A Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) enviou nesta quinta-feira (25/02) um pedido de avaliação ao Comitê de Ética do Banco Mundial em relação à conduta “antidemocrática” do diretor-executivo Abraham Weintraub.
Segundo os juristas, o ex-ministro da Educação endossou as declarações do deputado federal Daniel Silveira contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o estado democrático brasileiro. Nesse sentido, a associação solicita que o caso seja encaminhado ao Comitê, “a fim de que se delibere sobre a aplicação de sanções disciplinares cabíveis”.
A ABJD aponta que a comemoração de Weintraub em relação ao vídeo de Silveira é de “natureza grave”, pois “abala as estruturas democráticas do Brasil, com reverberação e impacto em toda a América Latina, dada a posição político-econômica que o país possui”.
“As sociedades devem prezar pela observância, valorização e defesa de suas instituições e do Estado Democrático de Direito. Nenhum cidadão, independentemente de sua origem ou de sua condição, – no caso parlamentar – pode se sentir autorizado a atacar garantias fundamentais que asseguram liberdades individuais e coletivas”, disse a associação.
O pedido encaminhado afirma ainda que esta não foi a primeira vez que o diretor-executivo do Banco Mundial desfere ataques às instituições do Brasil.
Ainda como ministro da Educação, Weintraub “desqualificou os Ministros do Supremo Tribunal Federal, chamando-os de vagabundos que deveriam ser encarcerados”, mostrando, segundo a ABJD, “seu pouco apreço pela ordem constitucional democrática e pela democracia”.
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Ex-ministro da Educação endossou as declarações de Daniel Silveira contra o STF e o estado democrático brasileiro
“Observando o Código de Conduta para Funcionários do Conselho do Grupo Banco Mundial, tem-se por dever do diretor manter os mais altos padrões de integridade e ética em sua conduta pessoal e profissional; agir de acordo com os valores fundamentais do Grupo relativos à integridade e respeito; manter os interesses do Grupo acima dos interesses pessoais; além de evitar conduta que possa trazer à organização descrédito ou situação de desconforto”, afirmam os juristas.
Leia nota na íntegra:
No último dia 16 de fevereiro, o Brasil foi surpreendido com vídeo do deputado federal Daniel Silveira, do Rio de Janeiro, proferindo graves ofensas contra os ministros do Supremo Tribunal Federal, incitando a violência contra o Poder Judiciário, realizando apologia ao Estado de Exceção, insuflando as Forças Armadas a irromperem contra o estado democrático.
Em resposta à insidiosa ação, a Suprema Corte do país determinou, de pronto, a prisão em flagrante do parlamentar, sem direito a fiança, nos termos da Constituição, em decisão monocrática que foi confirmada pela unanimidade da Corte no dia 17 de fevereiro.
Em meio à estupefação com o brutal ataque à democracia, o ex-ministro de Estado da Educação do Brasil e atual diretor-executivo do Banco Mundial, Abraham Weintraub, veio a público noticiar sua comunicação por mensagem com o deputado preso, congratulando-o pelo vídeo criminoso divulgado, notícia que ganhou destaque nos mais diversos canais de imprensa e redes sociais do país: https://revistaforum.com.br/politica/weintraub-que-ja-pediu-prisao-de-ministros-do-stf-elogiou-video-que-provocou-prisao-de-daniel-silveira/.
As sociedades devem prezar pela observância, valorização e defesa de suas instituições e do Estado Democrático de Direito. Nenhum cidadão, independentemente de sua origem ou de sua condição, – no caso parlamentar – pode se sentir autorizado a atacar garantias fundamentais que asseguram liberdades individuais e coletivas.
O Banco Mundial, por sua posição econômica e papel social, seguramente comunga de princípios e valores democráticos, sendo certo que o compromisso com a defesa dessas conquistas é necessário ao exercício e existência de qualquer entidade da sociedade civil ou instituição internacional do alcance do Banco Mundial. O ataque, grave e ostensivo contra a Suprema Corte do Brasil, assim como contra princípios e valores democráticos, configura-se como um ataque a todas as instituições e as democracias do mundo, inclusive violando abertamente a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).
A manifestação de endosso do ex-ministro e atual diretor executivo desta instituição às declarações do parlamentar, que resultaram em sua prisão, é fato de natureza grave, pois abala as estruturas democráticas do Brasil, com reverberação e impacto em toda a América Latina, dada a posição político-econômica que o país possui.
Importante acrescentar que a conduta do diretor e ex-ministro Abraham Weintraub é reiterada. Como ocupante do cargo de Ministro da Educação no Brasil desqualificou os Ministros do Supremo Tribunal Federal, chamando-os de vagabundos que deveriam ser encarcerados, demonstrando, de forma reiterada, seu pouco apreço pela ordem constitucional democrática e pela democracia.
Observando o Código de Conduta para Funcionários do Conselho do Grupo Banco Mundial, tem-se por dever do diretor manter os mais altos padrões de integridade e ética em sua conduta pessoal e profissional; agir de acordo com os valores fundamentais do Grupo relativos à integridade e respeito; manter os interesses do Grupo acima dos interesses pessoais; além de evitar conduta que possa trazer à organização descrédito ou situação de desconforto.
Restando evidente que a conduta do diretor-executivo Abraham Weintraub comporta flagrante violação a esse Código, a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS JURISTAS PELA DEMOCRACIA (ABJD) requer de Vossa Senhoria que o caso seja levado ao Comitê de Ética do Grupo Banco Mundial, a fim de que se delibere sobre a aplicação de sanções disciplinares cabíveis, nos termos dos regulamentos e normativos que são próprios e aplicáveis ao caso.
São Paulo, 25 de fevereiro de 2021.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS JURISTAS PELA DEMOCRACIA – ABJD