No programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (03/03), o jornalista Breno Altman entrevistou Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores e deputada federal pelo estado do Paraná. Durante a conversa, ela falou sobre a importância de ir à rua e estabelecer contato com outros partidos para fazer frente a Bolsonaro.
Para Hoffmann, em um primeiro momento, o importante é somar forças. “Todos que se colocam em uma posição crítica a Bolsonaro temos que procurar para conversar. Ainda que a gente não esteja de acordo em tudo, temos que fazer esse esforço”, insistiu, ressaltando que o “bloco na rua”, iniciativa anunciada pelo ex-prefeito paulistano, Fernando Haddad, não é um movimento eleitoral, mas um esforço para enfrentar o atual governo e suas políticas.
“Queremos mostrar para o Brasil que o PT tem um plano de reconstrução e transformação social. É importante, então, agregar forças dentro dessa lógica, mas não necessariamente buscando alianças eleitorais”, explicou a deputada. A partir desse argumento, Hoffmann justificou a visita de Haddad a Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte pelo PSD, cujo nome ganhou relevância por seu combate ao novo coronavírus e oposição ao presidente Bolsonaro.
Assista à entrevista na íntegra:
Do ponto de vista eleitoral, no entanto, ela foi taxativa. “A prioridade do PT é construir a unidade da esquerda. Mesmo que não leve a uma aliança eleitoral no primeiro turno, podemos reorganizar essas forças políticas no segundo turno, contra Bolsonaro”, ressaltou.
Ressaltou que o PT é, para ela, o partido com maiores condições de oferecer um nome de peso, na esquerda, para disputar as eleições, mas que, de momento, o importante é discutir um projeto com a esquerda e com a centro-esquerda, “independente de nomes”. Fez questão de destacar: “não pode haver imposição do nome de ninguém, nem vetos”. Não descartou nem mesmo a hipótese do PT abrir mão da cabeça de chapa.
Hoffmann mencionou a importância da participação, nesse processo, de líderes como Lula, Haddad, Flávio Dino, Guilherme Boulos e até Ciro Gomes. “Tenho visto boa vontade. Não por parte do Ciro, ele disse que quer combater o PT, mas acho que até ele poderia fazer parte se tiver mesmo um compromisso com o país, porque o projeto dele é muito semelhante ao nosso. É contraditório que ele queira fazer alianças com setores contrários a esse projeto”, afirmou.
Diante de tantas alternativas de liderança e a possibilidade de que os direitos políticos de Lula não sejam restituídos, a deputada ponderou sobre uma possível fragmentação da esquerda que resultaria num segundo turno disputado pelas direitas. Ela admitiu que Lula é a grande liderança capaz de unir o campo progressista.
‘Fomos muito jovens para o governo’
Avaliando a trajetória política do partido, ela considera que foram “muito jovens para o governo”, considerando que a legenda tinha apenas 22 anos de vida quando Lula foi eleito pela primeira vez. “Fomos o primeiro governo democrático e popular da nossa história. Todas as nossas energias foram drenadas para dar resultado”, afirmou. Ela não avalia como negativo, entretanto, a política de alianças do PT, que possibilitaram sua vitória em 2002.
“Se não tivéssemos feito isso, teríamos chegado aonde chegamos?”, questionou. Para ela, o PT fez o que era necessário para conquistar o governo central e aplicar seu projeto.“ Mas claro que subestimamos várias coisas”, admitiu. Reconhecendo que foram deixadas de lado reformas estruturais, ressaltou o sucesso das políticas públicas. “Se olhar pra trás, digo que valeu muito a pena porque, com todos os problemas, mostramos que era possível mudar a vida do brasileiro”, enfatizou.
O golpe de 2016
Para Hoffmann, uma das maiores falhas do PT, enquanto esteve no governo, foi a de não se dedicar o suficiente para o trabalho de organização e conscientização popular. “Não digo que tínhamos ilusões sobre o comprometimento democrático da burguesia, mas achávamos possível nos aliar a ela, só que isso não vingou. A burguesia nunca teve um projeto nacionalista”, disse.
Esses dois fatores somados foram o que, para ela, fez com que o golpe de 2016 contra a presidente Dilma Rousseff fosse bem sucedido. “Quando veio o mensalão, acho que nem todo o mundo percebeu a dimensão daquilo para tentar desestabilizar o PT. E com relação à organização popular, a avaliação era que simplesmente fazendo bons programas e melhorando a realidade da população a gente ia gerar uma consciência do que significava um governo democrático popular, mas isso não aconteceu”, explicou.
Programa de reconstrução e transformação
Apesar da tragédia que foi o golpe, Hoffmann avalia que a experiência deu ao PT força e resiliência. Segundo ela, outros partidos não teriam sobrevivido à perseguição que sofreu o PT, e que de certa forma ainda sofre.
Hoje, ela considera que o programa do partido deve ser mais avançados do que em relação à 2002, sobretudo na economia. A deputada mencionou o programa do PT, de reconstrução democrática e transformação do Brasil. Não é um plano de governo, segundo ela, por não incluir ainda pontos cruciais como o do combate à tutela militar do Estado, mas poderia influenciar sua formação.
Um dos principais temas que o programa aborda é o das amarras fiscais ao Estado, que o deixam “refém do mercado e de pagamento de dívida”. “A capacidade do Estado de intervir no processo econômico determina o desenvolvimento do país. Vai ser recuperar o que estão destruindo, mas é algo que precisamos fazer. Inclusive quebrar o mito de que Estado quebra e que então não tem dinheiro para programas sociais e tudo precisa ser privatizado”, disse.
Além de uma nova gestão fiscal, o partido propõe uma reforma tributária, pois a atual é regressiva, penaliza os mais pobres e o consumo. “O Brasil não cobra imposto sobre dividendos e lucros. Os ricos pagam menos. Só é isento do Imposto de Renda quem ganha até R$1.900,00, isso é menos de dois salários mínimos. É muito cruel”.
A reforma do sistema bancário e financeiro, um dos carros chefes de Fernando Haddad durante as eleições de 2018, é outro ponto. “Há quatro bancos que controlam tudo e uma taxa de juros absurda. Não entro na questão de nacionalização, mas precisamos democratizar o sistema bancário”, ressaltou Hoffmann.