Para o diplomata peruano Álvaro de Soto, ex-consultor especial da ONU para o Chipre, “não há bases para o otimismo”, considerando a conduta política prévia do presidente eleito da República Turca do Chipre do Norte, Dervis Eroglu, embora o novo chefe de Estado venha anunciando que vai permanecer na mesa de negociações.
“Como muitos observadores, acho que as circunstâncias que imperavam antes das eleições eram as melhores na história: pela primeira vez, as quatro partes mais interessadas na solução do conflito – as duas comunidades cipriotas mais a Grécia e a Turquia – pareciam inclinadas a uma solução”, diz o diplomata ao Opera Mundi. “Pela primeira vez desde que eu estive a cargo da mediação (1999-2004), parecia um momento propício, embora se precisasse de um sentido de urgência”.
Como funcionário da ONU, De Soto foi um dos responsáveis pelo Plano Annan para a reunificação do Chipre, levado a plebiscito em 2004 e rejeitado pelos greco-cipriotas.
“Todos pensavam que o Plano Annan era uma boa saída, conforme a legislação da União Europeia. Mas a rejeição foi esmagadora no caso dos greco-cipriotas. Politicamente, precisava-se que os greco-cipriotas obtivessem ajustes e isso teria sido possível com um pouco mais de cooperação do governo desse país. Para mim, era angustiante tanta demora na procura de soluções. Mas os nacionalistas greco-cipriotas satanizaram o plano”, conta.
De Soto ressaltou que o novo presidente da República Turca do Chipre do Norte, Eroglu, tem declarado que vai permanecer, de boa fé, nas negociações e a Turquia favorece a busca por uma solução.
Cálculo pequeno
O cientista político turco Onur Bakiner explica que a Turquia é a maior presença militar e econômica no norte da ilha e é o único estado que reconhece a República Turca do Chipre do Norte. “Este é um estado-fantoche e uma zona de proteção, mais do que uma entidade política real”, analisa.
Bakiner acredita que a Turquia “agora é mais aberta a políticos pró-solução do que no passado”. “Ancara vê o problema como um obstáculo à entrada na União Europeia, por isso não apoia os nacionalistas da velha guarda”, acredita. Para o cientista político, a principal razão do longo tempo sem saída para o conflito é que “as duas partes foram muito nacionalistas na aproximação”. Além disso, segundo ele, “a Turquia apoiou um estado turco-cipriota, embora ele fosse inviável”.
Por outro lado, diz Bakiner, quando o governo turco apoiou o plano de paz da ONU, em 2004, mesmo sendo impopular, e pediu aos turco-cipriotas que votassem a favor, os nacionalistas greco-cipriotas não aceitaram, pensando num cálculo político pequeno. “O melhor plano pela paz fracassou”, sentencia.
O acadêmico turco acha que as principais questões são a retirada das tropas turcas, a devolução de terras aos proprietários de antes de 1974 (uma exigência dos greco-cipriotas), indenizações para as pessoas que tiveram direitos violados durante a invasão e a organização do novo Estado unificado cipriota, sob uma federação ou confederação.
Cronologia
Agosto de 1960 – O Chipre surge como Estado independente.
Dezembro de 1963 – Violência entre as comunidades turco-cipriotas e greco-cipriotas
Marco de 1964 – Chegada das primeiras forcas internacionais de manutenção da paz ao Chipre.
Julho de 1974 – A Guarda Nacional, subordinada a oficiais grecos, da um golpe de estado contra o Governo de Chipre. Tropas turcas reagem com forte operação militar.
Agosto de 1974 – Forças turcas declaram cesse ao fogo. A UNFICYP determina linhas de cesse ao fogo e assume responsabilidade de patrulhar na zona de proteção.
Abril de 2004 – Referendo sobre o Plano Annan, nome do ex-secretário-geral da ONU. Os turcos-cipriotas votaram em 64% a favor; já os greco-cipriotas, 75% contra.
Abril de 2008 – Abertura da passagem da rua Ledra em Nicósia (ponto para cruzar do norte ao sul) e renovação das negociações do processo de paz em Chipre.
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