O jornalista Glenn Greenwald, editor fundador do site The Intercept, anunciou nesta quinta-feira (29/10) que irá deixar o veículo após ser impedido de publicar um artigo. Segundo ele, os editores exigiram a remoção de qualquer crítica a Joe Biden, candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos.
“As mesmas tendências de repressão, censura e homogeneidade ideológica que geralmente assolam a imprensa nacional engolfaram o meio de comunicação que eu co-fundei, culminando na censura de meus próprios artigos”, denuncia o jornalista em artigo publicado na plataforma Substack.
“A causa final e precipitante é que os editores do Intercept censuraram um artigo que escrevi esta semana, recusando-se a publicá-lo a menos que eu remova todas as partes críticas a Joe Biden, o candidato veementemente apoiado por todos os editores do Intercept envolvidos neste esforço de supressão”, detalhou.
Segundo o jornalista, ele seguirá publicando no Substack momentaneamente e destacou que não foi uma escolha fácil. “Eu não conseguia dormir à noite sabendo que permitia que qualquer instituição censurasse o que eu quero dizer e acreditar – muito menos um meio de comunicação que eu co-fundei com o objetivo explícito de garantir que isso nunca aconteça a outros jornalistas, muito menos a mim, muito menos porque escrevi um artigo crítico de um poderoso político democrata veementemente apoiado pelos editores na eleição nacional”, justificou.
Greenwald ganhou destaque no Brasil em 2019 após a revelação da série de reportagens da Vaza Jato, que mostravam conversas entre procuradores do Ministério Público Federal de Curitiba e o ex-juiz federal Sérgio Moro sobre investigações da Operação Lava Jato. Os diálogos foram publicados no The Intercept Brasil e em veículos como Folha de S. Paulo, El País Brasil e Agência Pública. Antes disso, Glenn ficou conhecido por ter feito a cobertura dos vazamentos de Edward Snowden sobre a NSA. Essas revelações incluíam um grampo da agência estadunidense contra a ex-presidente Dilma Rousseff.
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‘Editores censuraram um artigo que escrevi recusando-se a publicá-lo a menos que eu remova partes críticas a Joe Biden, denunciou jornalista
O jornalista recebeu o apoio de colegas da mídia independente. “Muito respeito pelo seu gesto baseado em princípios, Glenn. Tem sido uma tragédia ver o Intercept abandonar cada vez mais o jornalismo de confronto e adotar a ortodoxia Democrata, especialmente em sua cobertura internacional de bichos-papões nomeados por Washington. Estou ansioso para ver seu trabalho futuro”, escreveu Ben Norton, editor do Grayzone, no Twitter. Alguns usuários chegaram a lançar uma campanha pedindo Glenn no veículo: “Glennzone”.
O deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), esposo de Glenn, também comentou sobre o caso no Twitter. “O homem mais íntegro que não vende suas ideias e valores por nada nesse mundo. Minha inspiração em todos os momentos. Se demitiu do The Intercept por causa de censura. Sigo firme apoiando e amando sua integridade. LEIAM!”, disse.
O The Intercept ainda não se pronunciou sobre as alegações do jornalista.