O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira (08/04) que a Guarda Revolucionária do Irã passa a fazer parte da lista do governo norte-americano de grupos terroristas estrangeiros.
“Este passo sem precedentes […] reconhece a realidade que o Irã não é só um Estado patrocinador do terrorismo, mas também que a IRGC [sigla em inglês da Guarda Revolucionária], participa, financia e promove o terrorismo como uma ferramenta estatal”, disse Trump em comunicado.
Atualmente, o governo norte-americano classifica cerca de 60 grupos em todo o mundo como organizações terroristas estrangeiras, mas essa é a primeira vez que Washington toma uma medida drástica contra militares de outro país.
A Guarda Revolucionária do Irã, divisão das forças armadas iranianas criada após a Revolução Islâmica de 1979 para proteger o novo sistema teocrático, é a organização militar mais poderosa da nação asiática e controla amplos setores econômicos do país.
Nos últimos anos, os Estados Unidos impuseram sanções a dezenas de entidades e indivíduos vinculados à corporação, mas nunca tinha sancionado diretamente essa força militar, um passo que resultará em restrições de viagem e possíveis acusações criminais para quem colaborar com a Guarda Revolucionária.
A decisão é fruto de um acirrado debate no governo Trump, no qual alguns funcionários do Pentágono e da CIA advertiram que a medida pode levar a represálias contra tropas americanas no Oriente Médio, escreveu o jornal The Wall Street Journal.
O comandante-chefe da Guarda Revolucionária do Irã, Mohammad Ali Jafari, advertiu neste domingo que Teerã adotaria “medidas recíprocas” e que as tropas norte-americanas “não teriam paz no Oriente Médio” se os EUA seguissem adiante com seu plano de sancionar a corporação.
Pouco após o anúncio de Trump, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, pediu nesta segunda-feira ao Conselho Supremo de Segurança Nacional do país que designe as Forças Armadas dos Estados Unidos na região como grupo terrorista.
Em carta dirigida ao chefe do Conselho, o presidente iraniano, Hassan Rohani, Zarif propôs incluir as “forças militares dos EUA no oeste da Ásia (CENTCOM) na lista dos grupos terroristas da República Islâmica”.
Segundo explicou na rede social Telegram o porta-voz da Chancelaria iraniana, Bahram Qasemi, a iniciativa de Zarif é justificada pelo “apoio oculto e claro das forças militares norte-americanas na região aos grupos terroristas e pela intervenção direta dos militares desse país com a realização de atividades terroristas”.
Decisão de Trump
Trump reconheceu que sua decisão marca “a primeira vez que os Estados Unidos declaram como grupo terrorista estrangeiro uma parte de outro governo”, mas considerou que isso deixa claro que “as ações do Irã são fundamentalmente diferentes das de outros governos”. O Irã é visto pelos EUA como o maior patrocinador do terrorismo internacional.
“Esta ação deixa claro os riscos de se fazer negócios com a IRGC, ou de lhe proporcionar apoio. Se você está fazendo negócios com a IRGC, você está distribuindo recursos para o terrorismo”, frisou Trump.
Críticos alertaram que a decisão dos EUA poderia complicar muito o trabalho do pessoal militar e diplomático norte-americano, restringindo a interação com autoridades, por exemplo, no Iraque ou no Líbano, que têm laços estreitos com a IRGC.
No Iraque, isso afetaria o contato com muitas milícias xiitas e partidos políticos, enquanto no Líbano, o movimento Hisbolá, que faz parte do governo, também está fortemente ligado ao IRGC.
As autoridades dos EUA já estão proibidas de entrar em contato com o Hisbolá, que também foi designada como organização terrorista estrangeira por Washington.
Críticos da medida também alertam para possíveis retaliações iranianas contra interesses norte-americanos que poderiam atingir embaixadas e consulados.
Tais temores dissuadiram as administrações anteriores dos EUA de colocar o IRGC na lista de organizações terroristas. No entanto, o atual governo dos EUA contém uma série de opositores linha-dura do Irã, com o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton. Eles criticam veementemente o que descrevem como “atividades malignas” de Teerã no Oriente Médio.
Pouco depois do anúncio de Trump, Pompeo denunciou, em entrevista coletiva, o suposto envolvimento da Guarda Revolucionária na morte de centenas de soldados norte-americanos no Oriente Médio, e disse que “seu sangue está nas mãos do regime iraniano”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, saudou a decisão dos EUA de classificar oficialmente a Guarda Revolucionária do Irã como organização terrorista. Netanyahu disse nesta segunda-feira que Trump atendeu, assim, a uma de suas reivindicações.
“Obrigado, meu caro amigo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por ter decidido colocar a Guarda Revolucionária do Irã na lista de organizações terroristas. Obrigado por responder positivamente a outro dos meus pedidos, que atende aos interesses do nosso país e dos países da região”, escreveu Netanyahu em sua conta do Twitter. A decisão do governo dos EUA ocorre um dia antes das eleições gerais em Israel.
CA/efe/afp/dpa/dw
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Governo Trump classificou Guarda Revolucionária do Irã como ‘grupo terrorista’