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Política e Economia

Protestos contra posse de Merino no Peru se estendem pela madrugada e deixam feridos

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Novo presidente, de centro-direita, chefiou o Parlamento no processo de impeachment que destituiu o agora ex-mandatário Martín Vizcarra do poder

Redação

RFI RFI

Paris (França)
2020-11-11T12:42:00.000Z

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O presidente do Congresso peruano, Manuel Arturo Merino, assumiu a Presidência do Peru nesta terça-feira (10/11), em um dia marcado por protestos que se estenderam pela madrugada, deixaram muitos feridos e cerca de 30 detidos. As reações também foram percebidas no mercado, com uma queda de mais de 6% na Bolsa de Lima por temor de que o novo governo aplique medidas econômicas populistas.

Merino, de centro-direita, chefiou o Parlamento no processo de impeachment que destituiu o presidente Martín Vizcarra do poder. O engenheiro agrônomo de formação, quase desconhecido dos peruanos, tornou-se o terceiro presidente do país desde 2016, reflexo da fragilidade institucional que tem caracterizado o Peru desde sua independência, em 1821.

Em Lima, os protestos ocorreram na região central da capital e foram reprimidos por cerca de 600 policiais, que lançaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, informou o general José Luis Cayas. Muitas pessoas ficaram feridas pelos disparados da polícia, de acordo com o portal de notícias IDL Reporteros.

Depois de empossado, Merino, de 59 anos, prometeu "respeitar o processo eleitoral em curso" e garantiu que "ninguém pode alterar a data das eleições convocadas para 11 de abril de 2021". Além disso, negou ter "comprado" votos para destituir Vizcarra e prometeu deixar o cargo em 28 de julho de 2021, dia em que termina o mandato do atual governo.

Mas os mercados reagiram com apreensão à chegada de Merino ao poder, por receio de que ele adote medidas populistas, como algumas promovidas pelo Congresso nos últimos meses, e acabe com a política de manutenção do equilíbrio macroeconômico. Nesta terça-feira, a Bolsa de Lima caiu 6,5%.

“Este Congresso vem adotando leis fortemente prejudiciais do ponto de vista econômico”, declarou o ex-ministro da Economia e Finanças, Alonso Segura. Ainda nesta terça-feira, a moeda peruana apresentou desvalorização de cerca de 1% frente ao dólar, em relação ao fechamento do dia anterior. Os títulos do governo indexados em dólar também caíram.

Apelo da Comissão dos Direitos Humanos

Enquanto isso, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) insistiu que o Peru "resolva sua atual crise política, observando os padrões interamericanos de separação de poderes e respeito ao Estado de Direito, e realizando eleições gerais na data programada (abril de 2021)".

Wikimedia Commons
Impeachment de Vizcarra levou manifestantes às ruas no Peru

Merino, legislador da região norte de Tumbes, na fronteira com o Equador, sempre integrou o Ação Popular (centro-direita), partido fundado pelo ex-presidente Fernando Belaúnde, que governou em duas ocasiões (1963-1968 e 1980-1985). A sede do Ação Popular na cidade andina de Cusco foi apedrejada nesta terça-feira por manifestantes. Líderes partidários parecem divididos sobre a conveniência da remoção de Vizcarra do poder em meio à pandemia e à recessão econômica.

Vizcarra, também de centro-direita, mas sem partido ou bancada legislativa, desconsiderou resistir à destituição por meio de recursos judiciais e deixou o palácio do governo, voltando para sua residência privada, na noite de segunda-feira (09/11).

O Congresso o afastou da presidência por "incapacidade moral", ao fim de um segundo julgamento político contra ele em menos de dois meses, após alegações de que ele teria recebido propina quando era governador da região sul de Moquegua, em 2014, acusações que ele nega.

“Legalidade e legitimidade”

Vizcarra questionou nesta terça-feira a "legalidade e legitimidade" do seu sucessor e disse que vai retomar suas atividades como engenheiro e empresário da construção. “Estou preocupado, como muitos peruanos, porque uma autoridade, para exercer sua autoridade, precisa de dois princípios e condições básicos: legalidade e legitimidade", afirmou Vizcarra.

