'Crise mundial é também de natureza moral, não só política e econômica', diz Lula a Libération
'Para que Brasil recupere sua credibilidade internacional, é preciso restabelecer o mandato daquela que foi eleita democraticamente por 54 milhões de brasileiros', diz ex-presidente a jornal francês
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estampa, nesta quarta-feira (13/07), a capa do jornal francês Libération. Uma longa entrevista conduzida pela correspondente do diário em São Paulo, Chantal Rayes, realizada no Instituto Lula, é a principal matéria da publicação, que ganhou na capa o título “Os pobres são a solução". A entrevista trata do processo de impeachment de Dilma Rousseff, das investigações em torno da Petrobrás, dos Jogos Olímpicos e da possibilidade de Lula tentar voltar à Presidência nas eleições de 2018.
Candidatura em 2018
Lula disse que pode se lançar candidato à Presidência em 2018, dependendo de sua condição de saúde e da situação política do país. “Eu conto com a emergência de jovens esperanças da política. Já fui presidente. Mas se existir o risco de colocarem em questão nossas polícias sociais, eu me reapresentarei.”
O ex-presidente afirmou ao Libé acreditar que esse risco existe. “O Brasil precisa compreender que os pobres são a solução dos nossos problemas econômicos. Se você der cem dólares a um pobre, ele não vai depositar no banco, não vai investir em bônus do Tesouro. Ele vai correr ao supermercado e comprar o que comer. É o que nós fizemos com a Bolsa Família, o crédito à agricultura familiar e ao programa do microempreendedor individual.”
'É preciso restabelecer o mandato daquela que foi eleita democraticamente por 54 milhões de brasileiros'
A fala de Lula, que acabou destacada na capa do jornal, continua: “Quando colocamos o dinheiro na mão de um grande número de pessoas, nós reativamos o comércio, o que reativa a indústria, o que reativa o desenvolvimento. Não é preciso ser economista para saber essas coisas. Na verdade, os economistas são os que sabem menos disso. Eles se interessam mais sobre o que pensa o FMI ou o Banco Mundial. A crise não vai diminuir enquanto a gente não compreender que uma microeconomia forte é a base de uma macroeconomia com boa saúde. Mas, se a gente corta as despesas públicas, principalmente os gastos sociais, se reduzimos os salários, o país se enfraquece.”
Na avaliação do ex-presidente, se esse conselho fosse mais representativo, não haveria a guerra do Iraque ou na Líbia e o Estado palestino já teria sido criado. “Tenho pena de ver o Brasil voltar hoje a ter esse complexo de inferioridade, ficar se perguntando o que pensa a Europa, os Estados Unidos, a China. Eu quero saber o que eles pensam, mas eu quero também que eles saibam o que eu penso. Quero ser tratado de igual para igual.”
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Trecho da entrevista de sete páginas de Lula ao jornal francês Libération