O ex-presidente do Partido dos Trabalhadores e ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff Ricardo Bezoini disse nesta sexta-feira (12/02), em entrevista a Breno Altman, durante o programa 20 minutos, que o PT hoje tem uma aparência mais parlamentária e eleitoral do que de organização popular.
“Um partido operário tem que ter a luta dos trabalhadores como principal força motriz. A atividade parlamentária é fundamental, ajuda a mostrar pedagogicamente as possibilidades e limites do estado burguês, mas a principal característica do partido tem que estar na luta de base. Isso não pode se perder”, defendeu.
Assista à entrevista na íntegra:
Segundo Berzoini, essa distorção dos objetivos originais do PT ocorreu quando a legenda adotou uma política de ampliação de alianças, que incluía mudanças programáticas, durante os anos 90 para poder se tornar uma alternativa de poder. “E foi uma opção correta” que, para ele, permitiu ampliar a capacidade de atuação do partido e gerar resultados eleitorais, mesmo “apanhando da imprensa e sem ter a estrutura que os partidos liberais tinham”.
No entanto, ao ganhar o governo, o partido se dedicou exclusivamente a governar, esquecendo-se do trabalho de base. “Toda a energia [do PT] foi para governar e esse foi um erro elementar. Um governo tem que dar a mesma energia para o trabalho governar e para a construção partidária. Porque, como consequência, acho que muita gente que se filiou ao PT durante os governos Lula e Dilma, se filiou muito mais pela questão eleitoral do que pela luta de classes”.
Golpe de 2016
Para Berzoini, a falta de investimento na organização de base fez com que o golpe contra Dilma encontrasse pouca resistência. “Por que um governo que fez tanto pelo povo não teve apoio? Um dos motivos foi porque o aparato da mídia comercial estava intocado. Era preciso a regulação da mídia, algo que não se faz sem apoio popular e com minoria parlamentar. E por isso nós não fizemos”, disse o ex-ministro afirmando que também houve uma “frouxidão organizativa”.
Segundo o ex-presidente, organizações populares, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), não trabalham a militância atualmente. “Fazer reunião não é militar, reunião é preparação para a militância. Militância são as atividades de mobilização e enfrentamento”, reforçou.
“E o Brasil tem um histórico de golpes”, relembrou mencionando Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. “Tivemos ilusões de que a democracia brasileira estava estabilizada”.
Reestruturação do PT
Diante dessa “frouxidão organizativa”, Berzoini argumentou a favor de uma reestruturação vertical do partido. Usando de exemplo a política de Deng Xiaoping, na China, afirmou que, se o PT quer retomar suas origens e se fortalecer para voltar a enfrentar a direita, é preciso uma organização verticalizada, “no bom sentido: de cima para baixo e debaixo para cima, com controle”.
No entanto, para que essa restruturação funcione e não vá contra os princípios leninistas do PT, Berzoini defende a transparência. “Não pode ser um vertical que é 99% de cima para baixo e 1% de baixo para cima. O PT não pode ser vítima daquilo que sempre denunciamos, o clientelismo e assistencialismo dentro do partido. Os mandatos devem ser colocados à serviço do partido”, concluiu.