"Estou saindo com a consciência limpa e com o dever cumprido", acrescentou o ex-presidente, que atingiu níveis recordes de popularidade em seus 32 meses de mandato. O impeachment foi aprovado por 105 votos a favor, 19 contra e quatro abstenções, ultrapassando em muito os 87 votos exigidos.

A destituição de Vizcarra foi uma espécie de repetição – mas com um desfecho diferente – de outro processo que ele havia vencido em 18 de setembro. Vizcarra teve um destino semelhante ao do seu antecessor, Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que também não conseguiu cumprir seu mandato por ter sido forçado a renunciar por pressão do Parlamento.

País enfraquecido

"O Peru sai institucionalmente mais fraco. Merino será um presidente fraco, esse é o cenário em um contexto de eleições gerais [em abril de 2021] com uma pandemia", avaliou o analista político Augusto Álvarez Rodrich à AFP.

“Este é um fato político que abre portas para uma situação de incerteza”, comentou o analista Fernando Tuesta à emissora pública TV Peru. "É uma situação claramente preocupante, para dizer o mínimo", acrescentou.

O arcebispo de Lima, Carlos Castillo, afirmou que faltou "senso de proporção" ao Congresso ao destituir Vizcarra, o que seria "algo muito sério".

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20 Minutos

Breno Altman: esquerda deve deixar o 7 de setembro nas mãos dos bolsonaristas?

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Jornalista alerta para risco de fortalecimento da extrema direita às vésperas das eleições, se puder ocupar as ruas e controlar o Bicentenário da Independência; veja vídeo na íntegra

Pedro Alexandre Sanches

São Paulo (Brasil)
2022-08-09T20:24:00.000Z

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A esquerda se arrisca a alimentar o confronto desejado por Jair Bolsonaro se for às ruas no dia 7 de setembro. No contraponto, deixar o caminho livre para os manifestantes bolsonaristas pode trazer consequências eleitorais perigosas e imprevisíveis. 

Assim o jornalista Breno Altman avalia, no programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (09/08), o dilema das forças progressistas diante da frenética mobilização bolsonarista para ocupar as principais cidades do Brasil nas celebrações do bicentenário da Independência. 

“O recuo e a intimidação não costumam ser boas saídas. A intimidação desorganiza, referenda o medo que o fascismo quer provocar e pode levar a um avanço político vitaminado do fascismo, que passa a ser assim capaz controlar as ruas e pode afetar as urnas”, afirmou o fundador de Opera Mundi.

São riscos embutidos nas várias alternativas de que o campo democrático dispõe para fazer frente a um momento decisivo para a extrema direita brasileira. A possibilidade de Bolsonaro colocar dezenas ou centenas de milhares nas ruas, sem um contraponto de esquerda, deve afetar de modos distintos os militantes bolsonaristas e os antifascistas. Por outro lado, é imprevisível o efeito desmoralizante que a hipótese de mobilizar menos gente que o bolsonarismo teria sobre a esquerda.

Uma alternativa para evitar o confronto seria a convocação de uma forte mobilização progressista para o dia 10 de setembro (sábado), por exemplo, e não para o dia 7 (quarta-feira). Isso embutiria o duplo risco de um desgaste por ter deixado as ruas livres para o bolsonarismo e da chance de o dia 10 ter menor participação popular, até por conta do recuo no dia 7. 

“O campo democrático popular teria realmente forças para uma mobilização superior à do bolsonarismo? Seria razoável chegar a uma conclusão derrotista sem colocar todo empenho para impedir que a extrema direita domine o Bicentenário? Esse derrotismo não poderia ser um problema eleitoral ou pós-eleitoral?”, questiona Altman.

