A pesquisadora Melissa Cambuhy, que estuda o processo de desenvolvimento nacional chinês, disse nesta sexta-feira (05/02), em entrevista a Breno Altman, durante o programa 20 Minutos, que a China, devido à sua política de combate ao coronavírus, sai geopoliticamente bem posicionada da pandemia mundial.
Segundo Cambuhy, que é professora na Fundação Educacional Araçatuba (FAC), mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), isso se deve a dois fatos.
O primeiro se refere às medidas sanitárias adotadas pelo país durante um momento no qual havia poucas informações a respeito do vírus. A China pensou num plano nacional unificado para combater a disseminação do vírus, por exemplo isolando a cidade de Wuhan. O segundo, às medidas econômicas que garantiram a retomada das atividades do setor produtivo já em maio do ano passado.
Reveja a entrevista:
“A China foi a única economia mundial que cresceu 2,3% durante a pandemia graças à retomada econômica precoce. O país segue na disputa pela hegemonia do comércio e economia mundiais”, diz Cambuhy.
Nova dinâmica China e EUA, após a eleição de Joe Biden
Para fazer frente aos esforços chineses estão os Estados Unidos. A corrida da vacina, por exemplo, é uma das áreas de disputa entre os dois países, segundo a professora. Apesar do exemplo recente, os esforços não são de hoje: há anos a China vêm buscando estabelecer relações de ganho mútuo com países da América Latina, África e a Rússia para combater a hegemonia estadunidense.
No entanto, Cambuhy afirma ser muito cedo para avaliar como essa dinâmica será afetada pela ascensão de Joe Biden. “Biden está sinalizando que realizará grandes investimentos, inclusive em inovação; anunciou o aumento em 100% do salário mínimo, que obviamente vão se desdobrar nessa dinâmica com a China e no comércio internacional. Mas ainda está em aberto como essa mudança na política econômica nacional dos EUA vai se desdobrar a nível internacional e como ele vai se posicionar em relação à China”, pondera.
A disputa pela tecnologia 5G
Outro fator a interferir nessa polarização é a tecnologia 5G: “Sem 5G não existe indústria 4.0”, diz a pesquisadora. Segundo ela, a tecnologia é essencial para ter acesso às novas inovações que irão gerar um aumento na produtividade e no valor agregado do que será produzido daqui em diante.
“Sem 5G não dá para acessar o que está na fronteira da tecnologia, que, por sua vez, tem uma incidência direta na sofisticação produtiva. E a China já está na elaboração do 6G”, afirma.
Atualmente, a empresa chinesa que lidera o setor é a Huawei.
Neste novo cenário, existe imperialismo chinês?
“Para mim, não”, declara. Ela afirma que existe um projeto de inserção internacional no âmago da política chinesa, porém, que afirmar que isso seria uma iniciativa imperialista “soa absurdo”.
“A realidade concreta é que, enquanto os EUA têm uma série de bases militares mundo afora para conseguir de alguma forma exercer uma pressão política, a China tem um montante gigantesco de investimentos no exterior mas com uma ação completamente desproporcional de bases militares”, afirma.
Isto não significa, no entanto, que não haja contradições ou interesses por trás dos investimentos chineses, mas afirma que “todos os processos são contraditórios. Esse ponto não se sustenta e tal simplificação prejudica a nossa análise”, conclui.