A crise política desatada há menos de 24 horas na Itália se desdobrou nesta sexta-feira (30/7) em reações enérgicas e um revés político para o primeiro-ministro Silvio Berlusconi. O presidente da câmara dos deputados, Gianfranco Fini, anunciou a criação de um bloco parlamentar autônomo chamado Futuro e Libertà (Futuro e Liberdade), junto com 32 aliados, entre deputados e ministros. Mas, segundo rumores ouvidos no parlamento em Roma, o número de dissidentes pode chegar a 35 deputados e até 12 senadores.
A iniciativa foi uma resposta ao rompimento de Berlusconi, que na quinta-feira (29/7) expulsou Fini do PDL (Povo da Liberdade), partido de direita fundado pelos dois em março de 2009. O primeiro-ministro acusou o aliado de ser um “traidor e conspirador” e de tentar provocar uma “morte lenta” do partido.
EFE
Gianfranco Fini, até ontem aliado do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, anuncia o novo bloco
Fini se recusou a renunciar à presidência da câmara e uniu dissidentes do PDL para montar o novo grupo. Hoje, o ex-aliado do governo disse que todos os políticos envolvidos “não hesitarão em se opor a escolhas governistas injustas ou contrárias ao interesse geral”, mas que “apoiarão” o governo quando apresentar medidas que estiverem em conformidade com o programa do PDL.
Os dissidentes arregimentados por Fini incluem um ministro e 4 subsecretários. Analistas na Itália acreditam que, se os números forem reais, o governo Berlusconi pode ter forte dificuldade em prosseguir, pois teria cinco deputados e dois senadores a menos que o necessário para manter a maioria parlamentar.
“Estamos frente ao fim do ‘berlusconismo’. Mas é difícil prever quanto vai durar esta transição e como pode se desdobrar”,– comentou o candidato ao governo da Lombardia pelo PD, Filippo Penati. Ele é muito próximo do líder do partido, Pierluigi Bersani, que é o maior da oposição.
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O próprio Bersani declarou na câmara dos deputados que “para sair desta situação de impasse político, é preciso passar por uma fase de transição na qual o PD esteja disposto a se empenhar”. O discurso era uma referência à possibilidade de um governo de união nacional entre o PD, o partido UDC de centro (aliado de Berlusconi até 2008), o recém-nascido Futuro e Libertà de Fini.
Novas eleições
Outra ala do PD, aliada ao antigo líder do partido, Walter Veltroni, quer eleições imediatas se Berlusconi não puder mais governar. A mesma posição é adotada pelo outro partido de oposição, ou IDV (Italia dei Valori).
“Apoiar um governo de transição seria um erro imperdoável que nossos eleitores não entenderiam”, disse o senador Giorgio Tonini, do PD.
O líder do IDV, Antonio Di Pietro (ex-juiz da operação Mãos Limpas) pediu que Berlusconi vá ao parlamento para verificar se ainda tem maioria. Di Pietro ressalta também que a ruptura entre os dois líderes da direita é uma grave crise institucional, porque o chefe de governo não pode pedir a renúncia de Fini, já que a presidência da câmara é um cargo importante.
Os “berlusconistas”, por outro lado, desmerecem a polêmica, alegando que têm base para continuar governando até 2013, quando acaba o mandato legislativo. De fato, nos últimos dias surgiram denúncias compra de votos de parlamentares de outros partidos por parte do governo, que nas últimas horas vem contactando e se reunindo com deputados de partidos menores.
Órfãos do fascismo
Já o analista parlamentar Francesco Verderami pensa de forma diferente e se questiona: “Não será que Berlusconi fez mal as contas ao expulsar Fini do partido, pensando que ninguém o seguiria?”.
Curiosamente, o rompimento interno da direita italiana aconteceu no dia do aniversário de Benito Mussolini. A neta do ditador fascista, Alessandra Mussolini, é uma dos deputados do PDL. O rompimento deixou a parlamentar em dúvida sobre qual dos lados irá seguir.
“Fini é como um pai para mim, enquanto Berlusconi é como uma mãe”, lamentou Alessandra.
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