O jornal Libération desta terça-feira (14/01) destaca a ameaça de demissão coletiva dos chefes de serviços hospitalares na França para pressionar o governo a salvar os hospitais públicos do país. A decisão é inédita, anuncia o jornal em sua manchete de capa.
“A reforma do sistema hospitalar público francês, considerado um dos melhores do mundo, é urgente”, aponta a matéria. Mais de 1.200 médicos, chefes de serviços hospitalares, anunciaram a decisão em uma carta enviada nesta terça-feira à ministra da Saúde, Agnès Buzyn. Eles denunciam a falta de verbas, de pessoal, estabelecimentos deteriorados e exigem a abertura imediata de negociações. “A rebelião”, como escreve Libération, é uma iniciativa do coletivo inter-hospitalar, que não reivindica nenhuma tendência política ou sindical.
“Queremos alertá-la solenemente que tomaremos, com responsabilidade, esta decisão histórica e forte a partir de 14 de janeiro, se o governo não iniciar negociações”, escrevem os médicos na carta reproduzida pelo diário. “A degradação das condições de trabalho dos profissionais hospitalares é tamanha que ela ameaça a qualidade dos tratamentos e coloca em risco a segurança dos pacientes”, continua o texto.
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Os chefes se afastam somente das funções de direção e administrativas. Eles vão continuar exercendo como médicos nos hospitais onde trabalham e garantem que o tratamento dos doentes será mantido. “Mas além do símbolo forte, a vida hospitalar será afetada com a decisão”, acredita o jornal.
Apoio de funcionários e enfermeiros
O protesto afeta todos os serviços, todas as regiões e todos os hospitais do país. Em Marselha, por exemplo, terceira maior cidade francesa, no sul do país, 50 diretores assinaram a carta de demissão. O movimento tem apoio de outros profissionais. Um abaixo-assinado de enfermeiros e funcionários hospitalares em defesa dos chefes de serviço já recebeu quase cinco mil assinaturas.
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Esta dupla iniciativa marca uma guinada na crise crônica que afeta o sistema hospitalar francês, avalia Libération. Quatro planos ministeriais sucessivos e anúncios de verbas suplementares não conseguiram dissipar a desconfiança dos profissionais do setor. “O mais grave dessa crise talvez seja essa desconexão entre médicos e governo”, diz o diário.
A ministra da Saúde, apesar de ser reconhecida como uma médica brilhante, tardou a se dar conta da gravidade do problema. Ela não teve um discurso político adaptado, considera o jornal. Na administração Macron, que tem a ambição central de baixar os impostos e consequentemente as despesas, o “serviço público faz figura de primo pobre”, denuncia o editorial do diário progressista.
Aumento do custo de atos hospitalares
Na segunda-feira (13/01), Agnès Buzyn pediu tempo e prometeu, em entrevista a imprensa, que o custo dos atos médicos nos hospitais, repassado aos estabelecimentos pelo governo, terão seu preço valorizado em 0,5%. Neste mês, como parte das medidas de urgência que ela havia anunciado em novembro de 2019, € 150 milhões serão liberados para a compra de material e cerca de cem mil enfermeiras e auxiliares de enfermagem devem começar a receber os bônus prometidos, informa o texto.
Os demissionários, no entanto, aguardam a resposta da carta que enviaram à ministra e anunciam um novo dia de mobilização nacional antes do fim de janeiro. Eles pedem um aumento salarial significativo, além das gratificações já concedidas, e € 600 milhões para financiar os hospitais, além dos € 200 milhões já prometidos pela ministra.
Para que o sistema hospitalar francês continue sendo um dos melhores do mundo, é necessário um empenho financeiro substancial, como pedem os médicos, respalda o editorial.