O governo francês descartou, ao menos por enquanto, a instauração do estado de emergência no país, como chegou a ser cogitado durante o final de semana, por conta dos protestos dos que ficaram conhecidos como “coletes amarelos”. A informação é do ministro francês do Interior Laurent Nuñez, que afirmou, em entrevista nesta segunda (03/12) à rádio RTL, que o conjunto de “medidas existentes” para enfrentar a situação será analisado.
O “regime de exceção” já havia sido adotado durante a crise nos subúrbios parisienses em 2005 e depois dos atentados terroristas de Paris, em 2015. A França colocou um fim ao estado de emergência depois da promulgação da lei de segurança interna e luta contra o terrorismo, que integrou ao direito comum dispositivos aplicáveis somente em situações de crise.
Por sua vez, o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, receberá nesta terça-feira (04/12) membros do movimento, que pediram uma audiência com o premiê. Philippe também anunciou que vai propor na próxima quarta-feira (05/12) a organização de um debate na Assembleia Nacional sobre a crise que afeta a França há duas semanas.
Membros do governo deram declarações contraditórias sobre o assunto no fim de semana. No sábado, o ministro do Interior, Christophe Castaner, disse que o estado de emergência “não era um tabu”. Já a ministra da Justiça, Nicole Belloubet, declarou neste domingo (02/12) que havia “outras opções”.
Políticos
Para diminuir a tensão, a oposição e uma parte dos coletes amarelos pediram um adiamento da alta dos impostos sobre o combustível, medida do governo que desencadeou o movimento, além do retorno do ISF (Imposto sobre a Fortuna), extinto pelo governo Macron. A líder de extrema direita do partido Reagrupamento Nacional, Marine Le Pen, voltou a defender a dissolução da Assembleia Nacional.
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Governo francês, que havia cogitado decretar estado de emergência, desistiu da medida, em que pese a violência dos protestos
Jean-Luc Mélénchon, representante da esquerda francesa, também propôs a convocação de eleições legislativas antecipadas para sair da crise.
Já o representante do partido conservador Os Republicanos, Laurent Wauquiez, sugeriu um referendo sobre os impostos aplicados à política de transição energética na França. Segundo ele, o presidente francês, Emmanuel Macron, defende “uma ecologia que é baseada em taxas. É um erro, mas deve haver um debate sobre o tema. Os franceses devem ser consultados”.
A pedido de Macron, o primeiro-ministro deve receber nesta segunda-feira (03/12), durante todo o dia, os representantes dos 12 partidos que integram o Parlamento. O último encontro será às 19h30 com Fabien Roussel, do PCF (Partido Comunista Francês).
Julgamentos
Segundo o Ministério Público francês, 139 manifestantes compareceram nesta segunda à Justiça e dezenas serão julgados em “audiências de comparecimento imediato”. Eles foram detidos no sábado durante os protestos. Por enquanto, 111 deles tiveram a detenção para interrogatório prolongadas. De acordo com um balanço do Ministério do Interior francês, 136 mil pessoas foram às ruas na França para protestar contra a baixa do poder aquisitivo e a alta dos impostos sobre os combustíveis. A polícia prendeu 682 pessoas em toda a França – 412 só em Paris. O tumulto deixou pelo menos 263 feridos – entre eles, 81 policiais.
(*) Com RFI