O caso foi movido pela agência anticorrupção do Paquistão, que acusou Khan e sua esposa de comprar e vender presentes ilegalmente.
O Tribunal Superior de Islamabad anunciou nesta segunda-feira (01/04) a suspensão da sentença imposta em janeiro passado contra o ex-premiê do Paquistão, Imran Khan. A decisão deve significar a libertação do político após sete meses de prisão – ele foi detido preventivamente em agosto passado, cinco meses antes de receber a condenação judicial.
Porém, a liberdade do ex-premiê pode durar apenas alguns dias, já que a mesma corte marcou para o dia 11 de abril a retomada do processo na Corte Suprema do país, que deverá tomar uma decisão definitiva sobre o caso.
Em janeiro deste ano, Khan e sua esposa, Bushra Bibi, foram condenados a 14 anos de prisão, acusados de vender ilegalmente presentes recebidos pelo Estado paquistanês, em esquema que teria movimentado cerca de US$ 504 mil. A suspensão da sentença decretada nesta segunda também beneficia Bibi.
Por sua parte, o ex-premiê nega que tenha cometido o delito e afirma que a sentença é parte de uma conspiração que tinha como intuito criar um ambiente favorável ao setor ultraconservador que venceu as eleições realizadas no país na primeira semana de fevereiro deste ano liderado pelo megaempresário Nawaz Sharif.
Polarização
A disputa política no Paquistão tem se mostrado polarizada nos últimos anos em torno dessas duas figuras. Sharif, que lidera o partido Liga Muçulmana, iniciará nas próximas semanas o seu quarto mandato como premiê do país – teve dois períodos como interino nos Anos 90 do século passado, e governou um mandato completo entre 2013 e 2018.
Eleito sucessor de Sharif, Khan levou ao poder, em 2018, o Movimento pela Justiça, um partido de centro-direita com forte apelo nacionalista e que defende um afastamento do país da linha de influência dos Estados Unidos.
As preferências geopolíticas também são um traço que marca as diferenças entre os dois líderes políticos paquistaneses: o discurso de Sharif é mais favorável a fortalecer as relações com os países do Ocidente, enquanto Khan prega uma aproximação de Islamabad com os países do Sul Global, especialmente China e Rússia.
Esse discurso de Khan, porém, não inclui uma postura mais favorável à união com o Brics, devido ao fato de que o bloco tem como um dos sócios fundadores a Índia, país com o qual o Paquistão alimenta conflitos desde a sua fundação – que foi resultado de uma divisão produzida após o processo de independência da Índia com relação ao Reino Unido, em 1947.
O mandato de Khan foi interrompido em abril de 2022, quando ele foi afastado devido às acusações de corrupção. Em novembro daquele ano, o ex-premiê sobreviveu a um atentado a tiros quando realizava um ato político na cidade de Wazirabad. Na ocasião, ele acusou “setores entreguistas financiados pelos Estados Unidos” como autores da ação, na qual ele recebeu dois tiros em uma de suas pernas.
As investigações sobre o caso jamais chegaram a determinar os autores do atentado.