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Política e Economia

'Crescimento da extrema-direita é consequência do neoliberalismo', diz Noam Chomsky

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Com a crise imobiliária de 2008 e as revoltas que se seguiram em todo o mundo, o sistema financeiro teve que buscar novas formas de garantir seus lucros, afirmou filósofo norte-americano

Leonardo Fernandes e Pedro Ribeiro Nogueira

Brasil de Fato Brasil de Fato

2018-09-15T13:49:00.000Z

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Na Suécia, país-estandarte da social democracia europeia, a extrema-direita xenófoba conquistou 17,5% dos votos em eleições realizadas nesta semana. Associando sua raiva aos imigrantes, como acontece em diversas partes da Europa, dos EUA e até no Brasil, a razão do crescimento da direita radical pode não estar tão associada ao ódio irracional contra populações vulneráveis, mas ao sentimento de abandono diante da aplicação de políticas neoliberais, como aconteceram nos últimos anos na Suécia.

Essa é a opinião do linguista, cientista político e filósofo Noam Chomsky, apoiado por um estudo de cinco economistas suecos que mostrava a ligação entre o corte de gastos em políticas sociais e o crescimento do ódio. “Os eleitores da extrema-direita xenófoba têm pouco contato com imigrantes, mas sofreram com as políticas neoliberais do governo sueco em anos recentes. São pessoas deixadas de fora conforme a desigualdade cresceu e que se sentiram abandonadas pelas instituições políticas”, relatou Chomsky, presente ao Seminário Internacional Ameaças à Democracia e a Ordem Multipolar, e responsável por abrir a segunda mesa do evento, “O progressismo e o neoliberalismo em um mundo em desenvolvimento”.

Ele explicou também que o neoliberalismo surgiu durante uma crise da democracia, na década de 1970, quando as mentes pensantes do capitalismo central se sentiram ameaçadas pelo crescimento de grupos organizados de minorias, mulheres, negros e LGBT, que buscam reivindicar seus direitos.

Contra esse movimento, as elites precisaram desenhar um novo modelo social que combatesse as greves e as lutas dos trabalhadores. “Eles diziam: 'são marginais que devem ser colocados em seus lugares' – ou seja, como espectadores, não participantes do processo político, enquanto a minoria de homens responsáveis comandam em nome de todo mundo”. Desde então, os lucros do mercado financeiro cresceram mais de 1000%, enquanto os salários reais declinaram.

Essa mudança de paradigma, que também demandou mudanças na educação para formar cidadãos mais “dóceis e obedientes”, preconizadas pelas reformas do Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, geram “frustração, raiva e tristeza” na classe trabalhadora, que irá se voltar contra alvos mais vulneráveis. E, desde os anos 1970, quando aconteceu o "assalto neoliberal de Margaret Thatcher e Ronald Reagan [Primeira ministra do Reino Unido e o presidente dos EUA nos anos 1980]", que preconizava a inexistência da sociedade – “existem apenas indivíduos” –, o modelo teve que ser renovado. 

Criação de precariedades

Com a crise imobiliária de 2008 e as revoltas que se seguiram em todo o mundo, o sistema financeiro teve que buscar novas formas de garantir seus lucros. “A economia está desenhada para criar precariados”, diz Chomsky, ao lembrar de um estudo importante do economista Alan Krueger, que mostra “que 95% do crescimento do emprego nos EUA entre 2005 e 2015 aconteceu em arranjos alternativos, temporários, de meio período, transformando a sociedade em um saco de batatas e criando uma mistura tóxica que pode irromper de formas perigosas, como vemos hoje pelo mundo”.

Além disso, avançou o que ele qualifica de “capitalismo corporativo”. “O poder corporativo se traduz em declínio da democracia”, analisa Chomsky. “A grande maioria da população é abandonada e os representantes apenas defendem os interesses dos doadores de campanha. A Amazon, a segunda empresa de US$ 1 trilhão de dólares dos EUA, que consome 2% da energia elétrica do país, tem muitos subsídios, enquanto se cortam benefícios sociais. Só quem ganha é o agronegócio, as finanças, as grandes indústrias”.

