O mais extenso protesto universitário dos últimos 35 anos,
desde o retorno da democracia na Argentina, leva nesta quinta-feira (30/08)
milhares de pessoas às ruas de Buenos Aires. Professores e alunos saem em
passeata do Congresso ao Ministério da Educação em defesa das universidades
públicas e por reajustes salariais. Eles reivindicam o dobro do aumento que o
governo oferece.
Em greve há quase um mês, as universidades pressionam o
presidente Mauricio Macri em um momento em que a palavra de ordem é ajuste nas
contas públicas. A inflação descontrolada promete transformar o país num palco
de reivindicações salariais.
Na quarta semana da greve, a passeata desta quinta-feira, em
Buenos Aires, parte às 17h do Congresso em direção ao Ministério da Educação. O
protesto promete ser maciço. Manifestações devem ocorrer também em cidades do
interior do país. Onde houver uma universidade em greve, deve haver um
protesto.
Além de professores e de alunos pelas ruas, a passeata convocada
pelos seis sindicatos envolvidos no conflito deve ter a participação de
militantes de outros setores, sindicais e políticos, interessados em pressionar
o presidente Macri. Os sindicatos prometem um plano de luta e precisam
demonstrar força com a marcha de hoje.
Ao longo desta semana, as aulas foram dadas nas ruas como
forma de protesto. Professores e alunos bloquearam avenidas e fizeram do
asfalto uma sala de aula improvisada. São aulas ao ar livre que visam chamar a
atenção para o problema.
Reivindicações contra
cortes
Existe uma reivindicação salarial legítima de professores,
uma reivindicação legítima de orçamento por parte de reitores e de qualidade
por parte de alunos, mas também existe oportunismo político porque o governo
está acuado: precisa reduzir o déficit fiscal e cortar gastos.
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Ao longo desta semana, aulas foram dadas nas ruas como forma de protesto (Sebastian Januszevski/Flickr CC)
O governo começou oferecendo 15% de reajuste. Os sindicatos querem o dobro, 30%, para repor a perda com a inflação. Nesta semana, depois de uma reunião entre reitores com o próprio presidente Mauricio Macri, o governo disse que os 15% de reajuste são um piso, mas as negociações estão muito longe dos 30% reivindicados.
Os sindicatos querem ainda uma cláusula gatilho porque, se há um mês falava-se de uma inflação de 30% no país, a situação ficou ainda pior nos últimos dias e os economistas agora preveem, com sorte, uma inflação de 35%.
Greve nacional
A paralisação atinge 57 universidades públicas nacionais e 60 colégios pré-universitários, que recebem mais de um 1,5 milhão de estudantes e 170 mil professores.
O aumento salarial é a reivindicação principal, mas há também pedidos de maior orçamento, de obras e até de bolsas de estudo. 90% do orçamento destinado às universidades cobrem apenas os salários dos professores.
Em paralelo ao conflito universitário, também estão em greve as escolas da província de Buenos Aires, a mais populosa do país. Todas essas reivindicações salariais, no entanto, prometem ser a antessala de outros conflitos.
Inflação galopante
O governo previa uma inflação de 15% no começo de 2018. No meio do ano, passou a 20%. Depois, a 25%. Agora, já admite mais de 30%. Os acordos de aumentos salariais anteriores tinham uma cláusula de revisão que promete ser ativada agora.
Ontem mesmo, a Central Geral dos Trabalhadores anunciou uma greve geral no dia 25 de setembro. O anúncio veio em meio a uma nova desvalorização de 7% do peso argentino, totalizando 70% de desvalorização desde o começo da crise em abril.
O país que previa crescer 3% no começo do ano, agora prevê encolher, pelo menos, 1%. Assim, a Argentina combina recessão com inflação, um coquetel ideal para conflitos econômicos, sociais e políticos.