Em 9 de junho de 68 d.C., declarado inimigo público pelo senado romano,
morria Nero – em latim, Nero Claudius Caesar Augustus Germanicus -, que
governou o Império Romano desde 13 de outubro de 54 d.C. até sua morte.
Segundo Suetônio, Nero fugiu de Roma através da Via Salária. Contudo,
apesar de ter fugido, Nero preparou-se para se suicidar com ajuda do
seu secretário Epafrodito, um escravo liberto, a quem ordenou que o
apunhalasse quando um soldado romano se aproximava. Segundo Dião
Cássio, as últimas palavras de Nero demonstraram o seu interesse pelas
artes: “Que artista falece comigo!”.
Com a sua morte desapareceu a dinastia júlio-claudiana
e o Império sumiu-se numa série de guerras civis conhecidas como o Ano
dos Quatro Imperadores.
O imperador romano perdeu-se entra a loucura e a
crueldade. Mandou assassinar todos os seus inimigos políticos, assim
como sua mãe, Agripina, seu irmão, Britânico, e sua esposa, Otávia.
Movimentos de revolta irromperam então no Império e o Senado acabou por
designar Galba, o governador da Hispânia Tarragonesa, como o novo
imperador romano.
Nero nasceu em Âncio, em 15 de dezembro de 37
d.C.. Era um homem calmo e de valor. Mas seu destino se encontrou nas
mãos de sua mãe, Agrippina, esposa do imperador Cláudio. Agripina faz
de tudo para guindar seu filho ao comando do império, valendo-se de
múltiplas manipulações e intrigas. Desse modo, consegue fazer com que
seu esposo adote Nero como filho e o faça casar-se com a filha do
imperador, Otávia. Com a morte de Cláudio, Nero é proclamado imperador
em detrimento do filho natural do falecido, Britânico. Nero tornou-se
imperador aos 16 anos de idade, sendo portanto muito jovem ainda.
Segundo diversas fontes antigas, foi fortemente influenciado pela sua
mãe durante a primeira etapa do seu reinado, pelo seu tutor Sêneca e
pelo prefeito do Pretório, Sexto Afrânio Burro. Os primeiros anos do
seu reinado são conhecidos como exemplo de boa administração. Nero, de
sua parte, interessava-se muito mais pela poesia do que pelos negócios
do Império. No entanto, os primeiros anos de seu reinado são
efetivamente benéficos.
Todavia, Nero parece tomar paulatinamente consciência
de sua posição. Para pôr fim à pressão de sua mãe que o ameaçava tomar
partido de seu irmão, Nero ordena assassiná-lo, em 55, antes de fazer o
mesmo com sua mãe em 59. Em seguida o imperador repudia sua mulher,
Otávia e a pressiona a fim de levá-la ao suicídio, preparando-se para
casar-se com sua amante, Pompeia. À crueldade dela se junta a loucura
nascente de Nero, o que dá início a um reino despótico. Burro morre em
62 d.C. e Sêneca prefere abandonar seu papel de conselheiro. Nero se
entretia e manipulava entre assassinatos e demonstrações de circo e
poesia, dedilhando sua lira, esvaziando os cofres do império.
Em 19 de julho de 64 d.C., Roma é assolada por um
incêndio. Em meio à noite, um fogo imenso prorrompe perto do “Circo
Máximo” e devasta toda a cidade de Roma. O incêndio é de tal amplitude
que levou seis dias para controlá-lo. O imperador Nero passeava no
campo e retorna precipitadamente à capital de seu império. Nas alturas
de Roma observa a cidade em chamas recitando versos e dedilhando a
lira. Após esse terrível incêndio, faria construir um novo palácio real
de dimensões bastante superiores ao precedente. A plebe o acusa de ele
próprio ter provocado o incêndio para poder reconstruir Roma segundo
seu gosto e visão artística. O imperador déspota rejeitou enfaticamente
a responsabilidade pelo desastre jogando a culpa sobre a minoria
cristã. A partir do mês de outubro, empreenderia perseguições
religiosas sem precedentes, criando um clima de terror entre aquela
comunidade. Em contrapartida, os complôs começam a se fomentar contra o
déspota cruel. A conjuração de Pison em 65 d.C. é descoberta e
atrozmente reprimida.
Finalmente, o exército se subleva na Gália com Vindex e
na Espanha com Galba. Nero é julgado inimigo público pelo Senado e foge
antes de ter sido morto em Roma em 9 de junho de 68.
Segundo Suetônio e Dião Cássio, o povo de Roma
celebrou a morte de Nero. Tácito, porém, fala nos seus escritos de um
panorama político muito mais complicado, segundo o qual a morte de Nero
foi bem recebida entre os senadores, a nobreza e a classe alta, mas
que, ao contrário, a classe baixa, os escravos e os assíduos do teatro,
que foram os beneficiários dos excessos do imperador, receberam a
notícia com pesar. O exército, entretanto, estava na encruzilhada entre
o dever obediência a Nero como seu imperador e os subornos oferecidos
para derrubá-lo.
Filóstrato e Apolônio de Tiana mencionam a morte de
Nero como um duro golpe para o povo em geral, que a chorou com amargura
devido a que “restabeleceu e respeitou as liberdades com uma sabedoria
e moderação das quais o seu caráter carecia”.
Os historiadores modernos defendem a teoria de que,
enquanto o Senado e a classe alta receberam com regozijo a notícia, o
povo “foi fiel até o final”.
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