Com a democracia sob ataque, um processo que, apesar do exemplo estadunidense, pode ser visto também no Brasil e em diversas partes do globo, quais são as saídas? Mesmo reconhecendo que a situação do país é grave, Chomsky apresenta um exemplo generoso:

“Há um século, o Brasil era reconhecido como possível colosso e esse objetivo parecia à vista há alguns anos, quando se tornou talvez o país mais respeitado do mundo, sob a liderança de Lula e de seu ministro Celso Amorim, com seus impressionantes feitos. E isso é uma indicação do que pode ser alcançado pelo país. Nunca subestime os obstáculos à frente e tampouco a capacidade do espírito humano de superá-los e prevalecer”.

Resistências

Na sequência, antes de começar sua exposição, Cuauhtémoc Cárdenas, presidente do Centro Lázaro Cárdenas, do México, e ex-prefeito da Cidade do México, destacou a satisfação de encontrar o ex-presidente Lula na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, na tarde da última quinta-feira (13/09). “Encontramos uma pessoa que nos levantou o ânimo, nos fez ver que ele segue combativo e disposto a seguir na luta”. 

Cárdenas fez uma explanação sobre a realidade atual do México, recordou a aplicação de políticas neoliberais nas últimas décadas e a recente eleição do esquerdista Andrés Manuel López Obrador como um marco para a história recente dos mexicanos, no sentido de superar problemas gerados ou aprofundados pelo período neoliberal. “Nós acreditamos que a única forma de resolver os nossos problemas é mudar o modelo, o sistema de desenvolvimento político, econômico e social que temos”. 

“Estamos propondo uma mudança na forma como vivemos. E que finalmente possamos superar isso que ficou conhecido como políticas neoliberais”, ressaltou.

Em seguida, Luiz Carlos Bresser Pereira, economista, cientista político, ex-ministro nos governos de José Sarney (PMDB, 1985-1990) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1994-2002) fez uma fala com foco no desenvolvimento da economia capitalista até a adoção das políticas neoliberais, mais fortemente aplicadas a partir da década de 80 na América Latina. E fez uma crítica aos projetos políticos de esquerda, pela ausência de uma alternativa. “O neoliberalismo, que esteve vigente no mundo desde a década de 80, fracassou. Mas a centro-esquerda não conseguiu formular o seu projeto econômico”.

Já Carlos Ominami, ex-senador chileno e diretor da Fundación Chile 21, homenageou o ex-presidente Lula. “Eu diria que Lula é o principal líder, a figura mais destacada do progressismo a nível global. Em uma época existiam dois: Nelson Mandela e Lula. Mandela se foi e Lula ficou. Por isso, por sua liderança no Brasil e no mundo, podemos dizer que tentaram acabar com ele, mas não conseguiram. Hoje Lula é maior do que antes”.

E comparou o golpe de Estado no Brasil, em 2016, ao golpe vivido por Salvador Allende no Chile, na década de 70. “As ameaças à democracia existem e são muito sérias. E o Brasil é um exemplo disso. O golpe de estado em 2016 contra Dilma é, talvez, o fato mais grave da política latino-americana desde o golpe contra Salvador Allende”.

Brasil da esperança

O ex-primeiro ministro espanhol José Luís Rodrigues Zapatero, lembrou, em tempos de crise migratória, como o Brasil foi capaz de receber ao longo de sua histórias, ondas de imigrantes europeus, acolhendo, dando refúgio e oferecendo uma nova vida e construção do país. E que isso se seguiu até o presente, com os últimos governos progressistas do país.

“O Brasil é uma referência decisiva para a América Latina. O Brasil de Lula, da democracia, da esperança. Nunca se havia empenhado tanto na luta contra a pobreza e a miséria no mundo. Temos que reconhecer o seu compromisso em erradicar a pobreza extrema e a morte por fome. Minha geração pode ser a primeira que conhece o fim da mortalidade pela fome no mundo”, disse.

Zapatero, ao fim, pediu que o campo progressista não perca a esperança e a capacidade de pensar saídas para o neoliberalismo. “Todos os petistas, lulistas, todo o Brasil progressista, temos que demonstrar que não permitem que a democracia seja a superioridade dos mais poderosos. Não podemos perder a confiança em nós mesmos, no que representamos nos valores da esquerda, nos ideais, e saber que a democracia é sempre uma luta pela democracia.”, finalizou.

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Política e Economia

Alemanha reduz imposto sobre o gás em meio a alta dos preços

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Scholz afirma que imposto sobre valor agregado cairá temporariamente de 19% para 7% a fim de 'desafogar consumidores'. Governo alemão estava sob pressão após anunciar uma sobretaxa ao consumo de gás durante o inverno

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-18T22:00:00.000Z

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O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou nesta quinta-feira (18/08) que o governo vai reduzir temporariamente o imposto sobre valor agregado (IVA) do gás, de 19% para 7%, a fim de "desafogar os consumidores" em meio a alta dos preços.

