Dias após a posse de Juan Manuel Santos, um atentado com um carro bomba em Bogotá abalou o novo governo, que prometeu combater as “forças terroristas” por trás do ato. Logo após o ataque, o deputado colombiano Iván Cepeda, conhecido pela defesa dos direitos humanos, recebeu ameaças de morte. O medo do terrorismo voltou à Colômbia.
Na opinião de membros do governo e de analistas políticos entrevistados pelo Opera Mundi, por trás do atentado e das ameaças estão forças de extrema direita, incomodadas com os rumos definidos por Santos logo após assumir a presidência e que, por meio de grupos paramilitares, executaram os crimes.
O alerta se instalou no país na última quinta-feira (12/8), quando uma explosão atingiu o complexo de prédios onde fica a emissora da Rádio Caracol, ao norte de Bogotá. Dois suspeitos já foram presos, mas os responsáveis ainda não foram identificados.
No dia seguinte, Cepeda, deputado do partido oposicionista Pólo Democrático Alternativo, denunciou ter recebido ameaças de morte por e-mail, assinadas pelos Águilas Negras, um grupo paramilitar colombiano. O texto dizia que ele tinha um prazo de 20 horas para sair de Bogotá. Além de Cepada, a ameaça estava endereçada também a Rigoberto Jiménez, diretor da Coordenação Nacional de Deslocados (CND) e Alfonso Castillo, do grupo de advogados ANDAS.
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Ontem (15/8), o presidente do Congresso, Armando Benedetti afirmou que o atentado foi realizado por forças de extrema direita. Ele disse também que o ataque tem uma “mensagem clara e direta para Santos”, por conta de mudanças anunciadas no início de seu governo.
“Eu acredito que foi um ato de forças da extrema direita pela forma como trabalharam, pela mensagem que quiseram mandar ao novo presidente, pelo lugar onde colocaram. Foi para que tivesse uma repercussão grande”, afirmou Benedetti em entrevista à rede venezuelana Telesur.
Conexão
Para a senadora Piedad Córdoba, do Partido Liberal, conhecido por atuar na mediação para a libertação de reféns das FARC, “as ameaças contra Iván Cepeda vêm dos mesmos autores do carro bomba em Bogotá”. Assim como Cepeda, Piedad acredita que existe um fio condutor na série de acontecimentos. “O carro bomba não foi colocado por ninguém que não seja membro da direita do país, que estão sendo apoiados por militares e paramilitares”, afirmou.
Cepeda concordou com a senadora. “Eles não vão nos intimidar. Querem semear um clima de terror no país, prova disso é o atentado contra a Rádio Caracol.”
Para o especialista em segurança nacional da Universidade Nacional da Colômbia, Armando Borrero, os autores do atentado são de um grupo de extrema direita. “O que aconteceu foi um ato de terrorismo ilustrado, ou seja, quando um atentado é feito para que a culpa seja atribuída a outros e assim, provocar um efeito político”, disse o professor, em referência ao fato de alguns políticos terem atribuído a responsabilidade da explosão às FARC.
Já o representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos na Colômbia, Christian Salazar, acredita que “um atentado assim, com uma bomba de tal magnitude, busca provavelmente atrapalhar as recentes mensagens de conciliação [entre governo e guerrilha]. O novo presidente estendeu a mão a muitos setores sociais, além disso, restabeleceu relações com a Venezuela, e por isso, a bomba”.
Motivações
A explosão em Bogotá e a ameaça ao deputado foram feitas uma semana antes do debate sobre a restituição de terras para deslocados, que começará nesta quarta-feira (18/8) na Câmara. A discussão deve ter um tom crítico em relação ao sistema de distribuição de terra aqueles expulsos de suas propriedades, o que pode ter motivado o “aviso” enviado pelos terroristas.
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Outro ponto que não parece ser coincidência é o fato de o e-mail para Cepeda ter chegado no dia do assassinato do comediante mais famoso do país, Jaime Garzón, cometido por paramilitares há oito anos. Carlos Castaño, responsável também pelo sequestro da senadora Piedad e pelo assassinato do senador Manuel Cepeda, pai de Iván, foi condenado pelo crime. O Estado colombiano foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos pelo assassinato do senador em 1994, que foi atribuído a uma aliança entre militares e paramilitares.
Logo após a explosão, o governo condenou o ataque e classificou como terrorista, mas não acusou nenhum grupo. Até o momento, o único membro do governo que afirmou que suspeita que os responsáveis foram as FARC foi o ministro de Defesa, Rodrigo Rivera, bastante próximo do ex-presidente Álvaro Uribe. “Os terroristas nos atacam com emboscadas, com sequestros, com atos terroristas e também nos atacam com vídeos, comunicados. Eles querem frear o ímpeto de nossas forças militares”.
O governo de Santos continua procurando os responsáveis pelo atentado e oferece recompensa de 500 milhões de pesos a qualquer informação que permita esclarecer o caso.
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