Uruguai relembra 37 anos de golpe que instaurou última ditadura
Uruguai relembra 37 anos de golpe que instaurou última ditadura
Organizações de direitos humanos do Uruguai relembram hoje com uma "jornada de reflexão" o aniversário do golpe de Estado de 1973, que deu origem à ditadura militar no país, que se estendeu até 1985.
Há 37 anos, o então presidente Juan María Bordaberry iniciou o regime ditatorial ao determinar a dissolução das Câmaras do Parlamento, abrindo as portas à ruptura da ordem constitucional do país.
Foi "um período de 12 anos de chumbo durante os quais a repressão se foi fazendo cada vez mais cruel ao amparo do terrorismo de estado", relatou em sua edição deste domingo o jornal La República.
"Os militares e seus aliados civis não só instalaram o terror na sociedade, mas também, além disso, se ocuparam ordenadamente em aplicar receitas econômicas neoliberais que terminaram definitivamente com o Estado de bem-estar", continuou a publicação.
Para lembrar o golpe, organizações reunidas no coletivo "Todos e todas contra a impunidade" desenvolveram varias atividades que culminaram na sexta-feira com uma marcha em Montevidéu pela anulação da Lei de Caducidade, que em 1986 anistiou militares e policiais que violaram os direitos humanos durante a ditadura.
A iniciativa incluiu projeções de documentários como "Destino Final", sobre os assassinatos dos ex-parlamentares Zelmar Michelini e Héctor Gutiérrez Ruiz, em 1976.
Também foi apresentada a reedição do livro Memorias del Calabozo, dos ex-guerrilheiros tupamaros Mauricio Rosencof e o senador Eleuterio Fernández Huidobro, sobre a reclusão nas cadeias da ditadura, que também prendeu o atual presidente uruguaio, José Mujica.
Siga o Opera Mundi no Twitter
Governo dos EUA libera venda de mísseis Javelin ao Brasil
Sinal verde foi confirmado pelo Pentágono um dia após agência de notícias informar que parlamentares democratas vinham travando processo. Congresso norte-americano deve analisar o negócio, mas não é necessária nova aprovação
O Departamento de Estado dos Estados Unidos aprovou a possível venda de lançadores de mísseis antiblindado Javelin e equipamentos relacionados ao Brasil, por um custo estimado de 74 milhões de dólares (R$ 379 milhões).
A decisão foi comunicada pelo Pentágono ao Congresso norte-americano nesta terça-feira (09/08), um dia depois de a agência de notícias Reuters informar que parlamentares democratas vêm tentando bloquear a venda devido a preocupações sobre o presidente Jair Bolsonaro e seus ataques ao sistema eleitoral brasileiro.
Agora, o Congresso norte-americano tem 30 dias para analisar o pedido e tirar dúvidas sobre o tema, mas não há necessidade de aprovação. A Câmara e o Senado podem editar uma resolução para se opor à venda, o que é improvável que ocorra, segundo um representante do Departamento de Estado. Em seguida, o governo brasileiro deve confirmar se procede com a compra.
O Pentágono afirmou que o Brasil solicitou autorização para comprar 33 lançadores e 222 mísseis do sistema Javelin. Fabricado pelas gigantes da defesa Lockheed Martin Corp e Raytheon Technologies Corp, o Javelin tornou-se uma das armas mais conhecidas do mundo devido ao seu sucesso contra tanques russos na guerra da Ucrânia.
O pacote aprovado inclui treinamento, simulações de uso do sistema e assistência técnica. "A proposta de venda melhorará a capacidade do Exército brasileiro de enfrentar futuras ameaças, ao elevar sua capacidade antiblindados. O Brasil não terá nenhuma dificuldade em absorver essa armas em suas Forças Armadas. A proposta de venda desses equipamentos e suporte não alterará o equilíbrio militar básico da região", afirmou o Pentágono.
Segundo a nota, a venda também contribui para apoiar a política externa dos Estados Unidos e seus objetivos de segurança, considerando o Brasil como "uma importante força para estabilidade política e progresso econômico na América do Sul".
Processo iniciado sob Trump
O pedido de compra dos Javelins ocorreu em 2020, em um momento de estreitamento dos laços entre os Estados Unidos e o Brasil sob então presidente Donald Trump e Bolsonaro. Em 2019, Trump designou o Brasil como um aliado de primeiro nível dos EUA fora da Otan, permitindo maior acesso a armas fabricadas por empresas norte-americanas.
O acordo atravessou a era Trump e foi herdado por Biden, menos amigável com Bolsonaro do que seu antecessor republicano. Ainda assim, o Departamento de Estado de Biden havia dado no ano passado um aceno preliminar positivo à compra.

Ukrainian Defense Ministry Press Service/AP/picture alliance
Brasil solicitou autorização para comprar 33 lançadores e 222 mísseis do sistema Javelin
"Há aqueles dentro dos níveis de trabalho do Departamento de Estado que expressaram ressalvas a respeito desta venda, dadas as ações e a retórica de Bolsonaro e a certas ações dos serviços militares e de segurança do Brasil no passado", havia dito uma fonte do governo dos EUA à Reuters. "Tais preocupações não são compartilhadas entre autoridades do Departamento de Defesa nem pela liderança do Departamento de Estado."
O Departamento de Estado então enviou a proposta de venda para uma revisão "informal" pelos dois democratas que presidem as comissões de Relações Exteriores do Congresso e os dois principais membros republicanos dos colegiados. Fontes do Congresso dizem que a questão não havia avançado até esta terça-feira devido às preocupações dos legisladores, incluindo o senador Bob Menendez e o deputado Gregory Meeks, colegas democratas de Biden.
Eles fizeram várias perguntas ao Departamento de Estado dos EUA, desde o histórico de direitos humanos de Bolsonaro até se o Brasil precisa de tais armas, de acordo com uma fonte do Congresso, sugerindo que querem pelo menos adiar a venda até depois das eleições de outubro no Brasil.
Em resposta aos parlamentares, o Departamento de Estado reconheceu que os mísseis Javelin não protegem contra qualquer ameaça específica que o Brasil enfrenta, disse à Reuters uma autoridade dos EUA. Mas o departamento argumentou que a tentativa do Brasil de atualizar sua capacidade antiblindados é legítima, acrescentou essa fonte.
A demanda por Javelins disparou desde o início da guerra na Ucrânia. Dessa forma, mesmo que o acordo seja aprovado pelo Congresso norte-americano, pode levar anos para que Brasil receba os mísseis devido à lista de pedidos, com prioridade para outros parceiros dos EUA.
Preocupação com eleições
O governo Biden, ainda em alerta pela invasão do Capitólio por apoiadores de Trump em 6 de janeiro de 2021, ficou incomodado com os comentários de Bolsonaro sobre a eleição e enviados norte-americanos a Brasília pediram cautela.
Em julho, em viagem ao Brasil, o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, pediu respeito à democracia em uma reunião com ministros de todo o continente. Antes disso, no ano passado, em uma visita ao Brasil, o diretor da CIA, William Burns, disse a assessores de Bolsonaro que o presidente deveria parar de minar a confiança no processo eleitoral brasileiro.
Represetantes de ONGs brasileira também se reuniram em julho com diplomatas do Departamento de Estado dos EUA e membros do Congresso norte-americano para pedir que Washington reconheça rapidamente o vencedor das eleições presidenciais brasileiras em outubro.