Em seu primeiro discurso à frente do Ministério das Relações Exteriores, o novo chanceler brasileiro, Carlos França, falou em ‘construir pontes’ e abrir novos caminhos diplomáticos com outros países. A fala foi feita nesta terça-feira (06/04) em cerimônia de transmissão de posse fechada no Itamaraty.
O tom de seu discurso contrasta com a postura adotada pelo ex-ministro Ernesto Araújo, que chegou a hostilizar a China diversas vezes e afirmar que o nazismo era “de esquerda” quando esteve à frente do Itamaraty.
“Meu compromisso, enfim, é engajar o Brasil em intenso esforço de cooperação internacional, sem exclusões. E abrir novos caminhos de atuação diplomática, sem preferências desta ou daquela natureza”, afirmou França.
O novo chanceler ressaltou o papel do diálogo multilateral na diplomacia do país e disse que “o Brasil sempre foi ator relevante no amplo espaço do diálogo multilateral. Isso não significa, como é evidente, aderir a toda e qualquer tentativa de consenso que venha a emergir, nas Nações Unidas ou em outras instância”.
A gestão de Araújo foi marcada por alterações na dinâmica das relações internacionais brasileiras. Por tradição, o Brasil sempre atuou como mediador em diversas questões importantes, com bastante pragmatismo, sem ter um alinhamento automático com nenhum país.
Gustavo Magalhães/MRE
Novo ministro fala em diálogo e sobre ‘construir pontes’
Durante o período em que o ex-chanceler comandou o Ministério, o país passou a se alinhar automaticamente com os Estados Unidos e adotou posturas hostis inéditas como no caso dos palestinos, do fim das patentes para as vacinas contra a covid-19 com a Índia ou ainda de votar pela primeira vez contra o fim do bloqueio a Cuba na ONU.
Para França, “outro lugar onde o diálogo se impõe é a nossa vizinhança”. “Os acordos nucleares do Brasil com a Argentina, por exemplo, que já têm mais de três décadas, são símbolos do predomínio da cooperação sobre a rivalidade. O Mercosul, que também completa três décadas, representa uma etapa construtiva da integração com nossos vizinhos. E é preciso ir além, abrindo novas oportunidades”, pontuou.
Pandemia e meio ambiente
Ao falar de emergência sanitária da covid-19, Carlos França disse que “o brasileiro quer vacina e quer emprego”, mas mencionou uma pretensa “modernização” na economia brasileira.
Segundo o chanceler, submeter o país “aos mais elevados padrões de políticas públicas” justificaria o relacionamento mais estreito com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Não há modernização sem abertura ao mundo”, afirmou.
No eixo ambiental, França falou em colocar o Brasil em uma “vanguarda do desenvolvimento sustentável e limpo'', ressaltando a existência do Código Florestal, que, para ele, “é das legislações mais rigorosas do mundo”. Nesse quesito, sua fala contrasta com as ações do governo de Jair Bolsonaro, que foram duramente criticadas pela comunidade internacional na questão do desmatamento na Amazônia e no Pantanal.