Atualizada às 18h38
A Corte Suprema da Colômbia ordenou nesta terça-feira (04/08) a prisão domiciliar do ex-presidente e atual senador Álvaro Uribe (2002-2010) por supostamente tentar manipular testemunhas. É a primeira vez na história que um ex-presidente do país sofre uma medida restritiva como essa.
A história que resultou no pedido de prisão do ex-presidente começou em 2012, quando o senador Iván Cepeda colheu depoimento de paramilitares do departamento de Antioquia, onde Uribe começou a carreira política, que acusavam o ex-mandatário de promover as atividades do grupo. Na época, Uribe acusou Cepeda de estar fabricando testemunhos contra ele, e de ter pago os paramilitares para que fizessem as acusações.
No entanto, o juiz responsável pelo caso não só arquivou a denúncia contra Cepeda como abriu uma investigação contra o direitista, que passou a responder por tentar mudar os depoimentos dos paramilitares e por manipular os mesmos para que dissessem que Cepeda estava fabricando as acusações.
A informação da ordem de prisão foi dada pela rádio La W, mas, até o momento, a Corte Suprema não se pronunciou. Minutos depois, Uribe confirmou a decretação e disse que recebia a notícia com “profunda tristeza”.
Casa de América/FlickrCC
Uribe foi condenado à prisão domiciliar por tentativa de manipulação de testemunhas
“A privação da minha liberdade me causa profunda tristeza por minha esposa, por minha família e pelos colombianos que, todavia, creem que fiz algo bom pela pátria”, afirmou, pelo Twitter.
La privación de mi libertad me causa profunda tristeza por mi señora, por mi familia y por los colombianos que todavía creen que algo bueno he hecho por la Patria
— Álvaro Uribe Vélez (@AlvaroUribeVel) August 4, 2020
Repercussão
A notícia causou um terremoto político imediato no país, e políticos pediram o cumprimento da medida judicial.
No fim da tarde, o presidente do país, Iván Duque, de quem Uribe é padrinho político, se pronunciou por meio de um vídeo e saiu em defesa do ex-mandatário.
“Ao longo da minha vida, tive a honra de conhecer, tratar, trabalhar e construir uma amizade com Álvaro Uribe Vélez. Sempre o considerei e considerarei um patriota genuíno, dedicado a servir à Colômbia. […] Como presidente, faço um chamado à reflexão: entendo o papel das instituições e a independência de poderes. Como cidadão e crente das instituições, espero que as vias judiciais operem, e que existam plenas garantias para que um ser humano íntegro exerça em plenitude sua defesa em liberdade”, afirmou Duque. “Sou e sempre serei crente da inocência e honradez de quem, com seu exemplo, ganhou um lugar na história da Colômbia.”
O opositor Gustavo Petró, que foi candidato a presidente em 2018, disse que, “qualquer que seja o desenvolvimento deste processo, a Colômbia deve respeitar sua justiça”.
Por sua vez, a prefeita de Bogotá, Clara López, que também se opõe a Uribe, disse que “ninguém está acima da lei”. “As decisões da Justiça se respeitam, se controvertem no direito e se acatam”, afirmou.
Prisão do irmão
Em fevereiro de 2016, o irmão de Uribe, Santiago, foi preso em Medellín acusado de ter participado de atividades do grupo paramilitar Os 12 Apóstolos. Segundo o promotor do caso, Santiago Uribe teve papel importante na formação e crescimento do grupo, na década de 1990. Os paramilitares são responsabilizados por dezenas de mortes em Antioquia, no noroeste do país.
Segundo fontes consultadas pelo jornal El Tiempo, à época, a equipe de segurança de Santiago, formada por três policiais, tentou resistir à prisão.