A cantora norte-americana de origem grega, Maria Callas, faleceu em Paris em 16 de setembro de 1977. Prima Donna incontestável dos palcos de ópera e dotada de uma expressividade dramática marcante Callas começou a se retirar de cena em 1958. Seus admiradores a aplaudiram entusiasticamente em sua derradeira aparição na Tosca em 1965, 12 anos antes de sua morte.
Nascida em Nova York em 1923, Cecília Sofia Anna Maria Kalogeropoulos, filha de imigrantes gregos, demonstrou o talento para o canto desde nova. Aos 13 anos, viajou para Atenas para estudar sob orientação da notável soprano Elvira de Hidalgo. O primeiro grande papel foi em 1947, quando surgiu no papel de La Gioconda em Verona, Itália. Aclamada pela poderosa voz de soprano, não demorou para se apresentar nos mais diversos palcos do mundo, inclusive no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O talento permitiu que as belas obras do bel-canto do século 19 ressurgissem como a Norma de Bellini e outras que não haviam sido levadas à cena fazia décadas. Em 1954, a “Divina Callas” fez sua estreia em palcos de seu país natal em Chicago, no papel de Norma, uma performance que ela repetiu diante de uma platéia recorde no Metropolitan Opera House de Nova York.
A tempestuosa vida pessoal de Callas era acompanhada e exagerada pela imprensa sensacionalista. A diva se divorciou de Giovanni Meneghini para se casar com o magnata armador grego Aristóteles Onassis, após ele presentá-la com itens luxuosos. Callas mergulhou em uma relação atormentada, submetida a humilhações e tendo o desprezo de Christina, filha de Onassis. Ele a abandonou quando se apaixonou pela viúva Jaqueline Kennedy.
Contudo, Callas era uma artista fulgurante. Nada em sua biografia se compara ao poder de fascínio de sua voz. A gravação da mais famosa apresentação de Norma, de Vincenzo Bellini (1801-1835), com a orquestra do Scala e regida pelo maestro Tullio Serafin, é um ícone da história da ópera pela emoção e dramaticidade. Norma foi o papel que Callas mais representou: 92 vezes. A ópera toda – mas principalmente a ária Casta Diva – consolidou sua reputação.
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Cantora norte-americana de origem grega, Maria Callas, faleceu em Paris em 16 de setembro de 1977
Quebra de padrões
Inspirada pela condução de Serafin, Maria subverteu as regras até então aceitas no canto lírico e ousou desconstruir a exagerada especialização. Os sopranos, em sua época, estavam subdivididos em dramático, mezzo, coloratura, liggero e spinto. Contrariando tudo em que se acreditava, cantou na mesma semana Tristão e Isolda, de Richard Wagner, Turandot, de Giaccomo Puccini, e voltou a Wagner no papel de Brunnhilde.
Décadas depois, em uma das famosas master classes que Callas deu na Juilliard School of Music em Nova York, em 1971-72, ela sentenciou: “Hoje só se fala em baixo profundo, baixo cantante, barítono-baixo ou soprano ligeiro, soprano spinto, soprano disso, soprano daquilo. A cantora é soprano, e basta! Um instrumentista faz os baixos e agudos. Do mesmo modo, um cantor deve cantar em todas as tessituras”.
A interpretação de Tosca, de Giacomo Puccini (1858-1924), também entrou para a história, principalmente na apresentação que fez no Scala sob a regência de Victor de Sabata. Floria Tosca foi representada 39 vezes por Callas, mas nada se compara com a majestosa apresentação de 1953, em que Maria contracena com dois outros cantores respeitáveis: o tenor Di Stefano e o baixo Tito Gobbi.
Maria morreu sozinha, em seu apartamento de Paris, em 16 de setembro de 1977, vítima de um infarto. Enquanto o enterro percorria a rua Georges Bizet, centenas de parisienses, em lágrimas, saudaram a passagem do esquife com a saudação que emocionava Maria na saída dos teatros: “Bravo Callas!, Bravo Maria!”. Na primavera de 1979, suas cinzas foram lançadas no Mar Egeu.
Outros fatos marcantes da data:
1982 – Acontece o massacre de Sabra e Chatila no Líbano
1932 – Mahatma Gandhi inicia greve de fome em protesto contra a separação por castas
1782 – o célebre cantor “castrato” tenorino Farinelli morre em Bolonha após longa e gloriosa carreira.