Em entrevista dada à rádio colombiana BluRadio, nesta quinta-feira (23/06), em meio à assinatura do acordo de cessar-fogo entre as FARC (Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia) e o governo colombiano, o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica comentou o fim do conflito, afirmando ser possível continuar lutando mesmo em tempos de paz.
“Penso que a essência [de grupos guerrilheiros] é a luta por uma melhor divisão dos bens materiais e um pouco mais de justiça na sociedade. Isso se pode fazer também em tempos de paz e vale a pena continuar lutando nesse sentido”, disse Mujica.
Agência Efe
José 'Pepe' Mujica: acordo é 'um grande passo, primeiro pelo povo da Colômbia, segundo pelo povo latino-americano'
Para Mujica, o acordo firmado entre a guerrilha e o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, é “um grande passo, primeiro pelo povo da Colômbia, segundo pelo povo latino-americano, porque se afugenta o fantasma da guerra”.
“É natural que existam medos”, comentou o ex-presidente sobre a resistência de certos setores da sociedade colombiana com relação ao acordo. “É natural que as famílias das vítimas sintam dor e que tenham sede de justiça. Onde havia dor há queimaduras, mas o destino do povo deve ser prioridade, porque, se não, a cobrança de contas nunca termina”, reforçou.
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O ex-presidente também comentou os próximos passos do acordo de paz, que preveem a transformação das FARC em um movimento político.
“Acho que irão se transformar em uma força política que terá de se transformar porque a realidade será outra. Eu não me tornei presidente porque fui um guerrilheiro Tupamaro na década de 1960. Me tornei presidente porque fui deputado, lutei pelas dores do meu povo, me ocupei do presente, das necessidades das pessoas, e, por isso, passaram a me respeitar”, disse Mujica.
Acordo de paz em Havana
Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, e Timoleón Jiménez, um dos líderes das FARC, assinaram nesta quinta-feira, durante encontro em Havana, Cuba, um acordo de “cessar-fogo e de hostilidades bilateral e definitivo” que põe fim ao conflito entre a guerrilha e o governo do país.
A cerimônia também contou com a presença de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, Nicolás Maduro, presidente da Venezuela; Raúl Castro, presidente de Cuba, Michelle Bachelet, presidente do Chile, e outros quatro chefes de Estado da região, além de representantes de órgãos internacionais, como a CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que ajudaram a mediar o acordo.
O governo colombiano e as FARC negociam desde novembro de 2012 em Havana um acordo que permita estabelecer uma paz “duradoura e estável” na Colômbia, com base em uma agenda de seis pontos. Destes, cinco já foram acordados, entre eles a luta contra o narcotráfico e a reparação às vítimas do conflito.