Em coletiva de imprensa, o líder alemão disse esperar que as empresas de energia repassem a economia possibilitada pela medida de maneira proporcional aos consumidores, que usam o gás, por exemplo, para aquecer suas casas em meses mais frios.

A medida deve entrar em vigor em outubro e durar ao menos até o fim do ano que vem. A ideia é diminuir o peso de uma sobretaxa ao uso de gás anunciada pelo governo alemão no início desta semana.

Essa sobretaxa, que também entrará em vigor em outubro para residências e empresas alemãs, foi fixada em 2,4 centavos de euros por quilowatt-hora de gás utilizado durante o inverno europeu.

O anúncio levou a indústria e políticos da oposição a pressionarem o governo alemão a tomar alguma medida para suavizar o aumento dos preços.

"Com essa iniciativa, vamos desafogar os consumidores num nível muito maior do que o fardo que a sobretaxa vai criar", afirmou Scholz.

Inicialmente, o governo alemão havia dito que esperava amenizar o golpe da sobretaxa ao gás tornando somente ela isenta do IVA. Mas, para isso, Berlim precisaria do aval da União Europeia (UE), que não aprovou a ideia.

Por outro lado, o que o governo de Scholz poderia fazer sem precisar consultar Bruxelas é alterar a taxa do IVA sobre o gás em geral. E foi o que ele fez.

O gás é o meio mais popular de aquecimento de residências na Alemanha, sendo usado em quase metade dos domicílios do país.

Alemanha corre para encher reservatórios

Além de planos para diminuir o uso de energia, a Alemanha também segue tentando encher suas reservas de gás natural liquefeito antes do início do inverno.

O vice-chanceler federal e ministro da Economia e da Proteção Climática, Robert Habeck, anunciou recentemente um plano para preencher os reservatórios com 95% da capacidade até 1º de novembro.

No momento do anúncio, as reservas estavam em 65% do total e, no fim de semana passado, chegaram a 75%, duas semanas antes do previsto.

Julian Stratenschulte/dpa/picture alliance
Redução no imposto sobre o gás ocorreu após pressão da indústria e de políticos da oposição

Ainda assim, o chefe da agência federal alemã responsável por diferentes redes, como redes de trens e de gás, disse nesta quinta-feira que tem dúvidas sobre o alcance da meta.

"Não acredito que vamos atingir nossas próximas metas de reserva tão rapidamente quanto as primeiras. Em todas as projeções ficamos abaixo de uma média de 95% até 1º de novembro. A chance de isso acontecer é baixa porque alguns locais de armazenamento começaram num nível muito baixo", disse Klaus Müller ao site de notícias t-online.

Ele também alertou que os consumidores provavelmente terão que se acostumar com as pressões no mercado de gás de médio ou longo prazo.

"Não se trata de apenas um inverno, mas de pelo menos dois. E o segundo inverno [a partir do final de 2023] pode ser ainda mais difícil. Temos que economizar muito gás por pelo menos mais um ano. Para ser bem direto: serão pelo menos dois invernos de muito estresse", afirmou Müller.

Plano de contingência

Em 26 de julho, a União Europeia aprovou um plano de redução do consumo de gás, com o objetivo de armazenar o combustível para ser usado durante o inverno e diminuir a dependência da Rússia no setor energético. O plano de contingência entrou em vigor no início de agosto.

Na Alemanha, o governo segue analisando maneiras de limitar o consumo de energia, antevendo a situação para o próximo inverno.

Prédios públicos, com exceção de hospitais, por exemplo, serão aquecidos somente a 19 ºC durante os meses frios. Além disso, diversas cidades na Alemanha passaram a reduzir a iluminação noturna de monumentos históricos e prédios públicos.

Em Berlim, cerca de 200 edifícios e marcos históricos, incluindo o prédio da prefeitura, a Ópera Estatal, a Coluna da Vitória e o Palácio de Charlottenburg, começaram a passar por um processo de desligamento gradual de seus holofotes no final de julho, em um processo que levaria quatro semanas.

Hannover, no norte do país, também anunciou seu plano para reduzir o consumo de energia em 15% e se tornou a primeira grande cidade europeia a desligar a água quente em prédios públicos, o que inclui oferecer apenas chuveiros frios em piscinas e centros esportivos.

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