Após o fracasso das negociações para reconduzir Giuseppe Conte ao cargo de premiê, o presidente da Itália, Sergio Mattarella, encarregou o ex-mandatário do Banco Central Europeu (BCE) Mario Draghi de formar um novo governo.
Em reunião no Palácio do Quirinale, sede da Presidência da República, na manhã desta quarta-feira (03/02), o economista e professor de 73 anos aceitou o encargo com reservas e agora tentará reunir apoio suficiente no Parlamento.
“O presidente da República recebeu o professor Mario Draghi, ao qual conferiu o encargo de formar um governo. O professor Draghi aceitou com reservas”, diz um comunicado do Quirinale.
Até o momento, apenas duas legendas indicaram explicitamente que vão dar seu voto de confiança a Draghi: Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e Itália Viva (IV), sigla de centro que abriu a crise política ao romper com o governo Conte.
“Agora é o momento dos construtores, agora todas as pessoas de boa vontade devem acolher o apelo do presidente Mattarella e apoiar o governo de Mario Draghi. Agora é a hora da sobriedade”, escreveu o ex-premiê Matteo Renzi, líder do IV, no Twitter.
O partido conservador Força Itália (FI), do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, também indicou que está disposto a apoiar o ex-presidente do BCE, mas ainda assim seria insuficiente para formar uma maioria no Parlamento.
Para ter um mínimo de governabilidade, Draghi precisará dos votos do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), dono da maior bancada parlamentar, ou da Liga, de extrema direita.
“O Movimento 5 Estrelas, já durante as consultas, havia dito que só aceitaria um governo político, portanto não votará pelo nascimento de um governo técnico presidido por Mario Draghi”, disse o líder do M5S, Vito Crimi, no Facebook.
Já o secretário da Liga, senador Matteo Salvini, afirmou não ter “preconceitos” contra o ex-chefe do BCE, mas que é preciso “falar de corte de impostos e abertura de canteiros de obras com a perspectiva de eleições”.
Quirinale
Mario Draghi (entrando na sala) foi indicado pelo presidente Mattarella (de costas) para tentar formar governo
Voto antecipado
Além da Liga, apenas o partido ultranacionalista Irmãos da Itália (FdI) defende a convocação imediata de eleições, hipótese que não agrada Mattarella.
Em seu pronunciamento na última terça (02/03), o presidente lembrou que países que foram às urnas registraram um repique nos casos de coronavírus – a Itália já tem a sexta maior taxa de mortalidade por covid-19 em todo o mundo – e que uma campanha eleitoral paralisaria a discussão de temas inadiáveis.
Entre outras coisas, o governo italiano precisa apresentar até abril o plano para utilização dos recursos do fundo de recuperação da União Europeia, do qual o país é o maior beneficiário, mas as eleições não poderiam ser realizadas antes de 60 dias após a dissolução do Parlamento.
Considerado o prazo necessário para homologação dos resultados e formação de uma maioria parlamentar, a Itália não teria um novo governo antes de maio. Além disso, o país ainda apresenta números preocupantes na pandemia do novo coronavírus – embora em queda – e precisa acelerar a campanha de vacinação para sair da crise sanitária.
“Manteríamos nosso país com um governo sem a plenitude de suas funções durante meses cruciais e decisivos para a luta contra a pandemia, para utilizar os financiamentos europeus e para fazer frente a graves problemas sociais”, declarou Mattarella.
Governos técnicos
Essa não é a primeira vez que o presidente tenta favorecer um governo técnico. Em maio de 2018, devido ao impasse nas negociações após as eleições daquele ano, Mattarella convocou o economista Carlo Cottarelli para montar um gabinete que guiasse o país ao menos até o ano seguinte.
Na época, M5S e Liga tentavam formar um governo de coalizão que tinha um professor antieuro, Paolo Savona, como ministro da Economia. Mattarella barrou a indicação do economista e, para pressionar os dois partidos a escolher outro ministro, encarregou Cottarelli como premiê.
No fim das contas, o M5S e a Liga acabaram cedendo e formaram uma coalizão que duraria até o segundo semestre de 2019, com Giuseppe Conte como primeiro-ministro.
O último governo técnico na Itália foi o do economista Mario Monti, convocado em novembro de 2011 pelo então presidente Giorgio Napolitano para conduzir o país no auge da crise do euro. O mandato de Monti, marcado por políticas de austeridade fiscal, incluindo uma reforma previdenciária, durou até abril de 2013.