“Se afaste, seu nojento!”, foi o que a então candidata à Presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, pensou em dizer ao seu rival republicano Donald Trump no segundo debate presidencial das eleições norte-americanas de 2016. Dois dias depois da divulgação das gravações onde Trump se gabava de ter abusado de mulheres, os dois candidatos se encaravam em um pequeno palco na Universidade de Washington, em St. Louis.
Divulgado pela rede de televisão norte-americana MSNBC nesta quarta-feira (23/08), o primeiro trecho do novo livro de Clinton, intitulado “What happened” (“O que aconteceu”) e que será publicado em setembro, revela os pensamentos e sentimentos da democrata sobre aquele momento face a face com Trump.
“Minha pele se retraiu”, diz Clinton. “Era o segundo debate presidencial e Donald Trump estava espreitando atrás de mim. Dois dias antes, o mundo ouviu ele se gabar de ter assediado mulheres. Agora nós estávamos num pequeno palco e não importava pra onde eu andasse, ele me seguia de perto, me encarando, fazendo caras. Era incrivelmente desconfortável. Ele estava literalmente respirando no meu pescoço”.
Agência Efe
Debate na Universidade de Washington, em St. Louis: 'se afaste, seu nojento', pensou em dizer Hillary
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No trecho divulgado do livro, a candidata do partido Democrata confessa que considerou duas opções: “Bem, o que você faz? Você fica calma, continua sorrindo e continua como se ele não estivesse repetidamente invadindo seu espaço? Ou você se vira, olha nos olhos dele e diz em alto e bom som: ‘Se afaste, seu nojento, se afaste de mim! Eu sei que você ama intimidar mulheres, mas você não pode me intimidar, então se afaste”.
Entretanto, Clinton escolheu, segundo ela, ficar calma, “mordendo minha língua, enterrando minhas unhas no punho apertado, sorrindo de qualquer forma, determinada a apresentar ao mundo um rosto sereno”. A democrata afirma que, se tivesse optado por revidar Trump, “teria sido um show de televisão melhor” e que talvez tenha “aprendido demais” a lição de permanecer calma.
Campanha
O excerto divulgado de “What happened” também traz apontamentos da candidata democrata sobre a corrida presidencial norte-americana de 2016. “Eu não tenho todas as respostas”, escreve Clinton. “Isso não me cabe escrever. Eu quero revelar uma experiência que foi estimulante, prazerosa, humilhante, furiosa e simplesmente desconcertante. Escrever isso não foi fácil. Todos os dias em que fui candidata à presidência eu sabia que milhões de pessoas estavam contando comigo e eu não podia suportar a ideia de desapontá-las. Mas eu desapontei. Não fiz o trabalho. E tenho que viver com isso pelo resto de minha vida”.
“Nesse livro, escrevo sobre momentos da campanha em que eu gostaria de voltar e fazer diferente”, diz Clinton, mostrando arrependimento. “Se os russos pudessem hackear meu subconsciente, encontrariam uma lista longa”.