O Palácio do Planalto divulgou no início da tarde nota negando que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tenha tomado conhecimento ou incentivado a invasão à embaixada da Venezuela, na manhã desta quarta-feira (13/11), em Brasília. “O presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da embaixada da Venezuela”, diz o comunicado, assinado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pasta comandada pelo ministro general Augusto Heleno. Pelas regras internacionais, cabe ao governo proteger todas as embaixadas estrangeiras em seu território.
A publicação foi modificada logo após sua primeira versão ter sido publicada. Antes, a nota falava em invasão “por partidários do autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó. Minutos depois, no entanto, a assessoria de imprensa da Presidência divulgou nova versão do texto, em que foi retirado o nome do líder que faz oposição ao presidente Nicolás Maduro.
O comunicado afirma ainda que “indivíduos inescrupulosos e levianos querem tirar proveito dos acontecimentos para gerar desordem e instabilidade”.
A declaração de repúdio do governo brasileiro ao ato contradisse a intervenção de um funcionário do Itamaraty, identificado como Maurício Correia, chefe da Coordenação-Geral de Privilégios e Imunidades do Ministério das Relações Exteriores, que segundo relatos, mostrou-se favorável aos invasores e nada fez para retirá-los. “Um representante do Itamaraty veio até aqui, mas disse que não tomaria nenhuma providência em relação aos invasores, pois o governo do Brasil não reconhece [Nicolás] Maduro como presidente da Venezuela”, denunciou o deputado federal Paulo Pimenta, que conseguiu entrar na embaixada no início da manhã.
Comitê Mídia Lula Livre
Do lado de fora da Embaixada da Venezuela, manifestantes em solidariedade a Caracas aguardam fim da invasão
Pouco depois da divulgação da nota do GSI, Bolsonaro usou o seu perfil no Facebook para demonstrar que a invasão da embaixada “por pessoas estranhas à mesma” causou constrangimento ao governo brasileiro, no dia em que Brasília abre a Convenção de Cúpula dos Brics, com presença da China e da Rússia, aliadas do governo Maduro. “Já tomamos as medidas necessárias para resguardar a ordem, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”, escreveu o presidente.
Pânico e indignação
Ainda pela manhã desta quarta-feira, o deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), havia tuitado em favor da invasão, dizendo que “Nunca entendia essa situação. Se o Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela por que a embaixadora Maria Teresa Belandria, indicada por ele, não estava fisicamente na embaixada? Ao que parece agora está sendo feito o certo, o justo”. Veículos de imprensa chegaram a publicar que o parlamentar iria à embaixada para dar apoio aos partidários do golpista Guaidó.
A declaração, segundo o jornalista Jamil Chade, do UOL, causou “pânico e indignação numa ampla parcela do Itamaraty”, já que o Brasil mantém uma embaixada e um consulado em Caracas e uma declaração de apoio do governo brasileiro ao ato em Brasília poderia comprometer a segurança dos diplomatas e funcionários brasileiros na Venezuela.
De acordo com denúncia do senador Telmário Mota (PROS-RR), que é presidente da subcomissão de Relações Exteriores do Senado do Parlamento que trata da crise venezuelana, durante a manhã, o Itamaraty, representando por Mauricio Correia, chegou a controlar quem entrava e quem sai da Embaixada da Venezuela.
“Eu fui chamado por membros da Embaixada para dialogar, buscar um entendimento. Ao chegar lá, eu fui impedido de entrar pelo ministério das Relações Exteriores. Como assim? Desde quando o ministério das Relações Exteriores vai controlar quem entra e quem sai de uma Embaixada que é território de um outro país?” Para o senador, a atitude demonstrava que a invasão foi orquestrada pelo governo brasileiro.