Paris tem um dia tenso, com várias manifestações na capital. Os “coletes amarelos” estão nas ruas no 18° ato de mobilização, no fim de semana em que o movimento completa quatro meses. Ativistas e manifestantes enfrentam as tropas policiais. Lojas, restaurantes, agências bancárias e saques foram registrados na avenida Champs-Elysées e ruas adjacentes.
As autoridades franceses estavam cientes que a mobilização deste sábado (16/03) contaria com a infiltração de black blocs, inclusive vindos do exterior. Pelo menos 5.000 policiais e seis carros blindados compõem o dispositivo de segurança na capital. Outras ações estão programadas em Bordeaux, Dijon, Caen e Montpellier.
Os incidentes de violência começaram cedo, às 10h30 no horário local (6h30 em Brasília), nas proximidades do Arco do Triunfo. Manifestantes construíram barricadas e atacaram carros da polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogêneo. Policiais foram atacados com pedras e outros projéteis cortantes. Vários cortejos de “coletes amarelos” não foram declarados, de acordo com autoridades da área de segurança.
Nas redes sociais, um militante histórico do movimento, Eric Drouet, motorista de caminhão, disse durante a semana que era necessário acabar com o “pacifismo” das manifestações. Drouet convidou “coletes amarelos” de todo o país a se reunir na capital e citou o apoio de militantes que poderiam vir da Itália, Bélgica, Holanda, Alemanha e Polônia.
Segundo o ministro do Interior, Christophe Castaner, o protesto conta com 7 mil a 8 mil manifestantes, sendo 1.500 ultraviolentos. Às 15h (11h em Brasília), 82 pessoas já tinham sido detidas.
O presidente Emmanuel Macron está fora da cidade. Ao retornar na sexta-feira (15/03) de um giro na África, Macron e a primeira-dama, Brigitte, passam o fim de semana em uma estação de esqui dos Pirineus.
Lojas de marcas de luxo, símbolos do capitalismo, são vandalizadas
Os estragos são impressionantes na avenida Champs-Elysées. Manifestantes radicais, munidos de barras de ferro e de cimento, quebraram vitrines de marcas de luxo, como Hugo Boss e a loja Nespresso. O terraço do restaurante Fouquet's, local frequentado por milionários, políticos e turistas, foi destruído. Os militantes atacam “símbolos do capitalismo”.
Na avenida Franklin Roosevelt, travessa da Champs-Elysées, uma agência bancária localizada no térreo de um edifício residencial foi incendiada. O banco fica praticamente em frente ao consulado do Brasil em Paris. Onze pessoas ficaram feridas, incluindo dois policiais que entraram no prédio para ajudar a evacuar os moradores. Segundo o Corpo de Bombeiros, uma mulher e seu bebê foram salvos das chamas depois de ficarem bloqueados no segundo andar.
“Os indivíduos que cometeram este ato não são manifestantes nem ativistas ultrarradicais, são assassinos”, tuitou o ministro do Interior.
O grande debate nacional lançado pelo presidente Macron para encontrar soluções à crise dos “coletes amarelos” terminou oficialmente nesta sexta-feira (15/03). Mas as propostas feitas por milhares de franceses desde 15 de janeiro estão sendo processadas e o governo só deverá fazer anúncios oficiais nas próximas semanas.
Marcha do Século pelo Clima
Além do 18° ato dos “coletes amarelos”, Paris tem outras três manifestações previstas neste sábado.
Em atmosfera bem mais pacífica, 140 ongs promovem a “Marcha do Século pelo Clima”, partindo às 12h (8h de Brasília) da praça do Trocadero. Outros 200 eventos para denunciar a inércia dos dirigentes no combate ao aquecimento global estão previstos em todo o país. Os manifestantes cobram do governo respostas à altura dos desafios climáticos e da redução da biodiversidade. Ontem, 160 mil estudantes franceses participaram da greve mundial pelo clima.
A Marcha da Solidariedade, também na capital francesa, denuncia a violência policial e o “racismo de Estado”. Por fim, trabalhadores de parques de diversão realizam um protesto por restrições impostas à profissão.
Patrice Calatayu/Flickr CC
Foto do dia 9 de março mostra movimentação policial em Paris; protestos deste sábado foram violentos