A política para refugiados e a ascensão da extrema direita
levam o governo da Alemanha a uma crise que parece não ter fim. A destituição
do chefe da agência de inteligência do país depois de ele ter minimizado
ataques de neonazistas contra estrangeiros provoca mais rusgas na coalizão de
governo da chanceler Merkel e causa revolta entre os eleitores.
Segundo pesquisa divulgada nesta terça-feira (20/09) pelo
tabloide Bild, 57% não concordam com a solução encontrada para
retirar do cargo Hans-Georg Maaßen (pronuncia-se “Maassen”), chefe do Departamento de Proteção à
Constituição (BfV), serviço secreto interno da Alemanha, encarregado sobretudo
de monitorar a ação de movimentos que divulgam a ideologia nazista, proibida
pela Constituição do país.
Após declarações relativizando ações de extremistas de
direita contra estrangeiros durante protestos xenófobos em julho na cidade de
Chemnitz, Maaßen foi alvo de críticas da oposição, de membros do Partido
Social-Democrata (SPD) – membro da coalizão de governo -, da própria chanceler
alemã, Angela Merkel e de integrantes de seu partido.
Maaßen será afastado do cargo mas não será demitido, e sim
transferido, por seu superior imediato, o ministro do Interior, Horst Seehofer,
para outro posto mais alto: o de secretário de Estado no Ministério do
Interior, onde passará a ganhar 2.600 euros a mais de salário.
Acordo “podre”
Somente 9% dos entrevistados pela sondagem publicada
pelo Bild disseram concordar com a medida, classificada pelos
críticos como um “acordo podre” para afastar mais uma crise de governo e
agradar a todas as partes – tanto sociais-democratas, como Seehofer, que
minimizou as declarações controversas de Maaßen e se posicionou ao lado de seu
subordinado.
Durante entrevista à imprensa, Maaßen questionara a
autenticidade de imagens mostrando agressões de manifestantes contra
estrangeiros. A chanceler havia criticado imagens dos protestos em Chemnitz
mostrando dois homens de aparência árabe sendo atacados. Maaßen alegou não
haver evidências para se falar numa “caça” aos estrangeiros, contradizendo a
chefe de governo e levantando dúvidas sobre a autenticidade do vídeo. Após a
polêmica, ele voltou atrás e reconheceu que as imagens são legítimas.
Entretanto, a solução, acertada durante uma reunião da
liderança dos partidos da coalizão governamental alemã, parece contribuir para
prorrogar ainda mais a briga interna entre os membros da aliança que sustenta o
governo Merkel.
Críticas dos sociais-democratas
Também o SPD está sofrendo um verdadeiro terremoto após o
anúncio da transferência de Maaßen. Membros da legenda estão criticando
abertamente a presidente da agremiação, Andrea Nahles, por ter aceitado o
acordo para salvar a coalizão de governo.
Muitos políticos sociais-democratas dizem que o SPD sai como
um eterno perdedor dessa queda de braço entre o ministro do Interior Seehofer e
a chanceler Merkel. Um agravante é que Maaßen, ao deixar a chefia do BfV,
assumirá um cargo que até agora vem sendo ocupado exatamente por um membro do
SPD.
No centro da questão estão a ascensão do partido de extrema
direita Alternativa para a Alemanha (AfD), apoiada sobretudo no discurso
anti-imigração. Após se firmar como principal força oposicionista na Alemanha
nas eleições parlamentares do ano passado, os radicais de direita da AfD
ameaçam impor perdas históricas à CSU, comandada por Horst Seehofer, nas
eleições regionais do mês que vem no estado da Baviera.
Temendo perder votos para a AfD, Seehofer tem adotado um
discurso político mais palatável à direita e à extrema direita. A punição do
chefe da espionagem alemã por causa de uma declaração interpretada como pouco
crítica a movimentos e extrema direita não cairia bem à imagem que o ministro
alemão do Interior quer transmitir a seu eleitorado mais conservador.
Entretanto, ao garantir não só a manutenção de Maaßen no
governo como também sua promoção, apesar de todo o embaraço causado a Merkel,
Seehofer também expõe a atual fraqueza política da chefe de governo alemã.
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Maaßen minimizou ataques de neonazistas contra estrangeiros (Foto: Wikimedia Commons)