Quando Israel impediu que navios levando ajuda humanitária para Gaza chegassem ao território palestino por meio de uma ação militar em que nove pessoas morreram, o Estado judeu começou a receber uma onda de críticas não apenas de movimentos pró-palestina, mas também de figuras políticas ao redor do mundo. As condenações ganharam força após o ataque, ontem (7/6), a uma embarcação palestina, que supostamente carregava armas, em que mais quatro pessoas morreram.
Representantes da comunidade judaica brasileira – a segunda maior da América Latina – defenderam as ações militares israelenses em entrevista ao Opera Mundi. Para eles, o país agiu para se defender e que o bloqueio ao território palestino é necessário para garantir a paz no Oriente Médio.
Na opinião do presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil) e presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, Cláudio Lottenberg, a morte de civis do barco turco Mavi Marmara é “absolutamente lamentável”. Ele considera, porém, que o caminho do diálogo poderia ter sido buscado pelos ativistas. “Não entendemos por que toda a ajuda humanitária não pode ser encaminhada numa operação conjunta com os israelenses, como tem sido proposto, em vez de se buscar a via do confronto”.
Ricardo Stuckert/PR (20/09/2005)
Cláudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein e da Confederação Israelita Brasileira (Conib),
durante homenagem a Lula
Como representante da comunidade judaica brasileira, Lottenberg afirmou também que Israel tem o direito de se defender e que a “raiz do problema no Oriente Médio está no fato de o direito à existência de Israel ser, desde sua criação até hoje, rejeitado por forças como o Hamas, o Hezbolá e o Irã”.
Já o professor José Luiz Goldfarb, conselheiro da Associação Brasileira Hebraica de São Paulo, rechaça a acusação do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, para quem Israel é um Estado terrorista. Para Goldfarb, o país agiu em defesa própria ao impedir que o comboio humanitário chegasse a Gaza. “Cada vez estão mais longe de um acordo. Eu não entendi a estratégia de enviar um barco e causar uma crise internacional”, afirmou. “É lamentável que tenha ocorrido desta forma, muitas vidas foram perdidas. Mas a reação das pessoas do barco não foi muito pacífica.”
“A Suprema Corte de Israel é uma das mais justas do planeta. Um Estado terrorista não tem uma Suprema Corte tão justa”, disse, ao contestar a afirmação de Erdogan.
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Assim como Goldfarb, Lottenberg também acredita que Israel tem razões para manter o bloqueio a Gaza. “A Faixa de Gaza, território do qual Israel se retirou unilateralmente em 2005, é governada pelo Hamas, uma força antidemocrática que prega a destruição do Estado judeu”, justificou o presidente da Conib.
Desde junho de 2007, quando o Hamas, eleito em 2006, assumiu o poder, Israel mantém o bloqueio à região, alegando que o grupo islâmico é apoiado pelo Irã. “A Faixa de Gaza tem uma relação complicada com Israel. Todo dia foguetes são lançados. Por isso, deve-se verificar o que entra em Gaza”, disse Goldfarb.
Para ele, é necessário também ter cuidado em momentos como esse, pois a interceptação da frota despertou muitos comentários antissionistas. “Depois acontece algo trágico, como o holocausto e o mundo diz: 'Sinto muito, não era para ser assim'”.
Ricardo Berkiensztat, vice-presidente executivo da Federação Israelita do Estado de São Paulo, disse que pode opinar como judeu que vive no Brasil, mas não como representante da entidade. Para ele, a questão árabe-israelense é muito complexa e o conflito no Oriente Médio não pode tomar proporções mundiais. Ele afirmou que ainda é cedo para tirar conclusões, mas disse acreditar no direito de Israel de se defender, pois o “contrabando de armas para a Faixa de Gaza é uma coisa absurda”.
A Federação Israelita do Estado de São Paulo e do Rio de Janeiro se recusaram a conceder entrevista, afirmando que somente a Embaixada de Israel no Brasil poderia se posicionar diante do tema.
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Em entrevista ao Opera Mundi, Rafael Singer, conselheiro da Embaixada de Israel no Brasil afirmou que “Israel trabalhou no seu direito, Israel está no seu direito”. Segundo ele, o país “agiu como qualquer país agiria. Rejeitamos as críticas de políticos e da comunidade internacional”.
“As pessoas precisam entender que Israel controla Gaza porque [a região] está dominada pelo Hamas, um grupo que não contraria apenas Israel, mas também a ANP [Autoridade Nacional Palestina]”. Para Singer, “os ativistas buscaram a provocação” ao tentar levar ajuda humanitária para a região palestina. “A decisão do Conselho de Segurança [da ONU] é hipócrita. Com tantos problemas no mundo, somente focar em Israel”.
Um dia após a primeira interceptação, em 1º de junho, após mais de dez horas de discussões a portas fechadas, o Conselho de Segurança da ONU condenou as “ações” de Israel e pediu que o ataque fosse investigado.
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