Outra alternativa passaria pelo Grito dos Excluídos, ato tradicionalmente articulado no dia 7 de setembro pelos movimentos populares. "Não seria o caso dos partidos de esquerda, sindicatos e movimentos populares fazerem uma convocação ampliada desse evento, jogando todas as suas energias?”, cogita. 

Altman menciona uma solução de meio termo, nem de confronto aberto, nem totalmente apaziguadora: “Não seria o caso de ser organizado no próprio dia 7 de setembro um ato em Ouro Preto (MG), com a presença de Lula, para homenagear os Inconfidentes e Tiradentes e lançar um manifesto histórico por uma nova Independência, disputando espaço na mídia e nas redes contra o bolsonarismo?”. 

Nessa hipótese, o dia 10 de setembro se caracterizaria como uma grande concentração eleitoral dentro do calendário de campanha, sem ter deixado um vácuo que venha a ser inteiramente ocupado pela extrema direita no dia 7 de setembro.

Wikimedia Commons
O recuo e a intimidação não costumam ser boas saídas para a esquerda, defende Breno Altman sobre ato do 7 de setembro

Em busca de referências históricas, Altman contrasta o momento que se aproxima com dois fatos passados, a começar pela ascensão fascista na Itália do pós-Primeira Guerra Mundial. Num primeiro momento, os grupos liderados por Benito Mussolini eram marginais, mas se exibiam dispostos a romper os limites da democracia liberal, ao contrário dos socialistas, cujo discurso revolucionário estava contido dentro desses limites. 

A burguesia italiana entendeu que a violência poderia lhe ser útil e passou a financiá-la para intimidar rebeliões de trabalhadores impulsionadas pela Revolução Russa de 1917. Mussolini e seus partidários se lançaram nesse cenário numa escalada violenta cada vez mais acelerada, enquanto os socialistas, eleitoralmente majoritários na Itália, não eram capazes ou não tinham vontade política para enfrentar a violência fascista.

“O que se viu em seguida foi uma intimidação sem fim, com os socialistas sendo abatidos pelos fascistas e fugindo, entregando suas próprias organizações para os seguidores de Mussolini, enquanto os liberais cruzavam os braços, satisfeitos com a possibilidade de o fascismo derrotar qualquer período revolucionário”, documenta o jornalista.

O segundo fato se deu em 7 de outubro de 1934, em São Paulo, quando partidos de esquerda viveram dilema semelhante, embora fora do período eleitoral. Os integralistas de Plínio Salgado, fascistas da época, convocaram uma grande manifestação na praça da Sé, apoiados por parte da Igreja Católica e das Forças Armadas. Seu slogan, similar ao do bolsonarismo atual, era “Deus, pátria e família”.

A maioria da esquerda daquele momento optou pelo confronto, formando uma frente única entre comunistas, trotskistas, anarquistas  e outros grupos para impedir a manifestação dos fascistas, num episódio que ficou conhecido como batalha da praça da Sé ou revoada dos galinhas verdes (em referência à cor dos uniformes integralistas). A militância antifascista colocou para correr os seguidores de Plínio Salgado, e o integralismo, intimidado, nunca mais tentou uma mobilização daquele porte.

De volta a 2022, o jornalista fala sobre a aposta da esquerda (e da sociedade brasileira de modo geral) na solução pela via institucional e eleitoral. “O problema é que o bolsonarismo está rompendo e possivelmente tenha forças para romper essa cultura. Vão testar isso no dia 7. Não nos iludamos, eles possuem condições de uma forte mobilização”, pondera. “A esquerda deve jogar parada, esperando apenas pelas urnas? Não ter uma cultura de disputar as ruas com o bolsonarismo, limitando a disputa às urnas, não pode acabar virando um tiro no pé?”, indaga.

“Tenho para mim que recuar da mobilização do dia 7 é uma má saída”, responde Altman à pergunta de um espectador que compara a desmobilização social durante os anos petistas com a desmobilização para o 7 de setembro de 2022. "Muitas vezes a saída mais inteligente é o confronto, e não a omissão”, afirma, voltando ao exemplo da revoada dos galinhas verdes em 1934. 

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