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Memória

Amanhã: um jornal de estudantes para o movimento operário

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Semanário de vida curta era feito por estudantes e pretendia falar com os trabalhadores; equipe que fundou jornal trabalharia depois em outros grandes veículos como Opinião e Movimento

Lucas Estanislau

2018-01-23T10:30:00.000Z

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Em 1967, o golpe civil-militar completava três anos e ainda não havia mostrado sua pior face - o que aconteceria em dezembro de 1968, com a instauração do AI-5. Os destinos do Brasil ainda eram incertos e a sociedade se movimentava na resistência ao regime dos militares. Neste ano, chegava às bancas um novo semanário com um nome que fazia referência ao futuro, ao que está por vir, ao Amanhã.

Leia aqui todas as reportagens da série Memórias da Imprensa Alternativa no Brasil

No dia 13 de março, foi impressa a edição número zero do semanário estudantil que falaria com os trabalhadores e duraria apenas sete números. "Veja os 5 golpes do fundo", era o que trazia como manchete a edição do Amanhã, denunciando irregularidades no recém-criado Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Já a segunda edição [foto abaixo], que chegaria às bancas em 30 de março do mesmo ano, também tratava de questões ligadas ao Fundo de Garantia e trazia matérias culturais e até um caderno especial.

Edição nº01 do Amanhã. Foto: ReproduçãoMotivado pela vontade de escrever para os trabalhadores e leitores em geral, o jovem universitário José Arantes idealizou o jornal semanal Amanhã como uma publicação feita por estudantes, mas não necessariamente estudantil. A cobertura seria ampla, tratando de questões internacionais, como a Guerra do Vietnã, e de temas caros para os operários brasileiros.

Expulsos do ITA

Expulso do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em 1964 por suas posições políticas de esquerda, Arantes foi estudar física na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Em 1967, se tornou vice-presidente da União Nacional dos Estudantes. Envolvido com a militância estudantil de esquerda, Arantes convidou seu amigo Raimundo Pereira, que também havia sido expulso do ITA pelos mesmos motivos, para, juntos, montarem o impresso.  

"Com algum conhecimento de jornalismo e com essa relação de amizade com o Arantes, surgiu a ideia de fazer um semanário não para o movimento estudantil, mas um semanário do movimento estudantil para o movimento operário", afirma Pereira.

À época, Pereira também estava matriculado no curso de física da USP e trabalhava como redator em uma revista técnica da Editora Abril chamada Máquinas e Metais. Arantes viu na experiência do amigo um ponto de partida para concretizarem a ideia de um jornal semanal que falasse a linguagem dos trabalhadores. 

Frescor editorial

O Amanhã nasceria com um frescor editorial dos estudantes, um projeto gráfico inovador, textos diretos e apuração meticulosa. Para isso, Arantes e Pereira convidaram outros conhecidos que poderiam ajudar a construir o jornal. O artista visual Claudio Tozzi, que na época estudava na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, desenhou o logotipo do jornal: a palavra "amanhã", toda em minúsculas, vermelha, não serifada.

"Fizemos um semanário com as ideias do movimento estudantil da época. Tinham as rebeliões pela América Latina, a guerrilha", diz Pereira sobre os assuntos que o jornal tratava em suas edições.

A convite de Tozzi, o hoje jornalista Tonico Ferreira, outro estudante da FAU, se envolveu com o nascimento do Amanhã, comandando a diagramação do jornal. Além de Arantes, Pereira e Ferreira, outras pessoas colaboravam com o jornal, como o historiador Ricardo Maranhão, o jornalista Bernardo Kucinski e outros profissionais da comunicação da época. "O Tozzi chegou pra mim e disse: 'Tonico, você não quer fazer um jornal lá? Acho até que eles vão pagar algum salário...'. Então fui e aprendi a diagramar lá, junto com o Duque Estrada, que era da grande imprensa", afirma Ferreira. 

O dinheiro para a produção de jornal vinha do próprio Grêmio da Filosofia da USP, do qual Arantes era presidente. Custos como impressão, distribuição e equipamentos eram cobertos pela verba que a organização estudantil destinava para o periódico. 

Apesar da vida curta, a importância do Amanhã foi tamanha que a equipe fundadora iria, mais tarde, trabalhar em dois dos mais importantes periódicos independentes do país: Opinião e Movimento. Para Ferreira, "o jornal Amanhã serviu de base para um grupo de pessoas que mais adiante trabalhariam juntas em publicações importantes". 

Reprodução

"Aprendi a diagramar lá, junto com o Duque Estrada, que era da grande imprensa", conta Tonico Ferreira

O fim do jornal Amanhã está ligado ao aumento exponencial da repressão por parte das forças militares, o que já prenunciava os anos de chumbo pelos quais o Brasil iria passar. Segundo Pereira, o semanário "terminou quando a repressão beteu na gráfica e confiscou o jornal". Tonico Ferreira ainda lembra das divisões internas que aconteceram entre os participantes do jornal e afirma que de alguma forma isso contribuiu para encerrar a circulação do periódico. 

