33, diretora de coral em Buenos Aires
Julia Bragança Cavalcante tem 33 anos e mora em Buenos Aires há um ano e seis meses. A paulistana, que estudou música na Unirio, é diretora de um coral na capital argentina e é contra o impeachment da presidente do Brasil.
“Sou contra por um motivo bem simples: não há crime de responsabilidade, logo, é golpe. E isso fica cada vez mais explícito quando se vê a quantidade de deputados que votaram a favor de aprovar o impeachment na Comissão da Câmara que estão acusados de corrupção. Fica claro qual é o interesse dessas pessoas. Durante o governo do PT, as investigações sobre corrupção fluíram com autonomia e, se as investigações prosseguirem, vão todos presos. Além disso, com a saída de Dilma e a chegada do [vice-presidente Michel] Temer à presidência – com [Eduardo] Cunha como vice [mesmo não assumindo o cargo formalmente, o deputado é o próximo na linha sucessória] – todos os processos serão engavetados. É ingenuidade achar que mesmo a Lava Jato terá continuidade.”
Gustavo Jonck, 33, professor de português em Buenos Aires
O paulistano Gustavo Jonck, de 33 anos, veio para Buenos Aires para praticar o espanhol, logo depois de se formar em Letras pela USP (Universidade de São Paulo). Na cidade desde 2009, ele trabalha como professor de português em um colégio particular e se declara contrário ao impeachment de Dilma Rousseff.
“Não existe nenhum crime que justifique esse impeachment e, feito dessa forma, seria uma ação contra a democracia, contra o voto popular que elegeu a Dilma. Os políticos que estão a favor desse impeachment são justamente os criminosos, os corruptos que querem tirá-la da presidência, tomar o poder e se livrar dos processos abertos contra eles. O primeiro de todos é o [deputado federal pelo PMDB do Rio de Janeiro] Eduardo Cunha. É claro que existe uma insatisfação com o governo da Dilma, mas retirá-la do governo seria um golpe contra a democracia.”
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Daniela Damiani, 33 anos, formada em relações públicas; mora em Buenos Aires
Daniela Tigre Damiani, de 33 anos, é formada em relações públicas e deixou Lages, em Santa Catarina, há sete anos, quando se apaixonou por um argentino. Em Buenos Aires desde então, ela hoje tem dois filhos. Daniela apoia o impeachment.
“Eu sou a favor do impeachment de Dilma e de qualquer pessoa que cometa abuso de poder ao exercer cargo político e coloque sua ambição e interesses próprios acima de coisas básicas, como ética, moral e valores. O povo está cansado de ser enganado e trabalhar para sustentar e pagar a vida de marginais e delinquentes. É muito triste ver, mesmo que de fora, a situação lastimável em que se encontra o Brasil. Não precisa ser especialista para ver o que está acontecendo em nosso país. Basta ver como vai a saúde pública e a educação e isso já é motivo para justificar uma mudança.”
Thais da Motta Câmara, 21 anos, estudante de medicina em Buenos Aires
Thais da Motta Câmara, de 21 anos, veio a Buenos Aires para estudar medicina. Ela saiu de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, há dois anos e hoje é aluna da UBA (Universidade de Buenos Aires). Favorável ao impeachment, ela reclama que no Brasil não conseguiria cursar a carreira pelo volume de investimento que precisaria fazer – em um cursinho preparatório ou em uma universidade particular – e elogia o acesso universal ao ensino superior na Argentina.
“Acho que, com o PT, já deu o que tinha que dar. É muita covardia com o povo brasileiro um partido que se diz eleito pelo povo, que diz lutar pelo povo, se virar contra o próprio povo e começar a roubar. É muita covardia com o povo. É complicado ver pessoas que diziam antes que lutavam pelo povo, como o Lula, começar a fazer isso. Michel Temer e Eduardo Cunha não são as melhores pessoas para governar o país, mas do jeito que está é muita cara de pau. Acho que o impeachment seria bom com novas eleições para tentar mudar de verdade.”
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Lula Marques / Agência PT
A presidente brasileira, Dilma Rousseff, em evento no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (13/04)