Uma pesquisa coordenada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que a família Dallagnol era a principal latifundiária, na década de 1970, da região onde fica hoje a cidade de Nova Bandeirantes (MT). Em 1978, durante a ditadura militar, a propriedade foi regularizada. O levantamento foi revelado neste domingo (21/07) pelo site De Olho nos Ruralistas.
A proximidade com a ditadura era essencial, na época, para a obtenção de latifúndios nas regiões Norte e Centro-Oeste. O fato de os terrenos em Nova Bandeirantes terem sido regularizados pelo Instituto de Terras do Mato Grosso (Intermat) em 1978, aponta, de acordo com o De Olho nos Ruralistas, que eles eram públicos.
O território ocupado pela família era equivalente ao território de Cabo Verde, na África, ou dois terços do Distrito Federal, cerca de 400 mil hectares – metade do atual município de Nova Bandeirantes. As propriedades eram maiores que as de famílias envolvidas com a ocupação de terras devolutas, como o paranaense Cecílio do Rego Almeida, fundador da construtora CR Almeida, e os Junqueira Vilela, de São Paulo.
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O estudo foi coordenado por Bastiaan Philip Reydon, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, com as assinaturas dos pesquisadores Ana Paula Bueno, Roberto Resende Simiqueli e Vitor Bukvar Fernandes. De acordo com os especialistas, até os anos 1980, a União dava uma matrícula ao Intermat, que vendia as áreas para pessoas interessadas.
Divulgação
Município de Nova Bandeirantes, no Mato Grosso
“Em 1978, uma área de hectares foi arrecadada e legalizada pela família Dallagnon [sic] junto ao Intermat”, dizem. Eles informam que nos anos 80 as áreas começaram a ser demarcadas com base em pontos geodésicos. E que a colonização pela Coban foi iniciada em 1982. “A família Dallagnon também fez uma colonização com os hectares que foram adquiridos do Intermat”.
O sobrenome Dallagnol aparece no documento como “Dallagnon”, mas há outros erros de grafia ao longo do texto. Os Junqueira aparecem como “Junqueria”, por exemplo. O levantamento foi feito pelo Programa Matogrossense de Municípios Sustentáveis, em parceria com a Unicamp e o Instituto Centro de Vida (ICV).
Município de Nova Bandeirantes
Na época, os terrenos da família Dallagnol estavam no município de Alta Floresta. O processo de colonização foi tocado pela Colonizadora Bandeirantes (Coban), desmembrando a área da região de Alta Floresta e dando início à cidade de Nova Bandeirantes, em 1982.
A Coban surgiu por iniciativa de empresários paranaenses. “O dono da companhia, Daniel Meneghel, além de colonizador é diretor da Usina Bandeirantes, na cidade de Bandeirantes, norte do Paraná. Seguindo a vocação de desbravador de novas fronteiras, Daniel Meneghel implantou e desenvolveu na região o Projeto de Colonização Nova Bandeirantes. Ele investiu em estradas e pontes, além de outras providências necessárias à consolidação do projeto. A denominação Nova Bandeirantes foi homenagem à cidade de Bandeirantes-PR, especialmente pela origem do fundador do lugar – Daniel Meneghel”, diz o estudo.