José Arantes integrou grupos de esquerda como a Dissidência Comunista de São Paulo (DISP), a Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento de Liberação Popular (MOLIPO). Paticipou do 30º congresso da UNE de 1968 em Ibiúna, interior de São Paulo, e foi preso pela polícia na forte repressão que foi realizada no encontro. Em 1971 foi preso pelo DOPS-SP e, segundo versão das forças policiais, morreu em tiroteio ao resistir à prisão. Porém, fontes questionam a veracidade dessa versão, pois a autópsia do corpo só foi realizada 24 horas depois do momento da prisão. Arantes foi enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, em Perus, sob o nome falso de José Carlos Pires de Andrade.

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Constituinte no Chile

'Base de um Chile mais justo', diz presidente da Constituinte na entrega de texto final

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Ao cumprir um ano de debate, Convenção Constitucional encerra trabalhos com entrega de nova Carta Magna a voto popular

Michele de Mello

Brasil de Fato Brasil de Fato

São Paulo (Brasil)
2022-07-04T21:39:54.000Z

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Aconteceu a última sessão da Constituinte chilena nesta segunda-feira (04/07) com a entrega de uma nova proposta de Constituição para o país. 

"Esta proposta que entregamos hoje tem o propósito de ser a base de um país mais justo com o qual todos e todas sonhamos", declarou a presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros. 

Após um ano de debates, os 155 constituintes divulgaram o novo texto constitucional com 178 páginas, 388 artigos e 57 normas transitórias.

O presidente Gabriel Boric participou do ato final da Constituinte e assinou o decreto que convoca o plebiscito constitucional do dia 4 de setembro, quando os chilenos deverão aprovar ou rechaçar a nova Carta Magna.

"Hoje é um dia que ficará marcado na história da nossa Pátria. O texto que hoje é entregue ao povo marca o tamanho da nossa República. É meu dever como mandatário convocar um plebiscito constitucional, e por isso estou aqui. Será novamente o povo que terá a palavra final sobre o seu destino", disse.

No último mês, os constituintes realizaram sessões abertas em distintas regiões do país para apresentar as versões finais do novo texto constitucional. A partir do dia 4 de agosto inicia-se a campanha televisiva prévia ao plebiscito, que ocorre em 4 de setembro. 

Embora todo o processo tenha contado com ampla participação popular, as últimas pesquisas de opinião apontam que a nova proposta de constituição poderia ser rejeitada. Segundo a pesquisa de junho da empresa Cadem, 45% disse que votaria "não", enquanto 42% dos entrevistados votaria "sim" para a nova Carta Magna. No entanto, 50% disse que acredita que vencerá o "aprovo" no plebiscito de setembro. Cerca de 13% dos entrevistados disse que não sabia opinar.

Reprodução/ @gabrielboric
Presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros, e seu vice, Gaspar Domínguez, ao lado de Gabriel Boric

"Além das legítimas divergências que possam existir sobre o conteúdo do novo texto que será debatido nos próximos meses, há algo que devemos estar orgulhosos: no momento de crise institucional e social mais profunda que atravessou o nosso país em décadas, chilenos e chilenas, optamos por mais democracia", declarou o chefe do Executivo. 

Em 2019, Boric foi um dos representantes da esquerda que assinou um acordo com o então governo de Sebastián Piñera para por fim às manifestações iniciadas em outubro daquele ano e, com isso, dar início ao processo constituinte chileno.

Em outubro de 2020 foi realizado o plebiscito que decidiu pela escrita de uma nova constituição a partir de uma Convenção Constitucional que seria eleita com representação dos povos indígenas e paridade de gênero.

"Que momento histórico e emocionante estamos vivendo. Meu agradecimento à Convenção que cumpriu com seu mandato e a partir de hoje podemos ler o texto final da Nova Constituição. Agora o povo tem a palavra e decidirá o futuro do país", declarou a porta-voz do Executivo e representante do Partido Comunista, Camila Vallejo.

A composição da Constituinte também foi majoritariamente de deputados independentes ou do campo progressista. Todo o conteúdo presente na versão entregue hoje ao voto público teve de ser aprovado por 2/3 do pleno da Convenção para ser incluído na redação final.

Com minoria numérica, a direita iniciou uma campanha midiática de desprestígio do organismo, afirmando que os deputados não estariam aptos a redigir o novo texto constitucional. Diante dos ataques, o presidente Boric convocou os cidadãos a conhecer a fundo a nova proposta, discutir de maneira respeitosa as diferenças e votar pela coesão do país, afirmando não tratar-se de uma avaliação do atual governo, mas uma proposta para as próximas décadas. 

"Não devemos pensar somente nas vantagens que cada um pode ter, mas na concordância, na paz entre chilenos e chilenas e pela dignidade que merecem todos os habitantes da nossa pátria", concluiu o chefe de Estado.

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