O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou na noite desta segunda-feira (04/11), que a vitória dos peronistas na Argentina e os protestos contra o neoliberalismo no Chile e no Equador representam um momento de contrarretrocesso na América Latina após diversas forças progressistas serem derrotadas em vários países da região
Amorim, que foi chanceler durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deu uma aula aberta no evento “América Latina em Ebulição”, realizado no centro cultural e restaurante Al Janiah, em São Paulo. Ele ainda ressaltou a importância da participação popular nas transformações recentes contra os governos neoliberais.
“Em alguns países, eles ganharam eleições. Nos que não puderam voltar por meio do voto, ganharam de outra maneira, com o objetivo estratégico de manter os mercados abertos para o capital financeiro. Mas o neoliberalismo não contava com uma coisa chamada povo”, disse.
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O diplomata também destacou a relevância da vitória do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador nas últimas eleições.
Flickr/Instituto Lula
‘Neoliberalismo não contava com uma coisa chamada povo’, disse o ex-ministro das Relações Exteriores em aula aberta realizada em São Paulo
Entretanto, Amorim acredita que, apesar de as forças progressistas estarem se recuperando, os interesses norte-americanos não darão trégua no combate a essas mudanças.
“Não será fácil, sempre haverá reação. O império está sempre pronto para contra-atacar. E ele o faz sem dar um tiro, como fez aqui em 2016, porque conta com o quinta-colunismo, com os que vivem da dependência, a dependência é uma condição de existência para esses setores da elite”, afirmou.
Política ignóbil
O ex-ministro ainda comentou as relações internacionais do Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro e afirmou que a atual situação da chancelaria brasileira “não é normal”, pois a política externa implementada pelo governo do presidente de extrema direita é “ignóbil”.
Amorim disse que as anormalidades da política externa são encaradas como normais pela grande imprensa e que a postura da chancelaria ultrapassa as barreiras ideológicas, extrapolando os limites da racionalidade.
“O que existe hoje no Brasil, tanto no governo quanto na chancelaria, é a total anormalidade. Não é porque é de direita, eu já convivi com diversas pessoas de direita com quem tive debates racionais. Essa é má política ignóbil”, afirmou.
O diplomata ainda disse lembrou que “no Brasil, nunca houve quem atacasse a mulher do presidente francês, o pai da alta comissária para os direitos humanos da ONU [Michelle Bachelet], nunca houve quem dissesse que estava apaixonado pelo presidente dos Estados Unidos, que não iria à posse de um presidente da Argentina, isso é uma coisa muito grave, levaremos muito tempo para recuperar isso tudo”, disse.