Ao longo de 2016, ainda durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos, Donald Trump sinalizou sua simpatia pelo governo de Israel e sua intenção de estreitar as relações entre os dois países caso fosse eleito presidente.
Desde o dia 9 de novembro, quando venceu as eleições presidenciais e se tornou o sucessor de Barack Obama, o republicano reafirmou diversas vezes seu apoio ao governo de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, cuja intensificação da ocupação dos territórios palestinos foi reiteradamente criticada pelo governo de Barack Obama.
Em um de seus últimos atos de peso na ONU, no fim de dezembro o governo do democrata se absteve em uma votação do Conselho de Segurança e permitiu a aprovação da resolução 2334, que condena assentamentos israelenses em territórios palestinos. Na ocasião, Trump afirmou que a atitude do governo Obama foi “injusta” e “desrespeitosa” para com Israel.
O republicano também nomeou como embaixador em Israel o advogado Daniel Friedman, ligado à direita norte-americana e que é contra a solução de dois Estados. Em comunicado divulgado pela equipe de transição de Trump, Friedman afirmou que está ansioso para mudar a Embaixada dos EUA de Tel Aviv “para a eterna capital de Israel, Jerusalém” – cidade dividida entre palestinos e israelenses e reivindicada pelas duas nações como capital.
Apesar das ostensivas sinalizações pró-Israel de Trump, ativistas palestinos ouvidos por Opera Mundi disseram acreditar que o governo do republicano apenas dará prosseguimento à postura de perene aliado que os EUA sempre tiveram em relação a Israel.
Agência Efe
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Assim acredita Zakaria Odeh, diretor da Civic Coalition for Palestinian Rights in Jerusalem (Coalizão Cívica pelos Direitos dos Palestinos em Jerusalém). Para ele, “a administração norte-americana é a administração norte-americana, independentemente do presidente”.
“Os EUA sempre apoiaram Israel financeira, militar e economicamente”, disse ele a Opera Mundi.
Esta também é a opinião de Soraida Hussein, diretora da WATC (Women’s Affairs Technical Comitee), organização que luta pelos direitos das mulheres palestinas em meio à ocupação israelense. Ela acredita que os EUA seguem seus próprios interesses, “não importa quem está na Presidência”.
“Se havia um presidente que podia fazer alguma coisa era [Barack] Obama, mas ele não fez nada. Então Trump não será especialmente ruim para a Palestina”, disse Hussein a Opera Mundi.
Apesar de ter encerrado seu governo com a abstenção dos EUA na votação contra a política de assentamentos de Israel na ONU, Obama assinou em setembro de 2016 um contrato que determina o pagamento, ao longo de dez anos, de US$ 38 bilhões (aproximadamente R$ 121,6 bilhões) em auxílio militar dos EUA para Israel. O contrato anterior, assinado em 2007, estabelecia que o auxílio de Washington a Tel Aviv nos dez anos seguintes seria de US$ 30 bilhões (R$ 96 bilhões).
Embaixada dos EUA em Jerusalém
Tanto Hussein quanto Odeh acreditam, no entanto, que a transferência da sede diplomática norte-americana para Jerusalém seria prejudicial. Assim como a Palestina, Israel considera Jerusalém como sua capital. A capital israelense reconhecida internacionalmente é Tel Aviv, visto que a ONU determinou em 1948, quando foi criado o Estado de Israel, que Jerusalém fosse compartilhada por palestinos e israelenses.
Agência Efe
“Trump, deixe seu racismo fora da Cidade Sagrada”, diz cartaz em Nablus, na Cisjordânia
“A transferência da embaixada seria algo perigoso, porque os EUA se tornariam o primeiro país a aceitar que Jerusalém é parte de Israel e não um território dividido entre palestinos e israelenses”, disse Odeh.
Já para Amjad Iraqi, coordenador da seção de advocacia internacional do Adalah, centro legal para os direitos das minorias árabes em Israel, é preciso ver, primeiro, se Trump terá o apoio do Congresso norte-americano para realmente transferir a embaixada.
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Iraqi ainda apontou a pressão internacional, tanto de governos como de organizações civis, contra a mudança. A França é um dos países que criticou as intenções de Trump, afirmando que o presidente norte-americano deve “criar as condições para a paz” na região, o que não seria possível com a transferência.
Para Iraqi, transferir a embaixada “acabaria definitivamente com a esperança da solução dos dois Estados [palestino e israelense]”.
Agência Efe
'Trump, fora de Jerusalém, você e sua embaixada': em Nablus, na Cisjordânia, palestinos se manifestaram contra a tranferência da embaixada dos EUA para Jerusalém
Por outro lado, para Nassar Ibrahim, diretor do Alternative Information Center (AIC), organização não governamental de ativistas palestinos e israelenses, o futuro presidente norte-americano não irá impactar de forma significativa o dia a dia dos palestinos, mesmo que ele mude a embaixada dos EUA para Jerusalém.
“Trump à frente do governo norte-americano daria um impulso moral, ético e legal para a ocupação israelense. Mas, para além disso, na prática, nada vai mudar no nosso dia a dia”, afirmou Ibrahim, que acredita que o presidente eleito só fortalecerá a posição de Israel “a nível internacional”. “A ocupação continuará sendo a mesma.”
Otimismo
Outros ativistas acreditam ser difícil prever as atitudes de Donald Trump uma vez que ele assuma a Presidência. É este o caso de Wesan Ahmad, chefe do departamento de pesquisa legal da Al Haq, ONG que oferece auxílio legal gratuito para palestinos.
“A política, em geral, é bem previsível, mas Trump é muito imprevisível. Ele diz o que quer e pretende fazer, mas se contradiz muito. Será interessante ver o que de fato irá ocorrer”, disse Ahmad.
Para ele, um estreitamento dos laços entre os EUA e Israel poderá funcionar a favor dos palestinos, pois acabaria por expor uma situação “absurda”.
“Temos um ditado em árabe que diz que se as coisas não piorarem primeiro, elas não melhoram depois. Então, se a situação dos palestinos piorar em decorrência do apoio dos EUA ao governo de Israel, significa que elas podem melhorar”, afirmou.