Um programa vago, sem grandes compromissos, mas com a promessa de combater a corrupção e de se aproximar da Otan: é o que traz o novo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, eleito neste domingo (21/04) com 73% dos votos. Ele derrotou o atual mandatário, Petro Poroshenko, que deixa o cargo em 31 de maio.
Zelensky usou o mesmo roteiro de líderes populistas em todo mundo: apresentou-se como “outsider”, prometeu “quebrar o sistema”, encampou um discurso anticorrupção e pintou o adversário como representante das oligarquias ucranianas. Como no Brasil, Zelensky fez em uma campanha por meio de vídeos na internet e mensagens de WhatsApp.
Antes de se lançar na política, Zelensky era a estrela de uma série de comédia chamada “Servo do Povo”, na qual interpretava um professor que acaba virando presidente da Ucrânia. O programa era recordista de audiência no país e catapultou a imagem de Zelensky. No réveillon deste ano, ele apareceu à meia-noite do dia 1º de janeiro na TV ucraniana para desejar “feliz ano-novo” – e aproveitar para anunciar que se candidataria, de verdade, à presidência do país.
Durante a campanha, ele se mostrou ideologicamente volátil, ora demonstrando simpatia por Jair Bolsonaro, ora pelo presidente francês Emmanuel Macron. O presidente eleito também apostou em um discurso anti-política, rechaçando qualquer posicionamento que o aproximasse de espectros ideológicos. “Nós não dividimos as pessoas à esquerda e à direita. Não divida as pessoas em ucraniano ou russo, em um ou outro. Estamos todos juntos: todos pensamos em um idioma – a linguagem da igualdade”, disse Zelensky em sua conta no Twitter durante campanha para o segundo turno.
Zelensky prometeu o fim da imunidade jurídica a parlamentares do Legislativo, membros do Executivo e magistrados. O novo presidente também falou em anistia fiscal a empresários e “novas parcerias” com o FMI, que já emprestou milhões de euros ao país.
Relações com Moscou
Após reconhecer a derrota, Poroshenko afirmou em sua conta no Twitter que a vitória de Zelensky alegra Moscou, pois “eles acreditam que com um novo e inexperiente presidente ucraniano, a Ucrânia pode retornar facilmente para a órbita de influência da Rússia”.
Durante a campanha, Zelensky falou em “quebrar o sistema” sem se desviar do curso pró-Ocidente. O candidato vitorioso de um dos países mais pobres da Europa, onde o salário médio é de 300 euros mensais, quer a Ucrânia na Otan e garante que vai seguir o caminho em direção à Europa. A preocupação do presidente eleito em manter um discurso amigável à UE se deve ao recente histórico diplomático turbulento da Ucrânia com a Rússia.
Entretanto, as posições do presidente eleito não revelam quais serão suas futuras medidas acerca das relações entre Kiev e Moscou. Ao mesmo tempo em que promete aproximação com o Ocidente, Zelensky afirmou que uma de suas primeiras ações como mandatário será liberar os 24 marinheiros russos presos na Ucrânia em razão de um conflito ocorrido em novembro do ano passado, em que embarcações russas abriram fogo contra navios da Marinha ucraniana no estreito de Kerch.
Até o momento, o Kremlin não se pronunciou oficialmente sobre a vitória de Zelensky. Segundo o porta-voz do governo russo, Dimitry Peskov, “é muito cedo para falar do presidente [Vladimir] Putin parabenizando o senhor Zelensky, ou sobre a possibilidade de trabalharem juntos”.
Maconha, aborto e ‘Las Vegas ucraniana’
Somente em entrevistas à imprensa, Zelensky tratou de pautas mais específicas, como legalização da maconha e liberação da prostituição. Em entrevista à agência de notícias RBC Ukraine em 18 de abril, o então candidato disse que seria “normal” legalizar o uso medicinal de maconha.
Já sobre a liberação da prostituição e jogos de azar, Zelensky afirmou que seria viável escolher uma cidade para que as duas práticas funcionassem juntas e dentro da lei. “Eu acredito que temos a oportunidade de montar uma 'Las Vegas' no país. A sociedade não irá se importar enquanto os impostos forem pagos. Porque não dar a oportunidade para uma certa cidade ou território e abrir tudo lá?”, disse.
O novo presidente ucraniano ainda se posicionou sobre a legalização do aborto, dizendo acreditar que “a pessoa escolhe o aborto” e que seria “impossível proibir”. Zelensky afirmou que as liberdades individuais deveriam ser menos reprimidas pelas autoridades do país e comparou a situação ucraniana com a de outros países europeus, como a Inglaterra.
Zelensky ainda disse ser contra a liberação do porte de armas e citou os conflitos que ocorrem no leste do país contra tropas separatistas simpáticas a Moscou. “Eu sou contra a legalização de armas. A legalização de armas na Ucrânia hoje, em um país onde a guerra está acontecendo, é errado”, disse.
Reprodução/Twitter
Ele era a estrela de uma série de comédia chamada “Servo do Povo”, na qual interpretava um professor que acaba virando presidente da Ucrânia