O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse, em entrevista exclusiva a Opera Mundi exibida nesta segunda-feira (01/02), que o Brasil de Jair Bolsonaro é o novo centro do trumpismo no mundo, após a saída de Donald Trump da Casa Branca. Maduro conversou com o jornalista Breno Altman em uma edição especial do programa 20 Minutos.
Assista à entrevista exclusiva com Maduro (em espanhol, com legendas em português):
“Trump agora se foi. Agora o centro do trumpismo no mundo é o Brasil, é Jair Bolsonaro. Eu o vejo [Bolsonaro] e o escuto todos os dias. Ele está pior, mais agressivo, contra a imprensa, contra o povo, mais ameaçador, mas irascível, negacionista”, afirmou o mandatário venezuelano.
“Eu lamento pelo povo do Brasil, queria que o destino fosse outro, mas tenho fé que o povo do Brasil retomará seu caminho e que Bolsonaro ficará como Trump, esquecido pela história. Sozinho e esquecido”, disse.
O presidente ainda falou sobre o envio de oxigênio da Venezuela ao estado brasileiro do Amazonas para combater a covid-19. Para ele, é “uma obrigação ajudar”. “É preciso pôr essas coisas ideológicas de lado, essa luta ideológica entre o Trump do Brasil, Jair Bolsonaro, e nós, a esquerda. No momento, temos que colocar o ser humano no centro, salvar a vida do ser humano”, afirmou.
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“Estamos fazendo acordos para fornecer oxigênio permanentemente a Manaus. Um gesto de amor. A resposta que Bolsonaro deu foi uma resposta mesquinha, de ódio. A única coisa que deveria ter dito era ‘obrigado, muito obrigado’ [neste momento, Maduro fala em português], e pronto”, disse.
Relações com EUA
Maduro fez um balanço das relações entre o governo do ex-presidente Donald Trump e a Venezuela. Segundo ele, o país latino-americano foi vítima da “perseguição financeira mais brutal que já se conheceu em mais de 100 anos”.
“Congelaram e nos roubaram todas as contas bancárias no mundo, nos roubaram mais de 40 bilhões de dólares, cancelaram contas bancárias do Estado venezuelano. A indústria petroleira não tem contas bancárias no mundo, inclusive cortaram contas de alguns setores empresariais privados”, afirmou.
Reprodução
Maduro concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Breno Altman, no programa 20 Minutos Especial
“Era efetivamente uma política, como dizia Donald Trump, [o ex-secretário de Estado] Mike Pompeo, o secretário do Tesouro [Steven Mnuchin], [o então representante especial para a Venezuela] Elliot Abrams, uma política para asfixiar e render a Venezuela. Eles nos fizeram um grande dano, mas jamais nos derrotaram, e não nos derrotarão”, afirmou.
Ao mesmo tempo, Maduro disse não se assustar com o que chamou de “gritos da Casa Branca”.
“Na Venezuela, existe um poderoso poder popular, uma vida democrática com liberdade. Eu posso dizer que não sou um presidente bobo, que se possa chantagear, que se possa ameaçar, que se assusta com quatro gritos que saiam da Casa Branca. Não me assusto, não nos assustamos. Não somos nem um presidente, nem um povo bobo”, disse.
‘Ditador’, golpismo e nova onda progressista
Maduro também falou sobre o setor da oposição venezuelana que esteve envolvido em tentativas de golpes de Estado e que apoia o ex-deputado Juan Guaidó. Para o presidente, esses setores o classificam como um “ditador” para justificar atos de sedição contra o Estado.
“Há vários anos me chamam de ditador, chamaram Chávez de ditador também, é uma forma de justificar as políticas golpistas extremistas deles. Esse rótulo que querem me dar de ditador é porque não conseguiram nos derrubar. Não nos deixamos tomar, não nos deixamos colonizar. A direita, a centro-direita e alguns setores progressistas e de esquerda que há no mundo tentam nos rotular”, afirmou.
O presidente disse que a extrema-direita é “incoerente, não terá futuro nem na Venezuela, nem no mundo” e afirmou que, com a vitória eleitoral de Luis Arce, na Bolívia, e de Alberto Fernández, na Argentina, “começa uma nova onda de governo progressistas, valentes, patriotas, de esquerda e revolucionários na América Latina”.
“A direita se moveu, deu golpes de Estado, fez campanha suja, mas agora temos o ressurgir dos povos, passo a passo. Cada lugar tem suas características, nenhum país é igual ao outro, nenhum líder é igual ao outro, nenhum programa é igual ao outro. Mas, em todo o caso, o que nos une é a luta contra o neoliberalismo, pela democracia avançada e direta, a luta pelos direitos do povo, pela igualdade, pela distribuição da riqueza, pela união da América do Sul, da América Latina e do Caribe, por um mundo sem hegemonias e multipolar”, disse.
Pandemia de covid-19
O mandatário venezuelano destacou o combate à pandemia na Venezuela, lembrou o baixo número de mortes (segundo dados da Universidade Johns Hopkins, o país tem cerca de 1.200 óbitos) e elogiou o sistema de quarentena adotado pelo governo, chamado “7+7”, no qual há quarentena de sete dias e flexibilização de outros sete.
Para Maduro, é importante que um presidente aja com responsabilidade durante a emergência sanitária, dando bons exemplos e transmitindo confiança à população.
“A liderança é muito importante, porque quando as famílias de um país enfrentam uma situação como essa, a primeira coisa que buscam é o líder, e, se um líder as orienta corretamente, as pessoas confiam, se sentem motivadas”, afirmou. “Se uma liderança atua de forma irresponsável, subestimando a pandemia, dizendo que é apenas uma gripe, dizendo que é mentira, as consequências são trágicas, como foram nos EUA.”
O presidente ainda falou sobre as medidas de prevenção adotadas pela Venezuela e destacou o “bom funcionamento do sistema de saúde público e gratuito”.
“Se uma pessoa se sente mal, nos liga e enviamos as brigadas médicas. Todos os casos que detectamos na Venezuela, sejam assintomáticos, sintomáticos leves ou moderados, todos os casos são hospitalizados em lugares seguros de acordo com o nível da gravidade. E a todos os casos se dá tratamento gratuito, todos os remédios que são necessários. Fizemos o protocolo de tratamento junto com a OMS, e com uma grande colaboração científica com Rússia, China, Cuba e Vietnã”, afirmou.